Kime. 17/02/2024
O diário de Jack, o Estripador
O diário se inicia com uma introdução da autora relatando como o diário – aparentemente escrito por James Maybrick, um suspeito para ser Jack, o Estripador – acabou parando em suas mãos todos os percalços, os testes que foram feitos no diário e vários das críticas que recebeu de pessoas duvidando da sua legitimidade. Até que finalmente você percebe que não se trata de uma introdução extremamente longa, mas do livro em si.
Apesar da autora não concordar, acredito que a obra teria tido mais proveito se, de fato, ele tivesse caído nas mãos de um historiador, ou, no mínimo, de uma jornalista ao invés de cair nas mãos de alguém com aparente falta de experiência nessa área, adicionada a um limitado orçamento disponibilizado pela editora para que a autora possa realizar pesquisas para comprovar a autenticidade do diário.
Cansativamente somos bombardeados pela escrita falando que os críticos e céticos quanto ao diário não possuem fatos concretos para descredibilizar seus argumentos, alegando que alguns de seus relatos não passam de especulações, sendo que ela, em diversas partes ao longo do livro, faz especulações quanto como estava James Maybrick, onde ele estava, o que poderia estar fazendo, seus hábitos e como estava suas condições mentais. Inúmeras vezes ela reclama dos críticos por fazerem algo enquanto ela própria acaba também aderindo. Cometendo as mesmas falhas das pessoas que acusa de tentar descredibilizar sua obra.
Muitos nomes de pessoas, que, no final, não se agrega muito para construção argumentativa, ou detalhes que poderiam ser facilmente descartados, são nos apresentados diversas vezes, nos deixando – os leitores – confusos ao longo da narrativa apresentada, questionando para ou em que esses fatos poderiam acrescentar no que estamos lendo.
Durante a narrativa nos deparamos com informações conflituosas que a escritora escolhe deliberadamente ignorar, em prol da reafirmação da legitimidade do diário, que ela tanto prega e acredita insistemente.
Mais para a metade final da obra, somos apresentados a um breve relato – realizado nas palavras da autora – acerca dos crimes ocorridos em Whitechapel, com pequenos trechos presentes no diário.
A pior parte está no final da obra, onde mais uma vez a escritora tenta nos convencer, através de “provas” de alguns testes que o diário foi submetido. A começar por uma grafologia, que se trata de uma pseudociência que se diz poder falar sobre a personalidade de uma pessoa com base na sua escrita. Coincidentemente, a especialista descreve perfeitamente um quadro psicológico do Maybrick que o livro quer retratar, descrevendo que ele tinha tendências a violência, que não sabe distinguir o que era certo do errado que tem traços de esquizofrenia. Isso tudo com base na letra escrita do diário.
Porém, o mais absurdo é ela ter abordado o mapa astrológico do James Maybrick. Aparenta ser um argumento utilizado apelando para a crença das pessoas, com o intuito de provar seu ponto, porque, com argumentos não está sendo muito eficiente. Inicialmente no tópico é descrito que a astrologia não pode ser utilizada para determinar se a pessoa é ou não criminosa. Todavia, não muito depois no texto, ao constar que não haver o horário de nascimento de James Maybrick, não era possível afirmar com certeza se ele era realmente o Jack. É feita também uma comparação entre este caso e de outro estripador – o Peter Stucliffe, o estripador de Yorkshire – com base na disposição de dois planetas. Além de correlacionar uma conexão do estripador com o holocausto unicamente por meio da posição planetária.
Testes da tinta do diário não foram realizados de maneira deliberada devido ao orçamento ser menor do que o custo para sua realização seria necessário. Apesar de que algumas pesquisas independentes terem sido realizadas e, considerando todas elas, com resultado inconclusivo. Porém, ela escolhe um deles para dissertar, aquele que favorece sua crença.
É apenas no final do livro que temos acesso ao escrito do diário, ao que parece, na integram como se fosse um apêndice.
Esse é, sem dúvidas, um livro decepcionante, no qual a autora parece estar mais preocupada em atacar os críticos enquanto tenta nos convencer que o diário não é uma falsificação do que nos apresentar de fato o diário. Ela tenta utilizar de qualquer recurso para defender o que acredita, mesmo que não científicas e no campo da especulação.
Ainda mantenho o pensamento que a humanidade teria um maior beneficiamento caso o diário tivesse parado nas mãos de historiadores para que pudesse ser analisado e pesquisas performadas para, posteriormente, vir a público através de uma publicação, do que entregar nas mãos de uma autora, com um orçamento limitado, visando apenas o lucro e queixando-se de quem é contra.
No fim, a única coisa boa que possa vir do livro, é a beleza que ele pode deixar na estante. Porque pelo texto, quase me fez desistir inúmeras vezes. Apenas li até o final porque queria afirmar com convicção que ele não vale a pena.
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