Joselene.Monteiro 28/07/2020Publicada em 1926, “Breve romance de sonho” é a obra mais célebre do poeta, dramaturgo e romancista austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931), conhecida sobretudo por ter inspirado o roteiro do filme “De olhos bem fechados” (1999), de Kubrick.
O enredo se desenrola em Viena. Um casal, depois de um baile de carnaval, dialoga sobre a experiência de flertar com outras pessoas. “Perguntas inocentes, mas perscrutadoras, respostas astuciosas e ambíguas eram trocadas; a nenhum dos dois escapava que o outro não fazia uso de toda a honestidade, de modo que ambos se sentiam dispostos a pequenas vinganças”. Nessa conversa acabam por revelar desejos ocultos, que, mesmo parecendo pouco influenciar em seu cotidiano feliz, mapeiam territórios secretos aos quais suas ações (reais ou sonhadas) podem arrastá-los. Diante de uma fantasia revelada por Albertine, a esposa, o marido, Fridolin, fica mordido de ciúmes. Ele, que é médico, sai para atender o chamado de um paciente moribundo e dali segue errante pela noite em busca de uma aventura que satisfaça seu desejo de vingança. Acompanhamos, então, Fridolin em sua perambulação por cenários oníricos em uma busca por prazer, que o conduz a um tormento insuportável do desejo, uma trama que mescla morte e erotismo.
A narrativa nos prende não somente pelo mistério, mas também pelos questionamentos que humano (ou felino) algum pode responder sem embaraço. “A vida somente pode ser posta em jogo por dever [...], nunca por capricho, paixão ou apenas para medir-se com o destino?” A realidade de uma noite — ou mesmo de toda uma vida — necessariamente significa a verdade mais íntima de alguém? Algum sonho pode ser totalmente sonho?
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