Sarah 07/08/2013Ao pegar o livro, todas as coisas me empolgavam e me excitavam. A expectativa que eu criei para lê-lo foi tanta que precisei guardá-lo por uns dias antes de começar, de fato, a leitura. A sinopse, a orelha e o título não dizem muito sobre o enredo propriamente dito. Só aumenta o mistério.
E foi isso que mais gostei. A sensação do inesperado, de uma história totalmente desconhecida, do diferente. E do poético.
As palavras de Carina são cheias de poesia, das mais bonitas palavras às mais sombrias metáforas.
O livro é dividido em quatro diários, que se interligam e se completam.
O Primeiro diário também abarca uma introdução à tudo que ocorrerá no livro. Coralina de Lilá, que eu cismei que era algum tipo de variação do nome da Carina (Carina Corá, vê se não parece) é uma adolescente que está de mudança com sua mãe, sua única família, para uma casa aos pés de um bosque, onde mora uma não tão simpática senhora beata.
A casa é simples, mas tem sua beleza. Uma beleza campestre, bucólica, com um bosque por trás e uma torre. Uma torre totalmente desconexa da casa, da paisagem. Uma torre secreta, onde não se sabe como alcançá- la.
A vida de Coralina é devagar e sem graça. Nada consegue lhe tirar de seus sentimentos ruins, sua abnegação à vida, sua letargia. Ela não consegue entender o porquê de sua mãe ter ido morar ali, com aquela senhora. A troco de quê? E nada a faz se sentir feliz ou completa.
Depois de sonhos e mais sonhos que a faz focar toda sua vida e seus pensamentos na torre e tudo que há dentro dela, Coral decide procurar a entrada para ela e descobrir seus encantos na realidade.
O problema é que o que ela encontra lá dentro confunde seus pensamentos no que é real e imaginário. Do que é sonho para o que é verdade. Como uma viciada, Coral se entrega às novas descobertas e à Érus de uma maneira avassaladora, e não percebe que cada vez mais se aprisiona num mundo que não tem caminho de volta. Às vezes realmente parece que a história se trata de alguém viciado, tamanha a dependência da personagem pelo ficcional que lhe acomete. Apesar dos avisos, das lamúrias de sua mãe e da senhora Bianca Giacomina, ela teima e se entrega à esse mundo, à esse homem, e sofre todas as consequências quando tudo isso lhe é tirado de repente.
No segundo diário, conhecemos o passado, e tudo por que passou a Irmã Bianca. O porquê de ela conhecer os segredos de Coralina, o porque de sua solidão. Conhecemos o início de tudo, de Érus, de sua criação. De sua fixação por Coral. Todos os segredos são revelados. Todas as memórias, reais e fictícias são postas de frente e, como nunca, o nome do livro serve como uma luva. É perfeito quando começamos um livro, não sabemos o que esperar dele e ele nos surpreende a ponto de tudo fazer sentido.
O terceiro diário entendemos como tudo aquilo era uma forma de vingança de uma senhora solitária que, um dia viciada pelos problemas do filho, resolveu atormentar aquela que era seu espelho. Coral, além de ser os sonhos de Érus, sua fixação, seu maior presente e sua perdição, é o espelho da alma perdida de Irmã Bianca, a quem os sonhos esmaecidos pela realidade um dia foram apagados.
Muito mais do que uma história real, com fatos e descrições, Memórias fictícias nos encanta por nos trazer pensamentos e idealizações de mentes em transe. De mentes doentes, viciadas, perdidas em seus próprios devaneios.
Uma leitura complexa que nos toca o fundo da alma, nos faz retornar aos nossos próprios sentimentos e nossas próprias insanidades.
Com um final, apesar de esperado, sufocantemente apaixonado e que leva a tona toda a doença e desespero dos personagens, Carina Corá nos brinda com belas e lindas palavras de memórias. Memórias reais, e fictícias.
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