O Padre Protestante

O Padre Protestante Boanerges Ribeiro




Resenhas - O Padre Protestante


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Alex 10/01/2013

Os primórdios do protestantismo brasileiro
Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, nascido em 1929, Boanerges Ribeiro graduou-se Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas no ano de 1941, obtendo, ainda, a licenciatura em Filosofia, bem como o mestrado e o doutorado em Ciências Sociais. Atuou como professor em vários cursos, inclusive no próprio seminário onde havia anteriormente estudado. Exerceu, entre 1966 e 1978, o cargo de Presidente do Supremo Concílio da IPB, tendo atuado, como representante da igreja, em diversos congressos e encontros nacionais e internacionais. Foi preletor do Sínodo Reformado Ecumênico, em Sydney (Austrália), e da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana na América, na cidade de Jackson, Mississipi. Foi, ainda, diretor do jornal Brasil Presbiteriano em 1964 e presidiu a Casa Editora Presbiteriana – atual Editora Cultura Cristã – de 1947 a 1961. Foi membro dos conselhos deliberativos do Instituto Mackenzie e chanceler da Universidade que leva o mesmo nome. Além do livro que é objeto desta resenha, escreveu as seguintes obras: O Apóstolo dos Pés Sangrentos, Seara em Fogo, O Senhor que se fez Servo, Protestantismo no Brasil Monárquico e Protestantismo e Cultura Brasileira. Faleceu em 2003, aos oitenta e quatro anos de idade.

O autor se propõe a contar um vislumbre da trajetória de vida de José Manoel da Conceição, ex-sacerdote romano convertido ao protestantismo que se tornou o primeiro pastor evangélico brasileiro.

Para tanto, optou por repartir o livro em vinte e seis capítulos relativamente pequenos, mas com uma quantidade enorme de informações e detalhes que nos ajudam a reconstruir o cenário da época. O estilo, embora se utilize de uma ortografia já considerada obsoleta, prende a atenção do leitor devido à fluidez das idéias.

Apenas a título de facilitar a compreensão da obra (sem necessariamente excluir outros tipos de segmentação), podemos dividi-la em duas grandes partes. A primeira delas compreenderia as páginas que vão do capítulo I ao capítulo XIV. Aqui o autor nos conta acerca dos antepassados de José Manoel da Conceição, sua infância e adolescência, como desde cedo mostrou ser diferente das outras crianças, seus estudos visando a formação clerical, sua posterior ordenação como padre e os conseqüentes questionamentos e embates em relação ao status quo da igreja a qual pertencia.

Nesta parte, três passagens em especial me chamaram a atenção. A primeira delas se encontra no Capítulo VII, nomeado “A outra verdade”, no qual percebemos a importância da boa influência dos colonos alemães protestantes no processo que viria, mais tarde, culminar na conversão de JMC. Algo que lamentavelmente tem sido negligenciado de forma tão ostensiva por grande parte dos crentes da atualidade, a História ao longo dos tempos mostra que Deus pode utilizar como um artifício para atrair os eleitos a Ele. Foi justamente esse o caso do nosso querido ex-padre. A segunda está no Capítulo IX, intitulado “Por que uma reforma?”, onde constatamos que o catolicismo da época retratada era supersticioso, envolvido em assuntos políticos e possuía em seus quadros uma maioria de sacerdotes desprovida de sincera vocação, que buscava na batina apenas um meio de obter vantagens de qualquer espécie, principalmente financeiras. Com tristeza observo que qualquer semelhança com aquilo que ocorre atualmente no evangelicalismo brasileiro não é mera coincidência. A terceira se acha no Capítulo XIII, “Uma reforma missionária”, através do qual se constata aquilo que já aprendemos em outra disciplina, isto é, que a entrada no país de imigrantes vindos de países majoritariamente protestantes, não provocou a difusão do Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo, uma vez que aqueles queriam tão somente cultuar a Deus em sua língua materna, segundo seus costumes e tradições, desprovidos, portanto, de interesses genuinamente evangelísticos. Característica típica da primeira fase do protestantismo brasileiro, conhecida como protestantismo de imigração, e que logo seria suplantada pela fase seguinte, à qual pertencem vários dos homens de Deus que figuram neste livro: o protestantismo de missão.

A única ressalva que faço em relação a essa primeira parte reside na quantidade de texto dedicada aos antepassados de JMC. Entendo que, com isto, o autor procurou, da melhor forma possível, familiarizar o leitor com os antecedentes católicos profundamente arraigados na vida do ex-padre, o que certamente aumenta o impacto do significado de sua conversão quando a lemos mais adiante, mas penso que o autor poderia ter sumarizado alguns trechos iniciais, tornando, por isso, a leitura mais ágil, sem, no entanto, perder o efeito desejado.

A segunda parte, que englobaria os capítulos XV a XXVI, nos conta a conversão à Cristo do então padre José Manoel da Conceição, sua posterior ordenação como pastor presbiteriano, seu engajamento na obra missionária, os desafios, perigos, sucessos e fracassos que a envolviam e como, pouco a pouco, JMC foi cada vez mais abrindo mão de um ministério urbano ordinário para viver como uma espécie de pregador itinerante, anunciando a Palavra de Deus pelos mais remotos rincões do Brasil. A propósito, o Capítulo XV – “O relógio da Providência” – talvez seja o cerne da obra, pois narra o momento em que “o padre protestante”, depois de tantas lutas internas, definitivamente abandona o romanismo para viver, única e exclusivamente, pela fé no Evangelho.

Uma das grandes qualidades da obra se encontra no fato de que para escrevê-la o autor tenha se utilizado de fontes primárias, isto é, documentos criados no tempo em que os fatos narrados aconteceram e/ou por pessoas que detinham conhecimento direto dos eventos descritos, entre os quais se encontram anais, diários, atas de reunião do presbitério, jornais da época, cartas, textos manuscritos, sermões, memórias e depoimentos orais obtidos através de entrevistas. O próprio livro objeto desta análise, dada a quantidade e qualidade das informações de que dispõe se constitui em uma confiável e preciosa fonte secundária acerca dos primeiros anos do protestantismo tupiniquim.

Por fim, termino esta análise com a certeza de que o autor cumpriu seu objetivo. A lamentar apenas o fato da obra se encontrar, à data em que escrevo, esgotada. Faço aqui meu apelo aos editores da Cultura Cristã no intuito de que este valioso livro seja relançado, com a ortografia e tipografia atualizadas, fotos, na medida do possível, mais nítidas e mapas mais detalhados. E que este tão almejado relançamento seja acompanhado da mais ampla divulgação, pois muitos corações serão certamente edificados por Deus, através desta obra.

Que o exemplo de vida de José Manoel da Conceição nos inspire a pregar o Evangelho com desprendimento e fidelidade, espalhando o bom perfume de Cristo por onde quer que andemos, para honra, glória e louvor do Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.

Soli Deo Gloria.
Matheus.Araujo 23/11/2017minha estante
Sua resenha foi muito cirúrgica. Parabéns!




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