MaywormIsa 21/04/2024
Eu tô na lanterna dos afogados, tô te esperando vê se não vai demorar
É difícil encontrar palavras que descrevem fielmente como foi minha experiência de leitura de "Ratos e Homens". Não sabia do que o livro se tratava, não pesquisei sobre, apenas comecei a leitura a partir da recomendação de um amigo.
Dois homens viajam juntos pelo oeste dos EUA sempre em busca de trabalho em ranchos e fazendas, carregando sacos e todo tipo de trabalho braçal. Os amigos se chamam Lennie, um grande homem estilo urso, de bom coração, mas não muito inteligente, para contrastar com seu amigo George, mediano, esperto e desconfiado.
Fugindo da fazenda anterior por um fatídico engano que poderia custar suas cabeças, Lennie e George se encaminham para uma nova oportunidade. Lá, conhecem outros "pião" como eles, cada um com a sua reputação, a sua história e a sua dor.
Eu ainda não sei o tema central da história, mas diria que as principais palavras-chave seriam: amizade, coelho, ingenuidade, solidão, rato, trabalho, suor e "putero".
Em pouquíssimas páginas, a curta história consegue nos arrancar sentimentos de compaixão e empatia por esses personagens, construídos de forma a terem carisma e interessância, sendo impossível não se sentir envolvido com o que têm a dizer.
Acredito que as lições de vida aprendidas ou reforçadas com a leitura, para além, claro, de empatia com as pessoas, seria a do valor que o outro tem na nossa vida. Lennie e George são inseparáveis desde a infância, sonhando com seu pedacinho de terra, de liberdade. Já dizia aquela frase "Um sonho sonhado só, é só um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade.".
A vida de trabalhadores braçais, seja lá nos EUA ou em qualquer lugar, é sofrida, pesada, suada e muitas vezes cheias de hostilidade, competição e solidão. O fato de Lennie e George estarem sempre juntos desperta curiosidade e certa admiração de outros personagens, justamente por isso, por saberem quão raro é um homem ter verdadeira compania onde quer que vá.
Eu acabei não chorando durante ou no final da leitura, mas me emocionei em algumas passagens, como a do cachorro, e claro o final. Mas confesso que antevendo o resultado quando a luger sumiu, me senti como George, vendo meu castelo de areia voar com o vento, e deixando minha mente vagar para onde quis.
Quem é que não gosta de tocar coisas macias? De olhar o fogo? As estrelas?
Quem é que não sonha em conquistar seu próprio leito de paz? Seu alimento? Sua liberdade de ser e estar?
Candy, Crooks, Lennie, A esposa de Curley (que batizei de dona Rosinha). O deficiente velho, sem utilidade e sem família. O negro deficiente sem dignidade e sem valor. O crianção ingênuo porém grande e forte. A mulher, solitária, incompreendida, vendida. Todos na lanterna dos afogados.