jota 03/01/2015Melancolia e humorÉ isso especialmente o que se encontra nas páginas de A Questão Finkler, do judeu britânico Howard Jacobson, que lhe conferiu o Man Booker Prize de 2010; aqui o livro só foi lançado em 2013.
Não é muito fácil atravessar suas mais de 400 páginas. Não que seja necessário um intelecto privilegiado para se usufruir da prosa de Jacobson, mais do que isso é preciso ter certa paciência. E alguma familiaridade com as questões judaicas, dentre elas o antissemitismo.
Só comecei a achar interessante a história de Jacobson quando estava quase chegando à metade do livro (embora em momento algum tivesse pensado em abandoná-lo) . Se os personagens principais são um tanto estranhos - os amigos Treslove, Finkler e Libor - e a trama não tenha nada de espetacular (ainda que aqui e ali pintem certos trechos curiosos ou envolvendo algum tipo de tragédia), os diálogos afiados, irônicos e engraçados conseguem manter nossa atenção a maior parte do tempo.
Philip Roth me veio à cabeça algumas vezes durante a leitura – cheguei até a pensar: "poxa, essa história ficaria bem melhor contada por ele". Mas o humor de um e outro são diferentes. Roth junta humor e tragédia como poucos; em Jacobson ele é sobretudo melancólico. O humor de Roth é americano, exuberante, o de Jacobson é britânico, bem mais contido.
O Finkler do título é Samuel Finkler, que prefere ser chamado de Sam. Ele é um judeu que detesta Israel; ele é, digamos assim, um judeu envergonhado por sua condição. Por outro lado o inglês Treslove, um não-judeu, sente certa melancolia por não ser filho de Israel; ele é o inverso de Finkler. E finalmente temos Libor, judeu checo, para quem, muito mais do que o judaísmo, lembrar da mulher morta é o mais importante.
Enfim, a questão Finkler é sobre três amigos singulares e também (e principalmente) é sobre a questão judaica. Ser ou não ser judeu, eis a questão - poderíamos dizer com Howard Jacobson, feito um outro inglês ilustre.
Lido entre 23/12/2014 e 03/01/2015.