jota 04/12/2021MUITO BOM: é Balzac contando uma (longa) história familiar cheia de detalhes, mas que cativa profundamente o leitorLido entre 23/11 e 03/12/2021. Avaliação da leitura: 4,7/5,0
Penso que Os Dois Irmãos, um dos títulos que Balzac teria dado para essa história, ficaria melhor do que Um Conchego de Solteirão, que é como ela está registrada no volume 6 de A Comédia Humana, da editora Globo, texto que efetivamente li. É uma narrativa longa, com diversos personagens, que tem lugar em Paris e também numa cidadezinha do interior francês, Issoudun, que existe ainda hoje.
Tudo começa na capital francesa onde vive a outrora rica viúva Ágata Rouget, juntamente com sua tia, a sra. Descoings, inveterada jogadora da loteria francesa, que acaba empobrecendo a sobrinha com seu vício e suas dívidas. Com as duas vivem os filhos de Ágata, Felipe e José Brideau, jovens completamente diferentes entre si, não apenas fisicamente, também pelo modo como pensam e agem.
O mais velho, o desregrado Felipe, que se torna um rapaz de bela estampa, pensa em ser militar, mas é gastador e pouco confiável. José, feio, tímido e desajeitado tem pendores artísticos, deseja ser pintor. A mãe não vê utilidade alguma na pintura e tem preferência pelo mais velho, a quem perdoa as falcatruas e ainda acaba pagando suas dívidas, no que conta com a ajuda até mesmo de José, empobrecendo-os mais ainda.
Sem recursos, Ágata recorre ao irmão João-Jacques Rouget, o solteirão do título, que vive em Issoudun, e a quem o pai deles, dr. Rouget, deixou praticamente toda sua herança porque não aprovava o casamento da filha com Brideau. Mas Ágata encontra empecilhos na presença de uma garota, Flora, que fora adotada (ou criada) por João-Jacques; a moça conta com a ajuda de Maxêncio Gilet, um aventureiro e seu namorado (ou amante). Ambos têm planos de tomar a fortuna de João-Jacques, fugir para Paris e gastar o dinheiro do solteirão. Desse modo, a visita a Issoudun resulta em fracasso: Ágata e José são humilhados no vilarejo e retornam a Paris.
Sabendo da história toda, Felipe vê nisso uma chance de finalmente enriquecer às custas dos bens do tio João-Jacques e da herança da mãe, em posse do tio. Mas tem de enfrentar os amantes Maxêncio e Flora. Nesse ponto já estamos caminhando para a parte final da história; então ficamos curiosos para saber como tudo irá se resolver. Se os interesseiros Flora e Maxêncio serão castigados, se os bondosos (ou tolos) Ágata e José terão direito à herança do solteirão Rouget, se o grosseiro Felipe finalmente se tornará um filho amoroso e correto. Ou se nada disso se dará...
Bem, mais do que esse resumo extremamente reduzido da narrativa, importa deixar registrado aqui que Balzac, como todo mundo (que aprecia boa literatura) já sabe, é um exímio contador de histórias, então o livro, que é cheio delas, de diversas subtramas em torno da trama central, proporciona enorme prazer ao leitor, dispensando assim a enumeração de todas as qualidades de Um Conchego de Solteirão. Ou Aconchego...