Marcello Becrei
02/06/2017O Martinelli grita seu nome.Imponente, o Martinelli grita no centro de São Paulo.
Marcela Godoy escreve, em A Dama do Martinelli, um conto de terror carregado do contexto político e social de pessoas inseridas em dois momentos de forte repressão. Os personagens se inserem no governo de Arthur Bernardes, nos anos 20, e na forte repressão militar após a assinatura do AI-5, entre o final dos anos 60 e 70.
A habilidade da autora em unir as duas narrativas em um mesmo cenário já seria um ponto a se destacar, mas ela vai além. A história se passa no pulsante centro de São Paulo, contando a história não só dos personagens, mas do Edifício Martinelli.
Quem já passou pela região da Santa Efigênia, sabe bem como o Martilnelli se destaca na vista urbana da cidade. Como um organismo vivo, o Martinelli carrega em seu espirito toda uma mitologia dos seus tempos áureos, onde foi pólo de atração da burguesia paulistana, impermeada pelo período de abandono e de ocupação.
Palmas para Marcela e Jefferson Costa - dono de um traço que casa muito bem com a história -, que se valendo de uma narrativa excelente, entregam uma ode à cultura urbana do centro de São Paulo.
Só resta uma certeza. Após A Dama do Martinelli, é impossível ver prédios antigos do centro de São Paulo com os mesmo olhos.