Leilane 26/12/2014
Tive de preparar um "ovo na cesta" depois de ler este livro
Quando li os treze livros de Desventuras Em Série, eu desconhecia o gênero que é uma influência nas obras de Daniel Handler que escreve sobre este universo por meio da visão de seu personagem Lemony Snicket, ou seja, seu pseudônimo, mas o senti o tempo todo, só não sabia o nome dele; esse gênero é o non-sense. Eu soube que tinha esse nome depois de ler Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, é um estilo de narrativa que mistura elementos com sentido a elementos sem sentido para desafiar as convenções da linguagem e da lógica, associado a um humor negro e situações muito absurdas. Então, quando li os dois primeiros livros dessa nova série, Só Perguntas Erradas, saber o nome não fez com que eu gostasse mais do estilo.
Nessa continuação da série, Lemony se vê em meio a outro mistério, o desaparecimento de Cleo Night, mas continua fazendo as perguntas erradas – é claro. Ele ainda desconhece as intenções de Tiro Furado – na verdade, elas estão mais indefinidas que antes –, ainda sente um forte sentimento indefinido por Ellington Feint, apesar de tudo que ela fez, e ainda é inferiorizado o tempo todo por sua tutora, S. Theodora Markson – que provavelmente nunca saberemos o que esse S significa. Porém, o lado positivo, é que está conseguindo mais aliados para sua missão que ele parece incapaz de largar.
Um dos pontos positivos do livro é que ele questiona o quanto os adultos podem ser cegos quando se trata de perceber o óbvio e o quanto podem ser manipuláveis se tiverem uma mente fraca, o filho dos policiais, por exemplo, é um “vilão” em formação, mas os pais só veem aquilo que querem e o que o filho quer mostrar para eles. Outro exemplo é a tutora do Lemony, ela se satisfaz com qualquer resposta que lhe cabe e parece incapaz de dar crédito a outros por justamente se achar superior e não conseguir reconhecer suas próprias falhas. Na verdade, esse é um questionamento também de Desventuras Em Série, ou seja, o autor traz para sua literatura uma valorização da sagacidade da mente das crianças e o quanto elas são capazes de entender assuntos polêmicos que normalmente os adultos preferem esconder delas.
O estilo não é dos meus favoritos, pois ele acaba dando uma sobrecarga de dualidades no leitor: muito enfático/muito indiferente; muito detalhado/muito vago; etc. E nesses altos e baixos, a leitura, apesar de rápida pela excelente diagramação e número de páginas (coloquei uma foto para vocês terem uma ideia, as cores das ilustrações seguem a cor principal de cada livro e tirei a foto dessa cena em particular, pois fui obrigada a preparar um ovo na cesta depois dela, que consiste em tirar um naco no centro de um pão de forma, colocar na frigideira e jogar um inteiro no meio, o ovo fica direitinho no centro; uma delícia), fica um pouco arrastada, completando assim mais uma dualidade ao ler essa série. Não é que eu desgoste da história, só considero o estilo um tanto cansativo.
Quando você a viu pela última vez? representa a segunda pergunta errada e o segundo livro da série, e a pergunta errada que me faço o tempo todo é: “quando vou parar de ler os livros desse autor?” É errada porque minha curiosidade não deixa. Sei que a história está fadada aos infortúnios, que saberemos menos sobre esse universo do que quando começamos a ler, mas ler livros que misturam non-sense com finais fatídicos parece uma mistura perfeita para nos impedir de pararmos de lê-los. Sem contar que são os detalhes que te prendem mesmo, quero muito saber mais sobre a empreitada que a irmã do Lemony, Kit, está envolvida. Só quando li este livro é que percebi que as ilustrações do início e do fim de cada livro representam o que está acontecendo com ela e, apesar de todos os mistérios escritos no livro, é essa linguagem não verbal dele – as instigantes ilustrações de Gregory Gallant, o Seth – que me deixa mais curiosa.
site: http://lerimaginar.com.br/blog/2014/04/07/quando-voce-a-viu-pela-ultima-vez-lemony-snicket/