Léo 26/03/2021Leitura indispensável para as Ciências HumanasEste livro, que integra a coleção Agenda Brasileira, do grupo Companhia das Letras, poderia ser leitura obrigatória nos cursos de humanas desse país, dada a imensa riqueza guardada em tão poucas páginas. Manuela Carneiro da Cunha aborda questões de natureza histórica, antropológica e de jurisprudência para construir um sólido retrato da questão indígena no país. Também aparece como notável exemplo de acadêmica possuidora de uma prosa fantástica, encontrando seu equivalente em bons romancistas. O livro abre com uma breve introdução trazendo considerações essenciais a respeito da história indígena: informações demográficas e questões conceituais, como a diferenciação entre política indígena e política indigenista. Em seguida trata das ideias acerca dos índios produzidas no século XVI - algumas das quais vigentes até os dias atuais -, mostrando como foram alvos de debates intensos e nada unânimes. A seguir, vem o capítulo mais chocante, aquele que aborda a política indigenista no século XIX. Nele, compreendemos como há duzentos anos tem lugar a usurpação em larga escala das terras indígenas, com amplo apoio do Estado brasileiro. Vamos encontrar vários argumentos e ações utilizados até hoje para negar-lhes os direitos, a autogestão e o direito à terra. Em seguida, temos três textos da autora como antropóloga e defensora dos direitos indígenas, publicados em anos diferentes. E, para finalizar, o futuro da questão indígena, como visto pela autora em 1994. Nele, ela também avança numa importante discussão teórica, tratando de identidade e cultura. Na verdade, todos os capítulos são textos da autora publicados, ao longo da década de 90, mas que, infelizmente, se mantém atuais, visto o pouco que se avançou nos últimos anos ou o muito que se retrocedeu em anos recentes. Mesmo assim, gostaria que houvesse pelo menos um texto contemporâneo à publicação do livro (2012). O Brasil produz muitos pesquisadores estupendos, que são mais reconhecidos na França, por exemplo, do que aqui. Além da própria Manuela da Cunha, recomendo Viveiros de Castro e Maria Celestino de Almeida, sem esquecer do próprio Ailton Krenak, um dos símbolos do movimento indígena e prolífico autor.