spoiler visualizarDrica 07/09/2013
Tanto o livro quanto a autora não estavam preparados...
Para uma primeira experiência com um livro nacional, de uma autora jovem da atualidade, devo dizer que estou extremamente frustrada e triste. Há tempos queria ler algo escrito em nosso próprio país, em nossa bela língua materna, e em um impulso acabei adquirindo A Rosa e o Dragão. Arrependo-me profundamente disso.
De forma alguma quero desestimular a autora a perseguir seu sonho, afinal é isso que nos move, nossa força motriz; por muitas vezes, nosso alicerce. Mas cheguei à conclusão de que este livro não estava pronto para ser publicado, e tive inúmeras motivações para crer nisso.
Primeiro me veio a questão da escrita, que desde o princípio do livro me deixou com uma sensação incômoda e se arrastou durante toda a leitura. Como a falta de descrições, detalhes pequenos ali e acolá que poderiam ter feito com que eu mergulhasse de cabeça na leitura. É fato que sou amante de narrações impecáveis, primorosas, até mesmo com certo toque poético. Sou devota de reflexões, questionamentos que possam ser levantados durante a leitura. Gosto de narrações que me confrontem, que me façam parar e pensar e ainda horas depois me fazer lembrar do que li. Passagens fortes, frases de efeito, enfim, qualquer coisa que me acrescente algo, que dê nó nos meus pensamentos! Mas, infelizmente, a escrita de A Rosa e o Dragão pareceu-me muito... crua.
E não é apenas a ausência de descrições de lugares e de pessoas que me incomodou, o que constantemente forçava a minha própria imaginação a projetar tudo --- por vezes fazendo com que me perdesse na leitura e começasse a confundir personagens ---, mas também o fato como a narração foi conduzida. Parágrafos curtos, mas ressalto: não seria um fator desfavorável para o livro, se tudo não fosse relatado de forma tão simples e crua. Havia o relato de ações e gestos por parte dos personagens, e mais nada; orações e frases curtas sem a ausência dos conectivos. Outro ponto são os diálogos: fracos e, por vezes, mal construídos.
Gostaria também de ter obtido uma localização precisa durante a narrativa, pois em nenhum momento nos é informado onde a trama se passa, nem mesmo se é em um país estrangeiro ou não. A princípio, pensei que pudesse ter se passado no Brasil pelos nomes dos amigos da Desirée, mas então surgiram personagens com nomes estrangeiros e exóticos e imediatamente descartei essa possibilidade; não me localizei em nenhum momento da leitura.
Se se passasse no Brasil, nomes estrangeiros até poderiam ter sido acrescentados sem problemas, DESDE que houvesse explicações aceitáveis para isso. Para uma leitora tão detalhista quanto eu, nem mesmo os pormenores conseguem escapar.
Outro fator a me levar a crer que este livro não estava pronto para ser publicado ainda foi o desenvolvimento da ideia central da trama, ou no caso, a ausência deste desenvolvimento. A Rosa e o Dragão foi uma das leituras mais estranhas de minha vida como leitora, e não sem bom motivos, afinal, já nos capítulos iniciais, a protagonista conhece Andrew em um parque à noite, e conversa com ele numa boa, AINDA que ele fosse um completo estranho! E, sim, o mais bizarro: ela aceita um convite dele para sair NO MESMO DIA, digo... Noite. Enfim... Estranho, e um fato pouquíssimo crível.
E já no primeiro encontro, e exatamente como eu temia: Desirée se apaixona por ele... Tipo, num primeiro encontro quando não se sabe nada a respeito desse alguém? Atração eu até poderia aceitar. Um sentimento completamente superficial, e não algo profundo como uma paixão... Achei o termo paixão muito forte para o momento. Aliás, Desirée se apaixonou muito facilmente por Andrew; senti falta de um envolvimento maior, ainda que ele a cercasse com gestos cavalheirescos e gentilezas, NINGUÉM começaria a amar uma pessoa da noite para o dia.
Mas Desirée não apenas desperta todo esse amor --- e ressalto: sem qualquer desenvolvimento ---, como abandona sua família e seus amigos por Andrew quando ele diz que vai embora da cidade. E então vem outra parte estranhíssima do livro, quando Andrew revela a ela que é um vampiro. Sim, ele simplesmente solta a bomba, e a Desirée apenas pergunta Por quê? Por que ele precisa ir embora da cidade?
Eu simplesmente não acreditei nesta passagem.
Não é muito natural que você aceite numa boa quando alguém lhe revela algo parecido e sem qualquer forte razão para basear essa afirmação. Eu sei que internaria esse sujeito em um manicômio, claro, depois que conseguisse parar de rir da piada, mas enfim...
Desirée abandona tudo por Andrew, que a transforma em uma vampira, e temos outra passagem estranha: ela desperta já como imortal, mas não sente nada de diferente. Nadinha mesmo! Li diversos livros com esse tema já, e em todos eles, quando humanos são transformados, sei que as mudanças são desastrosas.
Ela é levada para o clã de Andrew então, e é lá que são apresentados mais vampiros Eu ainda tentava lidar com o fato de ela ter aceitado tão fácil que seu namorado era um vampiro enquanto ela própria já usava o termo com naturalidade. E eu pararei meu relato por aqui porque gostaria de comentar as personalidades de todos os personagens, ou melhor, a única personalidade que todos eles pareciam partilhar. Quero dizer, pensei comigo mesma se todos esses personagens (e não são poucos), principalmente os garotos não tivessem vindo de uma linha de produção ou algo parecido.
Qualquer autor sabe que cada personagem, quando é criado, tem que se distinguir dos demais, porque cada personagem secundário é único. E eu amo personagens secundários, às vezes mais até do que os protagonistas. Por vezes são os secundários que salvam uma narrativa com seu carisma, com sua originalidade, com sua personalidade ÚNICA. Mas todos os personagens aqui, principalmente os garotos do grupo Stresh pareciam todos iguaizinhos, quase clones uns dos outros, porque nada os distinguia uns dos outros, e todos tinham a mesma personalidade, que nem mesmo sei definir qual é... Em determinado ponto da leitura passei a confundir todos os personagens por causa da ausência dessa distinção de cada personagem; ainda por cima, eu não tinha qualquer referência para poder diferenciá-los, pois não havia descrições físicas, mais uma vez obrigando a minha mente a dar rostos a cada um deles. Ainda assim, eu os confundi e muito! Fora isso, havia Nina... Uma vampira com a típica personalidade clichê e completamente estereotipada que já vi em tantos outros livros.
A traição de Andrew não me foi uma surpresa, pois o personagem em si já não me inspirava confiança. Mas conforme Desirée ia se envolvendo com os outros garotos (e não foram poucos), a leitura se tornava cada vez mais estranha, pois ela ficava com eles, mas nada era despertado, nada mudava significativamente.
Desirée é a protagonista mais estranha que já encontrei; ela era uma garota completamente normal, mas depois de se tornar vampira, tirou sua primeira vida sem sentir qualquer remorso ou ter qualquer tipo de conflito por causa disso. Quase matou seu melhor amigo, acabou tendo de transformá-lo também (desgraçou a vida dele), e não sentiu nada, nada. Esse vácuo de sentimentos foi o mais estranho para mim, pois logo em seguida, o próprio amigo transformado dela estava tirando vidas também para se alimentar. ESTRANHO, ESTRANHO, ESTRANHO! E meu cérebro quase colapsou nessa parte, pois não era possível, não era verossímil e muito menos crível.
Até mesmo a razão do título do livro, A Rosa e o Dragão (e isso foi o que mais me levou a comprar o livro, além da capa), não era o que eu esperava; aquela revelação surpreendente que poderia ter me intrigado e me prendido à leitura não me pareceu convincente. Àquela altura, a trama já estava inconsistente devido a tantas lacunas e minha leitura se tornou arrastada, forçada, até o presente momento, em que não tive alternativa senão abandonar o livro. Não tenho o costume de fazer isso, realmente, mas não vi meios de prosseguir com a leitura e concluir o livro. Confesso que folheei as últimas páginas, e as estranhezas que encontrei por lá apenas fomentaram minha decisão de não ler este livro até o final.
Como comentei em meu histórico de leitura, é tudo uma questão de amadurecimento e crescimento por parte do autor. Podemos ter ideias boas, na realidade temos ideias boas a quase todo o instante, mas temos de ser cautelosíssimos na hora de desenvolver tais ideias, pois foi nisso que a autora mais pecou em seu primeiro livro; não soube dar o desenvolvimento adequado à sua ideia. Mas os anos vindouros, as experiências, erros (como aconteceu aqui) e acertos, tudo isso ajudará no crescimento e no amadurecimento do autor.
Quero muito dar outra chance a outro livro nacional, e a outro jovem autor, mas esta série eu não retomarei, infelizmente. Como minhas considerações finais, parabenizo a autora por haver conseguido realizar seu sonho e publicar seu livro, um sonho que também partilho, mas no futuro, ainda não, pois mais importante do que perseguir e realizar um sonho, é ter modéstia e paciência suficientes para reconhecermos que às vezes não estamos prontos e muito menos aptos para tal, e que há muito ainda que precisamos aprender antes.