The Scar

The Scar China Miéville




Resenhas - The Scar


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Andre.Pithon 18/09/2022

Bingo de Fantasia e Sci/fi do /RFantasy
2.4: Cool Weapon
Modo difícil: A arma tem um nome

China Miéville é o maior nome do "New Weird" britânico. O Weird no nome é a parte importante, a estranheza, o ímpeto para fugir do que normalmente é esperado da fantasia. O primeiro livro dele que li, por influência de Disco Elysiun, ainda encontrava-se dentro das fronteiras do normal, por mais que carregasse uma ou duas ideias intrigantes. The Scar é absolutamente estranho.

Negocia-se com homens-mosquitos-vampiros-filósofos usando povo-cacto como comunicadores pois eles não carregam sangue e não são ameaçados. Uma cidade formada pela aglutinação de navios de múltiplas eras rouba plataformas de petróleo para acordar criaturas primordiais que possam ser usadas para puxá-la mais rápido. O worldbuilding é absolutamente alienígena, carregado de culturas únicas e bizarras, e quanto mais se aproxima do final, mais a história vai se distorcendo pelo infinito número de possibilidades, conforme alcança-se a titular cicatriz. É difícil falar sem dar spoilers, e até aqui revelei alguns detalhes da primeira metade da obra. Em resumo, a obra aceita ser única, imaginativa, do tipo que não se encontra facilmente. Esse ano eu li muita fantasia, e todas tem suas peculiaridades, suas inovações, mas nada foi tão estranhamente novo.

Os personagens são ok. Bellis, a protagonista, meio que cambaleia para dentro da história, e é usada por todos lados políticos da Armada onde se vê presa. Isso não ruim, a falta de poder que ela segura em mãos é uma parte importante da caracterização, e as páginas finais sob perspectiva dela são maravilhosos. Tanner e sua reconstrução corporal para tornar-se criatura anfíbia tentacular trás bons momentos, sua lealdade questionada e reafirmada, enquanto desesperadamente tenta pertencer a algo. São os dois protagonistas, mas há outras figuras centrais, e todas carregam alguns bons momentos. Nenhum chama muita atenção, nenhum é psicologicamente fantástico, mas o elenco como um todo capta sua atenção, e as interações entre eles são curiosas. Eu gosto do desânimo da protagonista, e mesmo ela tendo pouquíssima autonomia, Bellis me agradou, completamente apática e puta com o mundo.

Mas, e aqui fica o mas, é um livro enorme. E não precisava ser tão longo. A prosa é arrastada, e China adora descrever a cidade dele. Justo, é uma cidade bem variada, cheia de coisinhas intrigantes, mas chega uma hora que cansa. A prosa é lenta e meio enfeitada, o que as vezes gera momentos espetaculares (Há uns 3 momentos magníficos em que o visual beira o surrealismo, e é lindo), mas na maior parte do tempo gera tédio. Eu demorei para terminar, e o primeiro terço de leitura é doloroso até a trama realmente iniciar. Não é uma leitura tão fácil, mas guarda frutos para quem aguentar ser levado pelas ondas, guiado de maré para maré, as vezes sem um propósito claro, apenas boiando juntos à população da Armada.

Devo admitir que foi muito divertido contar detalhes aleatórios do plot desse livro para quem quisesse ouvir, e só engatilhar palavras numa ordem que não faz sentido para meu próprio entretenimento. Se existe um mundo que posso descrever e fazer parecer obscenamente insano, drogado e sem sentido, é esse. O que é um enorme ponto positivo para mim, e provavelmente péssimo para aqueles ao meu redor.

Esse é o segundo livro numa série que se passa em um mesmo universo, mas não se relaciona em nada com o primeiro, o qual eu não li (ainda, Perdido Station é a obra mais famosa de China, e faz parte de minha lista infinita de leitura. Mas esse eu conseguia encaixar no Bingo, então passou na frente). Ele funciona perfeitamente isolado. Em nenhum momento senti que estava perdendo algo. Diferentemente de "A Master of Djinn", que se colocava como expansão de alguns contos, e o tempo todo ficava "hehe, aconteceu isso nesse conto, lembra? LEMBRA??? LEIA MEUS CONTOS!". The Scar te respeita caso você queira ler apenas ele.

Foi exaustivo.
Foi surpreendentemente surreal.
Esse não é um livro que eu recomendaria livremente para qualquer pessoa, mas não há nenhum outro lugar que você vai encontrar um sistema arcano profundamente escondido na ciência, raças únicas (De Camarões-Centauros a mulheres reconstruídas para que sua metade inferior seja um motor e ela possa sair se dirigindo por aí), infinitas possibilidades.

Esse é o objetivo do livro, acho.
Apontar para as possibilidades, as realizadas, mas mais importante, as que são apenas potencial. Até deixar de serem.
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