denis.caldas 29/12/2017Sobrou até pro Lula!Termos como arrocho salarial, neoliberalismo, bonapartista e outros recheiam os artigos do Prof. Dr. Ricardo Antunes, sociólogo marxista da UNICAMP. Na primeira parte, onde trata sobre o Collor, critica a abertura que o ex-presidente fez às importações, dizendo que as mesmas trouxeram a "desmontagem de parques produtivos inteiros"; também critica as privatizações da época, principalmente as telecomunicações. Pelo visto, o doutor gostaria ainda de andar em seu Corcel II e fazer ligações telefônicas com fichas pelos orelhões. Não acredita? Leia esse trecho:
"O salto tecnológico, motor da disputa entre os países avançados, ao visar centralmente a produção de mercadorias e não as efetivas necessidades humanas e sociais, tem como consequência direta a desmontagem de parques produtivos inteiros, que são incapazes de acompanhar essa lógica da competição e da concorrência...mesmo o Japão e a Alemanha, considerados 'vitoriosos', não conseguem escapar desta 'lógica destrutiva', uma vez que estão financiando, em proporções altíssimas, suas exportações para o mercado mundial, endividando abusivamente as economias da OCDE, que estão perdendo sua competitividade."
É verdade, como o Ford Del Rey poderia competir com o Honda Civic, ou o Chevrolet Monza com o Alfa Romeo 164? É professor...nada como divagar no ar condicionado do seu gabinete, em meio às publicações comunistas de seus colegas europeus, enquanto o progresso avança lá fora...
Mas a saga continua, trazendo uma miríade de palavras de impacto: neo-sociais, professores-banqueiros, desespacialização, societal, precarização, mercadorização, mundialização, etc; é o Guimarães Rosa do marxismo tupiniquim (não devido à espetacular prosa e verso de Guimarães, mas devido à criação de neologismos), criando (ou importando) termos da comuna mundial. Vejamos uma análise antieconômica, tirada do artigo "Desemprego: como enfrentá-lo?":
"Há, entretanto, uma bandeira que mais diretamente permite articular as ações mais imediatas juntos àquelas mais "universalizantes": a luta pela redução da jornada (ou do tempo) de trabalho, sem redução salarial. Essa proposta une a totalidade do trabalho social, em escala mundial, e permite discutir o controle do tempo de trabalho, do tempo de não-trabalho, do que produzir e produzir para quem. Por certo, reduzir a jornada de trabalho não eliminará o desemprego, mas auxiliará na luta pela sua redução, ao mesmo tempo em que poderá possibilitar a discussão da essência do capitalismo hoje, confrontando diretamente seu sentido destrutivo e, desse modo, participar ativamente na elaboração de um projeto cujo horizonte societal é para além do capital e da atual sociedade capitalista."
A intelligentsia vibra!
E, por último, sobrou até para o Lula! Agora gostei, o Dr. Antunes é o comunista raiz, verdadeiro marxista, que não se entrega ao "capetalismo" (só flerta); mas será que ele não entende que, considerando que o Lula foi o presidente mais inteligente do Brasil (não sábio, que é diferente), o ex-presidente usa o marketing e a emoção para conquistar a devoção dos brasileiros, mas na realidade, ele sabe que o comunismo leva a nada, assim permitindo certa flexibilidade do mercado para gerar riqueza, ao mesmo tempo que se enriquecia e aos familiares e amigos e, com a riqueza gerada em meio à população, a sua social-democracia saqueia essa riqueza e a redistribui. Claro, esse método keynesiano não é sustentável, mas como o brasileiro não tem memória, o Brasil começa a consertar e a gerar riqueza para todas as pessoas, daí a retórica populista volta e acaba com a gordura gerada. É um ciclo suicida, mas se retroalimenta com mais e mais miseráveis e os reconquista com a emoção. Encerrando com chave-de-ouro:
"Encantado com o mundo palaciano, agindo como paladino do neoliberalismo, embalado pelas músicas de Zeca Pagodinho, o governo do PT mantém uma política econômica que aprofunda a sujeição, amplia o desemprego e a informalidade do trabalho, além de estancar a produção em benefício dos capitais financeiros ... sob a batuta do PT, a feliz confluência do mundo financeiro com o sindicalismo de negócios."
Ah, não posso esquecer que, em um ponto concordo com o autor: sobre o mal do imperialismo norte-americano. Mas o caminho é a secessão, o fortalecimento individual e a verdadeira economia livre, e não o malfadado cálculo econômico socialista que, de cálculo, só tem o nome.
Feliz e Livre 2018!