spoiler visualizarfumarncama 05/05/2023
?Então, você está morto e não sabe.?
É um livro bom, mas logo percebi que não seria o meu favorito de Hemingway.
Todavia, o que mais prendeu a minha atenção foram os paralelos que o autor traçou com sua própria vida e situação pessoal e os diálogos que muito provavelmente aconteceram com o próprio na vida real. Por exemplo:
?? Já leu meus livros? ? perguntou Richard Gordon.
? Li.
? Não gostou deles?
? Não.
? Por quê?
? Prefiro não dizer.
? Vamos, diga!
? Achei que eram uma merda! ? respondeu o homem alto, afastando-se.?
E não apenas esses, mas as passagens mais mórbidas também parecem reflexões e pensamentos da cabeça do próprio Hemingway, isso fora da ficção. Em 1961, Gabriel García Márquez escreveu sobre o suicídio de Ernest Hemingway, ele dizia que ?Hemingway não parecia pertencer a raça de homens que se suicidam? e que isso era perceptível através dos personagens das obras dele, mas só nesse livro é possível perceber que algo muito pesado já se passava na cabeça do autor... Por exemplo...
?Dessa maneira, Henry Carpenter adiou seu previsível e inevitável suicídio por um período de semanas, se não de meses.?
?No fim, Harry apenas estava cansado de viver, pelo que me disse o médico.?
?Basta apenas a gente ficar morta por dentro e tudo se torna mais fácil. Basta ficar morta, como a maioria das pessoas é na maior parte do tempo.?
E o trecho que me pareceu que o Hemingway estava se retratando da forma mais crua possível:
?E lá estava ele agora, deitado com seu pijama de seda listrada que lhe cobria o peito murcho e a pequena barriga inchada, seus órgãos genitais que já haviam sido motivo de orgulho e agora eram inúteis e desproporcionalmente grandes, suas pernas pequenas e flácidas. E lá estava ele deitado numa cama, incapaz de dormir, porque finalmente o remorso começara a dominá-lo (...) Ficou deitado, portanto, pensando naquilo, e finalmente dormiu; mas, como o remorso já havia encontrado o caminho de entrada e começara a aprofundar-se, não sabia realmente que estava dormindo, pois seu cérebro mantinha-se trabalhando como se ele ainda estivesse acordado. Assim, não teria descanso algum e, na sua idade, não demoraria muito tempo para que aquilo acabasse liquidando com ele (...) Ele costumava dizer que apenas os tolos se preocupavam e, agora, evitava preocupar-se, enquanto não chegasse ao ponto de não conseguir mais dormir. Podia evitar preocupações, e até dormir, mas, logo em seguida, o fantasma surgiria.?