Lohania 01/08/2018Após anos longe de sua ilha natal, Luar-do-Chão, o estudante Marianinho retorna até lá por soturno motivo: recebe a notícia de que seu avô, Dito Mariano, morreu.
Já instalado em Nyumba-Kaya, a mágica casa onde reside sua família, Marianinho começa a receber cartas de um missivista misterioso que tem uma caligrafia idêntica à sua. Nestas cartas, recebe orientações acerca do que deve fazer durante o período fúnebre. Outros acontecimentos inusitados, para ele sem cabimento – já havia se acostumado aos costumes aportuguesados da cidade –, começam a se mostrar ao longo de sua estadia em Luar-do-Chão. Nesse ínterim, Marianinho relembra e revive cheiros, gostos e memórias de sua infância. O retorno às suas raízes desperta o lar nele há muito adormecido.
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“O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.”
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Em “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, Mia Couto humaniza a natureza: a terra, detendo todo o direito e tendo suas prerrogativas para isto, se fecha; o rio, por meio de um silencioso sussurro, concede permissão para que o homem se afunde em sua correnteza. Os nomes adjetivados de alguns personagens expressam a grandeza de suas histórias de vida, destinos cruzados e marcados por mistos de amor, ciúmes, segredos, amarguras e dor. A escrita de Mia é metaforizada e extremamente prazerosa. A beleza da mulher africana é enaltecida e suas formas são descritas com ingenuidade e pureza de sentimentos. O misticismo, as crenças e lendas populares africanas arrebatam o leitor de si, o levando a um novo universo. Mia Couto me encantou e enredou, e, por isso, posso dizer decididamente: repetirei a dose.
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