Okayalaniss 20/05/2024"Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?"A narrativa mergulha nos relacionamentos imperfeitos de cinco personagens centrais – aqui conto com Kariênin, que sempre será minha favorita – cujas vidas se entrelaçam durante a história enquanto cada um experimenta a sua maneira o "peso insustentável" da vida. Ambientada durante a invasão russa à Tchecoslováquia em 1968, a trama destaca como as decisões desses personagens são moldadas pelo contexto político tenso da época, explorando as complexidades e contradições dos vínculos humanos e as implicações das escolhas individuais.
Particularmente, não me apaixonei por esta leitura (essa sempre é minha expectativa), em alguns momentos me perdi um pouco da história, e mesmo apesar disso foi com certeza leitura que me despertou boas reflexões e no final de tudo foi uma experiência nova para mim.
Destaques da leitura (spoiler alert!)
"Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?" –p.11
"Torturava-se com recriminações, mas terminou por se persuadir de que no fundo era normal que não soubesse o que queria" –p.14
"Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?" –p.14
"Tomas repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Poder viver apenas uma vida é como não viver nunca." –p.15
"No sábado e no domingo Tomas tinha sentido a doce leveza do ser chegar até ele vinda da profundeza do futuro. Na segunda-feira, sentiu-se oprimido por um peso que jamais conhecera." –p.39
"O corpo era uma gaiola e, dentro dela, uma coisa qualquer olhava, escutava, tinha medo, pensava e se espantava; essa coisa qualquer, essa sobra que subsistia, deduzido o corpo, era a alma." –p.48
"Não era a vaidade que a atraía para o espelho, mas o espanto de se descobrir nele." –p.49
"O sonho não é apenas uma comunicação (às vezes uma comunicação codificada), é também uma atividade estética, um jogo da imaginação, e esse jogo tem em si mesmo um valor. O sonho é a prova de que imaginar, sonhar com aquilo que não aconteceu, é uma das mais profundas necessidades do homem. Eis aí a razão do perigo pérfido que se esconde no sonho. Se o sonho não fosse belo, poderia ser rapidamente esquecido." –p.66, 67
"Os extremos delimitam a fronteira além da qual a vida termina, e a paixão pelo extremismo, em arte como em política, é desejo de morte disfarçado." –p.104
"O drama de uma vida sempre pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo nos ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não, lutamos com ele, perdemos ou ganhamos." –p.134
"São precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência." –p.152
"A unicidade do "eu" se esconde exatamente no que o ser humano tem de inimaginável. Só podemos imaginar o que é idêntico em todos os seres, o que lhes é comum. O "eu" individual é o que se distingue do geral, portanto o que não se deixa adivinhar nem calcular antecipadamente, o que precisa ser desvendado, descoberto, conquistado no outro." –p.213
"Parece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar memória poética e que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida." –p.223
"É muito mais importante desenterrar uma gralha enterrada viva do que enviar um manifesto a um presidente." –p.236
"E, de novo, veio-lhe à cabeça uma ideia que já conhecemos: A vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dada uma segunda, uma terceira, uma quarta vida para que possamos comparar decisões diferentes." –p.239
"Antes de sermos esquecidos, seremos transformados em kitsch. O kitsch é a estação intermediária entre o ser e o esquecimento." –p.296
"Sempre admirei os que têm fé. Acho que possuem o dom especial da percepção extrassensorial, que me foi recusado." –p.328