spoiler visualizarFilino 31/07/2021
Um olhar pessoal sobre boa parte do pontificado de Bento XVI
A obra escrita por Andreas Englisch não é, em sentido estrito, uma observação que se pretenda imparcial acerca de vários anos em que Bento XVI ocupou o ministério petrino. Desde o início, suas impressões permeiam todo o relato - e uma parte não pequena da obra é dedicada a episódios em que o próprio autor ocupa o lugar principal.
De qualquer modo, o leitor se depara com um Joseph Ratzinger que parecia relutar em se assumir como papa - afinal, após toda uma vida como teólogo, numa rotina de estudos e até mesmo solitária, deparava-se como sendo, doravante, o centro das atenções e tendo que lidar com situações que, até então, lhe pareciam muito distantes. Os relatos do autor acerca da frieza de Bento XVI em relação a multidões, bem como a falta de tato demonstrada no episódio envolvendo Maomé, na polêmica envolvendo um bispo negacionista do Holocausto da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), ou um não reconhecimento mais incisivo acerca da conduta da Alemanha nos tempos no Nazismo, causam espanto ao leitor. Em tais acontecimentos, resta claro e evidente que Ratzinger não parecia moldado para desenvolver aquele ministério - e sempre é realizada uma comparação com o seu antecessor, Karol Wojtyla (João Paulo II).
No entanto, não é sem surpresa que, por outro lado, lemos como Ratzinger, em outros acontecimentos (mais para o fim do livro), Bento XVI parece, enfim, dar-se conta do seu trabalho. E o próprio autor parece surpreso com isso.
Trata-se de um relato bastante interessante. O modo de contar a história, por vezes, causa algum aborrecimento, pois o autor insiste em antecipar, com tons que beiram o melodramático, acontecimentos que serão vistos adiante (e isso se repete até mesmo sobre um mesmo episódio). Ademais, uma e outra impressão pareceriam dispensáveis. Isso, no entanto, por vezes parece convergir para uma intenção de "conversa" com o leitor. De qualquer modo, é uma obra esclarecedora sobre a personalidade de Joseph Ratzinger, a rotina (e a política) do Vaticano e o pontificado de Bento XVI até o ano 2011. Como toque final, a íntegra do seu discurso de renúncia, em fevereiro de 2013.