Atlas de Nuvens

Atlas de Nuvens David Mitchell




Resenhas - Atlas das Nuvens


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Euflauzino 09/08/2017

A conexão do universo em inúmeras vidas

É, no mínimo, desumano colocar em apenas uma resenha tudo o que há em Atlas de nuvens (Companhia das Letras, 542 páginas) do sensacional David Mitchell, livro que lhe valeu o British Book Awards e a nomeação ao Man Booker Prize.

Mas nem só de prêmios e indicações vive um livro, ainda mais quando se é cultuado por todos os leitores que apreciam a boa escrita. Podemos dizer que ele é sucesso de crítica e público. Como se isso não bastasse, criou-se uma lenda de que o mesmo seria “infilmável”, por sua complexidade e longevidade do enredo (parte do século XIX até um distante futuro pós-apocalíptico). Isso acabou se mostrando um equívoco, já que o mesmo tornou-se filme em 2012, trazendo no elenco uma turminha de peso – Tom Hanks, Halle Barry, Hugh Grant, Susan Sarandon entre outros (ainda não assisti, mas já está lá reservado, tenho pena de quem foi obrigado a roteirizar e dirigir um livro desta envergadura).

Ainda antes da leitura eu já havia me apaixonado pelo título e pelo belíssimo trabalho de edição da Companhia das Letras (o livro possui uma luva estilizada muito bacana). Ficava aqui imaginando o porquê deste nome e sempre me vinha à mente inúmeras demarcações territoriais que iam se desvanecendo ao sabor dos ventos. Louco isso, não é? Mas não consegue abarcar nem uma ínfima parte desta história em que pontos se chocam, se interligam, se complementam, formando continentes que se desmancham.

Então vamos ao livro. Ele é dividido em seis partes distintas, seis narrativas em uma, como um prisma de cores ao contrário, que tentaremos resumidamente atacar. Em algum momento as histórias irão de alguma forma se tocar. Terá início no século XIX e seguirá cronologicamente até um futuro terrível, depois retornará no tempo até chegar onde se deu o início da narrativa. A estrutura é mesmo complexa, espero que não nos percamos.

Diário de viagem ao Pacífico de Adam Ewing

Esta é a parte mais lenta do livro e pode afugentar um leitor em busca de aventura desde o início. Em 1850, o advogado Adam Ewing registra em um diário sua viagem através do Pacífico. Em uma parada para reparo do navio, ele se depara com o covarde açoitamento de um escravo.

“O selvagem supliciado levantou a cabeça até então caída, seu olho buscou o meu e dirigiu-me um olhar insólito e amistoso de entendimento mútuo... Perguntei qual era o crime de que o prisioneiro fora acusado. Henry enlaçou-me com o braço. ‘Venha, Adam, um homem prudente não se interpõe entre a fera e a presa.’”

Adam começa a questionar os valores da sociedade de então, ao mesmo tempo em que é acometido por uma moléstia que o enfraquece paulatinamente. Graças à ajuda de um médico que o acompanha na viagem, consegue manter-se vivo e escrevendo, mesmo diante de dúvidas que o afligem.

“Há tantas verdades quanto há homens. De vez em quando chego a vislumbrar uma Verdade mais verdadeira, escondida por trás de simulacros imperfeitos de si própria, mas, à medida que me aproximo, ela se move, mergulhando mais fundo no pântano agreste da cizânia.”

Cartas de Zedelghem

Momento romântico do livro. Em 1931, Robert Frobisher, um jovem músico bon vivant, procura um mecenas que o sustente. Deserdado pela família acaba por encontrar sua chance na residência de um famoso músico doente que o toma como copista.

“À sombra de uma fileira de pereiras – outrora um pomar? – deitei-me e entreguei-me ao ócio, uma arte que aperfeiçoei durante minha longa convalescença. Um ocioso e um vagabundo são duas coisas tão diferentes quanto um gourmant e um glutão.”

Sua estadia é relatada em cartas ao seu amante Sixmith de forma pormenorizada. O mundo está às voltas com o fantasma de uma nova Grande Guerra Mundial.

“As guerras nunca terminam por completo. O que é que desencadeia uma? A vontade de poder, espinha dorsal da natureza humana. A ameaça de violência, o medo da violência e a violência em si são os instrumentos dessa vontade terrível. A vontade de poder se manifesta na cama, na cozinha, nas fábricas, nos sindicatos e nas fronteiras entre países... as nações são entidades cujas leis são escritas pela violência...”

Mesclam-se a paixão pela música e os apetites da carne. O talentoso Frobisher se envolve emocional e sexualmente com esposa e filha do velho músico, a partir daí se dá sua derrocada. Sem dinheiro, rouba livros supostamente raros para vendê-los. Entre estes encontra o “Diário de Adam Ewing”, que passa a relatar ao amante, achando estranha a conduta do médico que cuida de Adam.

Meias-vidas – O primeiro romance policial da série Luisa Rey

A aventura entra em cena. Em 1975, a jornalista Luisa Rey se vê lançada no olho do furacão e tem a vida em risco quando, por meio de um relatório entregue pelo físico “Rufus Sixmith” (o amante e leitor das cartas de Frobisher), descobre uma grande conspiração em torno da criação de um reator nuclear. Realidade ou ficção?

“Eu disse ao grande homem: a chave da ficção de terror é uma divisão, uma separação; desde que o Bates Motel esteja isolado do nosso mundo, a gente tem vontade de olhar lá dentro, como quem olha pra dentro de uma jaula de escorpiões. Mas se um filme mostra que o mundo é um Bates Motel, bom, aí... estamos em Buchloe, é distopia, depressão...”

Seguindo o legado de seu famoso pai, também jornalista, Luisa Rey parte em busca da verdade e é perseguida por um assassino que quer calá-la.

“Não há droga, não há experiência religiosa que mexa com a pessoa como o ato de transformar um ser humano num defunto. Agora, para isso tem que ter cérebro. Sem disciplina e perícia, você acaba na cadeira elétrica.”

Luisa lê as cartas que Frobisher enviou a Sixmith para tentar compreender melhor o físico. Sua perigosa aventura é registrada em um romance policial.

site: Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2017/08/atlas-de-nuvens-david-mitchell.html
Thiago Valença 19/12/2017minha estante
Um dos livros que mais quero ler.




Paulo 11/06/2017

Ao ler Atlas de Nuvens, eu passava as páginas e me pegava sempre pensando: o que importa mais para fazer um bom livro? É a técnica de escrita empregada, são personagens que compõem a narrativa ou é uma boa história? O que salta aos olhos do leitor quando abre Atlas de Nuvens pela primeira vez é como David Mitchell é um monstro como escritor. Ele conseguiu criar seis narrativas distintas, interligadas e com estilos de escrita diferentes. Temos um diário de viagem, uma escrita epistolar em cartas, uma narrativa a la romance policial, um livro de memórias, uma entrevista e uma escrita descritiva. Todas muito distintas uma da outra. Se formos pensar que a escrita é o ponto definitivo para a composição de um bom livro, então colocamos David Mitchell ao lado de outros gênios como Murakami e Saramago que primavam pelo seu estilo único. Mas, Atlas de Nuvens não é só isso.

A cada mudança de história, eu sinto como se o autor tivesse me dado uma matrioshka de presente: aquelas bonecas russas que dentro elas tem outra boneca, que por sua vez abriga outra boneca e assim sucessivamente. As interconexões das histórias não estão apenas nos objetos ou recordações que aparecem em outras histórias. Não são só os Easter Eggs como o romance de Luisa Rey, o diário de Adam Ewing ou a rogativa de Somni. São os temas também. Se observarmos com um pouco mais de atenção, perceberemos que alguns temas se repetem em espaços de tempo bem longínquos. Eu fiquei em dúvida se dava 2 ou 3 corujas para a narrativa, mas quando me dei conta da repetição de temas eu percebi a real riqueza da história. Como os seres humanos repetem os mesmos erros do passado.

Antes de entrar na fala de cada narrativa, eu queria destacar o único ponto fraco ao meu ver no livro: os personagens. Eles não são memoráveis; apenas comuns. Nenhum deles me desperta alguma coisa no coração. Achei as histórias intrigantes e vale destacar que a última após o fim da civilização é a que eu mais gostei. Não apenas pelo jeito estiloso como o autor representa a fala de Zachry, mas a própria história em si. Ah, segue o alerta: não é uma história simples de ser lida. Exige bastante do leitor. Creio eu que a escrita de Mitchell que está o tempo todo mudando conseguiu me dar mais trabalho do que o livro de China Miéville. É uma leitura que precisa ser feita com calma, paciência e atenção.

O livro trabalha com uma imensidão de temas. Não vou trabalhar as histórias uma por uma porque essa não é a proposta do autor. Por exemplo, existe um grande debate sobre a escravidão e a condição humana presentes tanto na história de Adam Ewing como na de Zachry. Na primeira o autor demonstra como o seu trabalho de pesquisa foi intenso. A discussão sobre como a escravidão na Idade Moderna era terrível pode ser percebida através dos relatos dos marujos no Prophetess. O negro era tratado como um ser abaixo dos outros. Tem uma parte em que eles chegam a Nazareth e eles conversam com o missionário local. E o missionário dá um sermão que você, leitor, juraria que estava ouvindo de um nazista na Alemanha. Mas, tal não é. Isso porque os nazistas não criaram a ideia da superioridade étnica do nada. Desde o século XIX já havia um intenso debate em que estudiosos "sérios" adotaram a teoria darwiniana para estudar a sociedade. Eles acreditavam que os brancos arianos eram o topo da cadeia enquanto que as demais etnias se encontravam em degraus inferiores buscando seu espaço e usando como modelo a Europa. Esse debate permeou as pesquisas sociológicas iniciais com o contato com as comunidades da Oceania. Os primeiros sociólogos eram impregnados dessas ideias de evolução social. A escravidão retira a liberdade do indivíduo; o violenta da maneira mais vil. Outra cena muito forte é o das chibatadas nos escravos fugitivos. A dor não é apenas o de ter o seu corpo marcado e ferido, mas é o de saber que você está indefeso diante da violência de alguém com mais poder do que você. Este é o mesmo sentimento de Zachry quando vê sua família sendo morta e escravizada. Ele nada pode fazer para evitar aquilo. O que mais o abate foi o fato de ele ter se acovardado e se escondido enquanto tudo acontecia. Essa é uma marca que ficou em seu coração. De um lado temos pessoas que estão passando pela escravidão e do outro aqueles que ficaram para trás de algum modo. E outra mensagem ainda mais curiosa: seja no passado ou no futuro, o ser humano sempre vai desejar subjugar o mais fraco. Mesmo após a queda da civilização, um grupo de pessoas ainda busca escravizar o próximo para colocá-los sob seus desígnios. O que isso nos diz sobre a condição humana?

Outro tema que podemos conferir neste começo é o choque cultural presente tanto na história de Adam Ewing como no da pobre Sonmi. Ao fazer um estudo sobre os morioris nas ilhas do Pacífico, Adam fica sabendo o quanto sua cultura acabou desaparecendo, vítima das missões civilizatórias europeias do século XIX. Os povos do Pacífico tinham suas próprias crenças como no poder do vulcão, no contato com a natureza, na caça e na coleta. Todas crenças que merecem respeito, mas consideradas blasfemas pela Igreja. A própria dança da ula-ula, um simples ritual para receber convidados era vista com maus olhos. Esses povos precisaram abandonar as suas crenças, muitas vezes até pela força, para poderem se tornar mais "civilizados". Mas, afinal... o que é civilização? Se eu for pegar no dicionário, a definição que eu tenho ali é completamente diferente da que foi utilizada pelos pregadores. Já Sonmi tem em seu mundo da cafeteria todo o seu Universo. Quando ela sai dali, ela conhece todo um mundo novo repleto de formas e cores. Tudo o que ela achava que sabia, era apenas a ponta do iceberg. E aos poucos ela acaba precisando conhecer mais sobre o mundo. Em um outro espectro ela se descobre escrava dos homens que a criaram. Isso porque Sonmi é uma clone humana criada de forma a servir o resto da humanidade. Ela foi criada para trabalhar em uma lanchonete. Qualquer outro tipo de conhecimento se faz desnecessário. Aos poucos ela vai entendendo qual o valor que ela e suas iguais (as Yoonas, as demais Sonmis) tem para seus Vedores. Claro, existe um plot twist lá no final, mas até ali somos apresentados a um tema aterrador: e se os clones se tornarem nossos escravos de luxo no futuro? Usaremos uma justificativa alegando que eles são apenas objetos? Que eles não teriam alma? Não foi a mesma justificativa que a Igreja usou para os negros africanos na Idade Moderna? O que é diferente?

Também me surpreende a maneira extremamente natural como Mitchell trabalha personagens homossexuais. Frobischer é aquele típico "mulherengo", mas percebemos em suas cartas o quanto ele ama Sixsmith. Apesar de nunca termos no livro um diálogo entre ambos percebemos a afeição do protagonista pelo seu amado. Cheguei até mesmo a suspeitar da intensa amizade entre Adam e o doutor Goose. Em certos momentos, o autor deixa outra coisa implícita. E até mesmo a maneira como Frobischer acaba se relacionando com outra pessoa apenas para conseguir um dinheiro para mantê-lo em suas pesquisas sendo que à noite, ele se encontrava às escondidas com Jocasta. O autor trabalha também a violência sexual em alto mar. O jovem Rafael é violentado repetidamente por membros da tripulação do Prophetess que, sem uma distração a bordo, acabam se voltando para o jovem marujo que o único pecado era ter um rosto bonito. Por um lado, Mitchell apresenta uma bela relação entre dois homens que parecem se amar verdadeiramente, e do outro uma relação abusiva nutrida a partir de um vácuo sentimental ou apenas pela necessidade de ferir e agredir o próximo.

Outro tema interessante é o da memória. Na história de Timothy Cavendish temos um senhor de idade que busca ainda uma razão para continuar existindo em uma sociedade em que os mais velhos são apenas um fardo. Com toda a sua fala hiperbólica, Cavendish é apenas um senhor que ainda lúcido, apenas quer continuar a fazer o que ele sabe. Ele é colocado em um asilo e passa por todo um calvário lá dentro. Vemos como os mais velhos são entendidos dentro desse universo que são os abrigos para idosos. Existe toda uma série de rituais e situações demarcadas para estes senhores que, caso se revoltem, basta um remédio para deixá-los mais calmos. O leitor vai percebendo que eles são apenas indigentes e os abrigos são meros depósitos onde são guardados aquilo que não mais se deseja. Mas, será que paramos para pensar nos sentimentos dos que são deixados para trás. O tema da memória também está presente nas rogativas de Sonmi que são quase como evangelhos para as pessoas no futuro. Sonmi se tornou um ícone, alguém cujas palavras levam a iluminação e sanam as dúvidas em tempos de crise. O que ela deixou para trás como relato se torna imprescindível para a reconstrução da humanidade. Porém, seus relatos estão fragmentados então nem tudo consegue ser recuperado. E o mais curioso de tudo é que uma das coisas que mais deu alento a Sonmi durante sua estadia na Universidade foram os relatos de Cavendish. Segundo Sonmi, o dia em que ela estava em sue quarto olhando para o horizonte e assistindo à filmagem do calvário de Cavendish foi o momento mais feliz de sua vida. São pequenas coisas que acabam constituindo nossa memória de eventos passados.

O desenvolvimento tecnológico também é apresentado pelo autor. Na década de 70 a discussão sobre o bom uso da energia nuclear estava em voga. Porém, o que mais as pessoas viam era como usar a energia nuclear podia dar errado e causar males irreversíveis ao planeta. Assim foi com o desastre em Chernobyl uma década mais tarde. Mesmo com o máximo de cuidados possíveis, sabemos que o ser humano não é 100% preciso. E qualquer pequeno erro ao lidar com esse tipo de tecnologia é mortal. Na história de Luisa Rey vemos justamente como uma usina nuclear é construída mesmo com algumas checagens de segurança faltando. Um suborno aqui e outro ali fizeram com que alguns olhos fossem fechados. Quando Luisa precisa denunciar aquilo que estava descobrindo progressivamente, ela precisa lidar com o poder inescrupuloso de grandes corporações. Empresários que fazem tudo para enriquecer mesmo se eles estiverem colocando a vida de outros em risco. Mesmo se for necessário confundir um pouco as noções de moral. Se pararmos para pensar um pouco, não é o mesmo que usar clones como escravos de seres humanos? Quando nos referimos a tecnologia sempre imaginamos ela sendo utilizada por um fim humanitário. Mas, a maior parte das tecnologias é usada com fins bélicos. Em algum momento, alguma pessoa pensou em usar aquilo que parecia algo para favorecer a humanidade, como uma arma para alcançar a dominação.

Consigo pensar ainda em mais uns três ou quatro assuntos a mais tratados pelo autor. Mas acredito que a minha resenha já deva ter feito vocês se interessarem pelo livro. Eu esperava que o livro fosse algo muito bom, mas ele superou as minhas expectativas. Foi sim uma das minhas melhores leituras do ano, não apenas porque o autor deu uma aula de escrita criativa, mas porque ele mostrou para mim como trabalhar temas pesados de uma maneira natural. A maneira como as histórias se entrelaçam umas nas outras não está presente apenas nos Easter Eggs, nos objetos que passam de uma história para outra, mas nos temas abordados. A riqueza de Atlas de Nuvens está onde você menos imagina. E quando você reflete por 30 segundos sobre aquilo que você leu, você se dá conta do amplo espectro de tudo o que foi dito em pouquíssimas páginas.
Se eu recomendo? Hell... recomendo e muito. Só que, como disse acima: não é uma leitura que vá agradar a todos. É uma leitura reflexiva, acima de tudo.

site: www.ficcoeshumanas.com
Vanderley Batista 20/07/2017minha estante
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Paulo 21/07/2017minha estante
Não entendi o comentário.


Vanderley Batista 21/07/2017minha estante
Perdão. Foi meu corretor ortográfico. Nem vi que tinha comentado.


Paulo 21/07/2017minha estante
Tranquilo!! :)




@APassional 18/02/2017

* Resenha por: Rosem Ferr * Arquivo Passional
Seis impressionantes histórias... Não se deixe enganar pela erudição das primeiras páginas, você está diante de uma leitura fascinante. O autor britânico David Mitchell entrelaça seis histórias no espaço-tempo ambientando-as em épocas distintas, numa mescla de física quântica e sincronicidade saltamos entre realidades. No entanto a busca de suas personagens, mesmo aparentemente apartadas, fricciona “a essência” da humanidade, fato pelo qual elas ao mesmo tempo que equidistantes se completam, ao passo que se diferenciam se igualam e mesmo que possa parecer complexo, esse contexto no decorrer da leitura torna-se fluído, simples e fatal, pois somos ao final literalmente tragados pela emoção e tudo fica claro. (...) Sensacional! Para ler e reler!

Confira a resenha completa no blog Arquivo Passional.

site: http://www.arquivopassional.com/2017/02/resenha-atlas-de-nuvens.html
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Pri 15/11/2016

{Resenha} Atlas de Nuvens - Blog As meninas que leem livros
Se quer um livro que te dá muito o que pensar, esse é um dos que podem estar na lista.

No começo, achei meio confuso.

O relato é de Adam Ewing e seu encontro com indígenas em uma viagem ao Pacífico. Ele, um tabelião dos Estados Unidos que foi a Austrália em uma missão. Depara-se com a estranheza daquele povo e também com sua... Magnitude. Aprende um pouco sobre a cultura local, como a civilização branca os atingiu. Além de serem escravos dos brancos, são inferiores a outra tribo indígena e os brancos sentem que está tudo bem. Melhor para eles se todos desaparecerem. Desde que, é claro, ainda restem escravos para lavar suas roupas, fazer sua comida e cuidar de todo o trabalho que não querem fazer.
[...]
Continue lendo no blog!

site: http://www.asmeninasqueleemlivros.com/2016/11/resenha-atlas-de-nuvens.html
Le 01/01/2017minha estante
Quando assisti ao filme, fiquei angustiada por vários dias. Procurei saber mais sobre o autor da história e, na época, muito frustrada, pois a editora recém havia adquirido os direitos para publicação no Brasil. O tempo passou e eu "quase" esqueci. Mas, comprei o DVD, porque precisava de respostas que ficaram em aberto. Eis que, há três meses, um amigo me presenteou com o tão esperado livro. Ele está na estante, provocando, desafiando-me a não esperar pelas férias. Agora que li essa fantástica resenha, não tem como adiar.




Jeff.Rodrigues 14/11/2016

Livros que entrelaçam histórias distintas não são novidade na literatura, mas David Mitchel conseguiu ir além com seu Atlas de Nuvens, o que torna a leitura desta obra uma experiência única que vai mexer com quem por ela se aventurar. Não à toa, o livro foi classificado como um clássico da literatura contemporânea.

Atlas de Nuvens traz seis histórias que se passam em diferentes épocas do passado, presente e futuro. Embarcamos num navio em pleno século XIX para acompanhar o advogado Adam Ewing através das páginas de seu diário. Este diário é lido com imensa curiosidade por Robert Frobisher, músico que se torna amanuense de um consagrado compositor. Robert conta sua rotina em busca de dinheiro e fama em cartas enviadas ao amor de sua vida, Sixsmith. Ao investigar supostos problemas em uma empresa de energia nuclear, a jornalista Luisa Rey conhece o cientista Rufus Sixsmith e após um revés, acaba recebendo documentos e as cartas escritas por Robert e guardadas com carinho por Sixsmith. A investigação de Luisa rende um livro de mistério, jamais publicado. Chegando aos dias atuais, conhecemos o editor Timothy Cavendish que está em apuros fugindo de bandidos. Ao ser enganado pelo irmão, ele termina internado em uma casa de repouso para idosos. Entre tentativas de fuga e cenas cômicas, Timothy se dedica à leitura dos originais de um livro, escrito décadas atrás por Luisa Rey. O mundo evolui, a tecnologia atinge o ápice, e uma clone, Sonmi, acaba se desviando de sua programação e desenvolvendo capacidade de pensamento e questionamento da realidade. Em meio a revoltas contra a ordem estabelecida, a distração de Sonmi acaba sendo um velho filme que conta as desventuras de um editor chamando Timothy Cavendish. A evolução acaba trazendo o caos, e no mundo que voltou ao primitivismo, Zachry e sua tribo vivem da caça, plantio, criação de ovelhas, e culto à deusa Sonmi.

Resenha completa no Leitor Compulsivo ou no link abaixo:


site: http://leitorcompulsivo.com.br/2016/11/13/resenha-atlas-de-nuvens-david-mitchel/
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Michel 26/10/2016

Fraco e confuso
O livro foi uma completa decepção. David Mitchell se perdeu totalmente na história. Esperava um livro excelente, como Os Mil Outonos de Jacob de Zoet, que gostei muito.
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Mari Siqueira 06/10/2016

Complexo e genial, uma impecável obra de arte!
Uma obra única, Atlas de Nuvens é, sem dúvida, uma leitura inesquecível. Não é apenas um dos melhores livros que eu já li na vida, é, de fato, o melhor. A forma como David Mitchell interliga as vidas de seis estranhos em épocas distintas e de diferentes maneiras é nada menos que genial. A adaptação cinematográfica - igualmente brilhante - não fica atrás e emociona com um toque de romantismo a história original. Destaque também para Paulo Henriques Britto que fez um excelente trabalho em uma obra de dificílima tradução.

As tramas complexas e intrincadas que unem ações e suas consequências ao longo do tempo são narrada de seis diferentes maneiras e sua ordem faz parte de uma engenhosa sequência escrita por Mitchell. Utilizando gêneros textuais característicos e diretamente relacionados às épocas das histórias narradas, o autor compõe uma bela sinfonia ao fazer com que eles se complementem como uma escala musical.

A música é parte fundamental da compreensão de Atlas de Nuvens, aliás, o sexteto de Cloud Atlas, que dá nome ao livro, está presente em toda a narrativa - desde a estruturação do romance até a diagramação e também na belíssima capa brasileira da obra. O romance de seis protagonistas é uma clara alusão a um sexteto, que necessita de seis diferentes instrumentos para sua completa harmonia.

Adam Ewing é um jovem advogado que escreve em seu diário os acontecimentos de uma importante viagem. Seu diário é lido por Robert Frosbisher, um músico depressivo que busca ser reconhecido por suas composições, ele se comunica com seu amante, Sixmith, por meio de cartas. Essas cartas são lidas por Luisa Rey, uma jornalista e escritora que investiga uma organização corrupta e poderosa, seus relatos sobre o caso são compilados em forma de romance. O romance de Luisa Rey é lido por Timothy Cavendish, um atrapalhado editor que busca nos originais recebidos uma obra digna de sua publicação. A cômica história de Cavendish se torna um filme - ou um disney - e é assistido no futuro pela jovem Somni 451. Somny é uma fabricante, uma espécie de clone criado para servir os "seres humanos". Sua função foi delimitada muito antes de sua existência, mas ela rompe todos os paradigmas de sua raça ao ousar pensar e questionar sua própria vida. Sua história e coragem de destruir todo um Sistema de escravidão a tornaram uma heroína e, posteriormente, uma deusa. A deusa Somni é venerada num futuro pós-apocalíptico por Zachary, um camponês humilde que é desafiado a pensar questionar suas próprias crenças e tentar compreender o mundo com outros olhos.

Todas as histórias, exceto a de Zachary que é o ápice da narrativa, são contadas em duas partes e essa estruturação - a qual me referi no começo da resenha - forma uma espécie de escala conectando uma história à outra. O livro começa e termina com Adam Ewing e como no ciclo infinito da vida, David Mitchell ressalta a relação entre nossas ações e suas consequências, um ciclo cármico que mantém o equilibro e a harmonia.

Um dos elos mais fortes que une todas as histórias é o desejo por liberdade. Cada um dos protagonistas se encontra escravo de algum tipo de situação, afinal, a liberdade é um conceito ainda tão etéreo quanto as nuvens.

A linguagem empregada pelo autor se adapta ao tempo e tipo específico de narração e, especialmente nos tempos futuros, revela as predições dos linguistas. O conceito de que a linguagem tende a ser compactada e modificada com o tempo fica bem evidente com o declínio da sociedade na história de Zachary. A gramática normativa - ou formal - dá lugar ao discurso oral onde não existem regras, apenas a comunicação em si. É como se nosso fim fosse nos fazer retornar aos nossos primórdios e temos novamente a imagem de um ciclo ao qual estamos destinados.

O destino é uma força mística muito presente em Atlas de Nuvens, não de uma forma determinante como se tudo já estivesse previamente determinado nas estrelas. Pelo contrário, o atlas de nuvens seria uma representação do destino, um mapa com cada uma das nossas escolhas sobrepondo-se em diferentes eras, diferentes vidas.

Uma obra de arte, Atlas de Nuvens traz uma compreensão única do mundo e da vida. David Mitchell nos mostra que somos protagonistas em nossa própria vida, mas apenas coadjuvantes no grande plano. Somos tão diferentes quanto iguais e lutamos por liberdade. Repleto de metáforas e escrito com maestria por um gênio da literatura e amante da filosofia, este é um livro que ousa nos fazer levantar os olhos para ver nas nuvens o passado e o futuro.

site: http://sobreamorelivros.blogspot.com
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Roberto 20/09/2016

Para não deixar de ler
Aqui nesta resenha não tecerei comentários sobre a técnica ímpar, a verve literária poderosa, a elegância sutil ou a criatividade indômita do David Mitchell. Creio que pessoas qualificadas já falaram sobre isso.
Vou me ater ao livro, ao que senti durante a leitura e ao que sinto após finalizá-la.
O livro é lindo! Com isso quero dizer que a edição da Companhia das Letras, que tive o imenso prazer de comprar, é extremamente bem produzida, de gosto apurado e deixa minha estante bem mais bonita.
O livro é lindo! E aqui, sim, quero expressar que as histórias são inquietante e surpreendentemente lindas! Não há lugares comuns, clichês ou coisas que os valham. Não foram raras as madrugadas em que me peguei numa luta inglória para interromper a leitura, devido ao avançado da hora.
O livro é lindo! É sobre passado, presente e futuro, não necessariamente nessa ordem, mas entrelaçados, interligados por uma teia de sentidos e sentimentos, que demonstram não uma relação de causalidade rasteira, mas de consequências e influências que um tempo pode gerar no outro e no outro.
Não vou repetir que o livro é lindo! Mas é! Isso por que é sobre redenção e rendição, sobre certezas, dúvidas e enganos, sobre motivos para lutar e para desistir da luta, sobre exploração, liberdade e irresignação, sobre maldade e bondade, sobre vida e sobre morte, sobre lealdade, gratidão e perfídia.
É lindo por ser um livro repleto de referências literárias, musicais e até cinematográficas: a arte dentro do arte: "meta-arte"... O que considero ainda mais enriquecedor são suas autoreferências.
Por fim, é daqueles raros e belos livros que embriagam o leitor e, não fosse isso bastante, deixam uma ressaca duradoura após sua leitura e o desejo de voltar ao início.
É um livro pra reler, não por ser difícil de entender. Pelo contrário, mas por isso mesmo!
O resultado é precisar pensar: food for thoughts! A cabeça dá um nó que se desata, mas deixa marcas na fita que enlaça. Leiam! Mas o meu eu não dou, não vendo, não empresto!
Sunt lacrimae rerum.
Thyago 27/09/2016minha estante
Eu desejo este livro há muito tempo. Cheguei até ele depois de assistir o filme. O que você pode comentar em relação ao livro e sua adaptação?


Mateus 04/02/2017minha estante
Gostei de sua resenha! e é verdade.. é desses livros que embriagam a pessoa! Quanto a desatar os nós, uns deixaram marcas no laço, outros ainda permanecem tão apertados que é melhor corta à tesoura ou´permanecer preso!


Gabriel1994 27/12/2017minha estante
Que resenha linda!




SILVIA 04/09/2016

Gostei
Meus comentários estão no blog Reflexões e Angústias no link:
http://reflexoeseangustias.com/2016/09/04/livro-atlas-de-nuvens-de-david-mitchell/
ou no Canal do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DejPbFGoIds

site: http://reflexoeseangustias.com/2016/09/04/livro-atlas-de-nuvens-de-david-mitchell/
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 28/08/2016

David Mitchell - Atlas de Nuvens
Editora Companhia das Letras - 544 páginas - Tradução de Paulo Henriques Britto - Lançamento 26/07/2016.

Já faz algum tempo que não me divertia tanto com um romance, ou melhor dizendo, não apenas um, mas seis romances em um só, ambientados em várias regiões do mundo e diferentes épocas, do passado ao futuro, com múltiplas técnicas narrativas e improváveis elementos de ligação entre todas as partes, porque "Atlas de Nuvens" é exatamente isso, configurando um virtuosismo literário invejável do inglês David Mitchell ao conduzir a ambiciosa arquitetura do livro e manter a atenção e interesse do leitor ao longo de mais de quinhentas páginas nessa catedral ficcional, se é que podemos chamar assim. Mas não imaginem que se trata de uma exibição gratuita de habilidade de escritor sem proveito para o leitor comum, muito pelo contrário, o livro é contagiante e difícil de interromper porque cada parte, ou capítulo, termina em suspenso (sempre em algum tipo de situação limite) para dar início a uma nova narrativa, continuando mais adiante e assim sucessivamente.

Durante a leitura ficamos imaginando como será possível levar a cabo a tarefa hercúlea de finalizar a obra com alguma coerência, tantos são os personagens e tramas paralelas, ou mesmo se o autor terá que apelar para soluções simplistas, no entanto devo admitir que a conclusão de cada uma das partes é brilhante e tão criativa quanto o desenvolvimento da estrutura, não deixando o leitor frustrado em nenhum momento. O livro "Cloud Atlas", lançado originalmente em 2004 e finalista do Man Booker Prize daquele ano, foi adaptado para o cinema em 2012 (no Brasil com o título de "A viagem"), dirigido pelas irmãs Warchowski e com um elenco formado por Tom Hanks, Helle Berry e Hugh Grant. Não assisti ao filme até hoje para não comprometer a experiência da leitura e agora fico com receio de alterar a minha percepção do livro. Alguém que tenha assistido pode comentar sobre o filme?

A primeira parte, "Diário de viagem ao Pacífico de Adam Ewing", como sugere o título, é narrada em forma de diário, contando as aventuras de um tabelião americano em 1850 nas ilhas Chatham localizadas no Pacífico Sul, próximas à Nova Zelândia. Ele fica conhecendo a história (verídica) dos nativos dessas ilhas chamados de morioris que foram dizimados e escravizados pelos maoris da Nova Zelândia, assim como pelos colonizadores europeus. Adam Ewing, que retornava da Austrália, passa somente alguns dias em terra firme nas ilhas enquanto aguarda os reparos na embarcação Prophetess e faz amizade com o dr. Henry Goose, um médico aventureiro que conhece bem a região. Ambos embarcam no navio, juntamente com um escravo moriori clandestino. A técnica utilizada pelo autor neste primeiro capítulo lembra os textos de autores clássicos de aventuras, como Herman Melville (Moby Dick) e Daniel Defoe (Robinson Crusoé).

"Partimos ao nascer do sol, embora a sexta-feira seja vista como dia azarento pelos marinheiros (Resmunga o capitão Molyneux: 'Superstições, dias de santos e outras sandices ficam muito bem em comadres papistas, mas eu estou aqui para ganhar dinheiro!') Eu e Henry não ousamos subir ao convés, pois todos os marujos estavam às voltas com o cordame e há um vento sul forte, com mar agitado; o navio esteve em apuros ontem e não o está menos hoje. Passamos metade do dia arrumando a botica de Henry. Além dos petrechos de um médico moderno, meu amigo possui vários tomos doutos, em inglês, latim e alemão. Numa caixa há um continuum de pós em frascos arrolhados, com rótulo em grego. Com componentes tais ele prepara várias pílulas e unguentos. Olhamos pela escotilha por volta do meio-dia, e as ilhas Chatham eram manchas de tinta no horizonte plúmbeo, porém o intenso balanço do navio é um perigo para aqueles que passaram uma semana em terra firme." (pág. 30)

A segunda parte, "Cartas de Zedelghem", nos apresenta um jovem e brilhante músico inglês chamado Robert Frobisher em 1931. Ele foi deserdado pelo pai e, sendo perseguido por uma série de escândalos e dívidas na sociedade londrina, decide fugir para o interior da Bélgica onde trabalha como assistente de um famoso compositor inglês recluso, Vyvyan Ayrs, no castelo de Zedelghem. A convivência entre os dois faz com que o velho músico doente volte ao seu processo criativo, mas ao longo do processo Robert Frobisher tem um caso com Jocasta, a esposa de Vyvyan, e persegue também a bela filha do casal. Este capítulo é todo narrado através de cartas de Robert para o seu amante Rufus Sixsmith que ficou em Londres. Ao roubar livros raros da biblioteca de seus hospedes para vendê-los a colecionadores, Robert encontra uma antiga publicação sobre um diário no Pacífico Sul, enquanto desenvolve a sua própria composição, o "Sexteto Atlas de Nuvens".

"Tinha duas horas para matar. Tomei uma cerveja gelada num café, e mais uma, e mais uma, e fumei um maço inteiro de uns cigarros franceses deliciosos. O dinheiro de Jansch não é nenhum tesouro enterrado, mas Deus sabe que a sensação que tenho é de como se fosse. Depois encontrei uma igreja numa ruela (evitei os lugares mais turísticos para não correr o perigo de esbarrar em livreiros rancorosos), cheia de velas, sombras, mártires sofredores, incenso. Não entrava numa desde a manhã em que meu pai me pôs no olho da rua. A porta a toda hora abria e fechava . Entravam velhas corocas, acendiam velas, iam embora. O cadeado na caixa das esmolas era da melhor qualidade. As pessoas ajoelhadas rezavam, algumas mexendo os lábios. Eu as invejo, sério. Também invejo Deus, que conhece todos os segredos delas. A fé, o clube menos exclusivo do mundo, tem o porteiro mais esperto. Toda vez que entro nas portas escancaradas da fé, logo me vejo voltando para a rua. Esforcei-me ao máximo para ter pensamentos beatíficos, mas a toda hora minha cabeça voltava a dedilhar o corpo de Jocasta. Até mesmo os santos e mártires nos vitrais eram ligeiramente excitantes. Creio que tais pensamentos não me levam para mais perto do céu. O que acabou me enxotando da igreja foi um moteto de Bach — o coro até que não era abominável, mas a única esperança de salvação do organista seria um tiro nos miolos. Disse isso a ele, também — o tato e a moderação são são desejáveis na conversa fiada, mas quando o assunto é música é preciso falar sem papas na língua." (pág. 81)

A terceira parte, "Meias-vidas - O primeiro romance policial da série Luisa Rey" é toda ambientada na fictícia cidade de Buenas Yerbas, na California em 1975, "uma cidade que tem o pior de San Francisco e o pior de Los Angeles, um autêntico não lugar" e é lá que encontramos um dos protagonistas da última parte, Rufus Sixsmith, muitos anos depois do seu caso com Robert. Ele, já com sessenta e seis anos, é um cientista nuclear que escreve um relatório alertando para os riscos da construção de uma usina nuclear pela poderosa e corrupta corporação Seaboard Power Inc., o relatório aponta para falhas no novo reator Hidra e provoca o assassinato de Sixsmith. Luisa Rey é uma repórter que investiga a situação da usina e procura encontrar o relatório perdido, enquanto lê as antigas cartas de Zedelghem. David Mitchell agora nos apresenta um estilo clássico de romance policial americano de tirar o fôlego.

"Rufus Sixsmith, debruçado na varanda, calcula a velocidade de seu corpo quando ele atingir a calçada, dando fim a seus dilemas. O telefone toca no quarto escuro. Sixsmith não ousa atender. Ouve-se música de discoteca a todo volume vindo do apartamento ao lado, onde uma festa está no auge, e Sixsmith, aos sessenta e seis anos de idade, sente-se mais velho do que é. A poluição obscurece as estrelas, mas para o norte e para o sul, ao longo da orla marítima, Buenas Yerbas resplandece com seu bilhão de luzes. Para o oeste, a eternidade do Pacífico. Para o leste, a extensão nua, heroica, perniciosa, sacralizada, sedenta, enlouquecedora do continente americano. (...) Uma moça emerge da festa no apartamento ao lado e se debruça na varanda vizinha. Seu cabelo é bem cortado, seu vestido violeta é elegante, mas ela prece tomada por uma tristeza e uma solidão incuráveis. 'Proponha um pacto de morte, por que não?' Sixsmith não está pensando a sério, e também não vai pular, se uma brasa de humor ainda arde nele." (pág. 95)

A quarta parte, "O pavoroso calvário de Timothy Cavendish", é a única passada em nossa época atual, onde acompanhamos a hilária trajetória do editor Timothy Cavendish de sessenta e cinco anos que, por uma série de enganos, acaba internado e aprisionado em uma clínica geriátrica chamada "Aurora House" onde sofre um derrame, no interior da Inglaterra. Abandonado pelo irmão nesta clínica, ele planeja uma fuga espetacular, juntamente com seus "amigos senis mortos vivos", como ele os chama, mas isto não será uma tarefa nada fácil. Uma narrativa muito bem humorada onde nos pegamos rindo sozinhos das peripécias do protagonista. Uma das poucas leituras que Cavendish tem acesso neste período é o primeiro romance policial da série Luisa Rey encaminhado para a sua editora e que parece ser "publicável".

"O plano de Ernie era uma sequência altamente arriscada de dominós, um caindo sobre o outro. 'Qualquer estratégia de fuga', pontificou ele, 'tem que ser mais engenhosa do que os guardas.' E era mesmo engenhosa, para não dizer audaciosa, mas se um dos dominós não caísse sobre o outro o fracasso instantâneo teria consequências terríveis, principalmente se fosse verdade a macabra teoria de Ernie, de que estávamos sendo drogados. Olhando para trás, surpreendo-me comigo mesmo por ter concordado com aquilo. Sentia tanta gratidão por meus amigos estarem falando comigo outra vez, e uma vontade tão desesperada de sair da Aurora House — vivo —, que minha prudência natural se calou, é o que deve ter acontecido." (pág. 401)

A quinta parte, "Uma rogativa de Sonmi~451", nos apresenta uma distopia futurista, uma sociedade que utiliza clones humanos para desempenhar tarefas repetitivas ou perigosas. É o caso de Sonmi~451 que foi criada para servir a uma cadeia de lanchonetes na Asia, uma espécie de McDonald's do futuro chamada de Papa Song Corp. Neste capítulo toda a narrativa é feita seguindo o interrogatório de Sonmi~451, no qual ela conta em detalhes como se rebelou contra a forma impiedosa com que os clones eram escravizados e acabou participando de um movimento terrorista contra o regime totalitário. Uma fábula que tem algo de profético na forma como nossas sociedades evoluem para o futuro.

"Era uma cúpula fechada com cerca de oitenta metros de diâmetro, uma comedoria de propriedade da Papa Song Corp. As servidoras passam doze anos trabalhando sem jamais sair daquele espaço, jamais. A decoração é de estrelas e listras em tons de vermelho, amarelo e sol nascente. A celsius é ajustada ao nosso Exterior; mais quente no inverno, mais fresca no verão. Nossa comedoria ficava no menos-nono andar, debaixo da Chongmyo Plaza. Em vez de janelas, as paredes eram enfeitadas com AdVs. Na parede leste ficava o elevador da comedoria; era a única entrada e saída. A norte, o escritório do Vedor; a oeste, a sala dos seus Auxiliares; a sul, a dormidoria das servidoras. Os igienizadores dos consumidores eram ingressados a nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste. O Eixo ficava no centro. Ali os alimentandos pediam suas refeições; nós entrávamos seus pedidos, debitávamos suas Almas nas caixas, depois bandejávamos suas refeições. Sobre o Eixo eleva-se o Plinto do Papa Song's. Ali Ele performa suas cabriolas para divertir os alimentandos." (pág. 196)

A sexta parte, "O vau do Sloosha e o que deu adespois", um desafio para o tradutor Paulo Henriques Britto e uma verdadeira luta contra o corretor ortográfico para respeitar o vocabulário inventado por David Mitchell que pula para um futuro pós apocalíptico, uma curiosa civilização que sobreviveu à "Queda" em algumas ilhas do Pacífico, uma espécie de holocausto que transformou a humanidade em uma série de tribos que lutam entre si pela sobrevivência. Existe uma pequena chance para a retomada do progresso e uma civilização mais justa à partir de poucos sobreviventes, haverá esperança para a Terra?

"Não, a Nau num é coisa de mito não, é verdadosa, que nem eu e cês. Vi ela com esses meus olho aqui, ó, vinte vez ou mais. A Nau parecia na baía das Frota duas vez por ano, perto dos quinosso da primavera e do outono, quando dia e noite, os dois é igual. Repara que ela nunca que ia em nenhuma cidade de bugre, Honokaa, Hilo, Sota-vento, nunca. E sabe por que? Causa-que só nós aqui do Vale tem Civilação do nive dos Presciente, por isso. Eles num queria escambar com barbo não, desses que achava que a Nau era um poderoso deus-pássaro branco, essas coisa. A Nau era da cor do céu, por isso só dava pa ver ela quando já tava chegano bem pertim. Num tinha remo não, nem vela, nem psisava de vento nem corrente não, causa-que era movida pela ciença dos Antigo. Do tamanho duma ilhota das grande, da altura dum morro baixo, a Nau cabia duzenta-trezenta-quatrocenta gente, quem sabe um milhão?" (pág. 268)

Como resmunga uma das dezenas de personagens de David Mitchell ao longo do romance-catedral: "'Mas essa história já foi contada cem vezes antes!' como se pudesse haver alguma coisa que não tivesse sido feita cem mil vezes antes, entre Aristófanes e Andrew Debilloyd Webber! Como se a Arte fosse o Quê, e não o Como!". Concordo com ele, o que vale mesmo nessa coisa de literatura não é a história em si, mas a originalidade da forma com que ela é contada. O autor criou sem dúvida uma bela homenagem à aventura, aos romances e a Arte de uma forma geral, imperdível.
Kaonny 28/08/2016minha estante
Poxa, bela resenha-síntese. Desperta mais e mais a curiosidade de quem viu o filme e desejar ler o livro. Obg Alexandre.


Alexandre Kovacs / Mundo de K 28/08/2016minha estante
Muito bom o livro Kaonny!


Kaonny 28/08/2016minha estante
Estava ansioso pela tradução desde que vi o filme.Achei abusivo o preço, mas a missão de tradução e a história compensam o custo.


Flavio 28/08/2016minha estante
Resenha muito boa, Kovacs. Já havia assisto ao filme e estava muito ansioso para o lançamento deste livro no Brasil. Estou encantado com a narrativa diversificada do romance. E me surpreendi, pois no filme a sequência das historias é bem diferente. Muito interessante notar as escolhas feitas na película pra nos dar a sensação de que tudo está conectado no passado e no futuro. Eles utilizaram a edição (a melhor coisa do filme por sinal), entrecortando as cenas de diversos tempos entre si, conectadas pela sequência de ação, ou pelo sentimento de coragem, aflição, medo ou alegria do momento. Também utilizaram a repetição dos atores em cada história, onde vemos Halle Barry, Tom HanKs, Susan Sarandon, Jim Broadbent fazendo diversos personagens de diversas etnias e gêneros diferentes para cada tempo. É mantido o link entre as histórias através da leitura do diário, das cartas, do romance etc e também através da tatuagem de cometa nos personagens-chave. Após a leitura do livro senti que o filme deixou a desejar em algumas das narrativas: principalmente da Sonmi e do Zachary que são muito mais intensas e emocionantes no papel. Agora você precisa assistir mesmo por causa de um detalhe primoroso: a trilha sonora orquestrada que é fenomenal!! Ja vale o tempo gasto assistindo. No geral o filme é bom e ao mesmo tempo diferente do livro pois adaptar um romance bem marcante como este para o cinema não deve ter sido tarefa fácil, mas sinto que foram felizes nas escolhas que fizeram para a tela grande. Acho que ter visto o filme primeiro e depois ter lido o livro pode ter me influenciado de maneira positiva para ambas as mídias. Não imagino como teria sido o inverso. Quando assistir me fale suas impressões. Grande abraço.


Alexandre Kovacs / Mundo de K 28/08/2016minha estante
Flavio, obrigado por compartilhar suas impressões sobre o livro e o filme. Vou aguardar o ótimo livro amadurecer na minha consciência para assistir ao filme (agora está ainda em período de decantação...). Depois te conto o que achei do filme! Abs Kovacs


Daniel 14/09/2016minha estante
É aquela velha história: "crie unicórnios, mas não crie expectativas".
Eu esperei tantos anos para ler este livro e fiquei bem menos empolgado do que supunha que ficaria. As histórias não me entusiasmaram muito, principalmente na primeira metade - a que gostei mais foi a do Timothy Cavendish. Depois elas melhoram um pouco, e a tênue conexão entre elas ajuda a olhar coisa toda a fazer sentido como um todo. Mas esperava mais. Achei até difícil avaliar o quanto gostei... mais que 3 estrelas, menos que 4. Vou procurar o filme agora. Talvez com o tempo minha impressão melhore.


Gabriel 03/11/2016minha estante
Concordo com resenha, mas recomendaria Ier eIa depois do Iivro, é uma deIícia descobrir cada fragmento do Iivro e Ier com o suspense de pra onde vamos e o que vamos ver.


Cacau 25/01/2017minha estante
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