spoiler visualizarAlcio 03/03/2017
Uma alfinetada na cômoda alienação promovida pelo sistema.
O Poema Imperfeito é aquele tipo de obra de vem para desconstruir uma série de "certezas" e "verdades" amplamente difundidas nos dias de hoje e assim também aceitas por boa parte da humanidade.
Em seu livro, por meio de suas crônicas de leitura fluida e leve, Fernando Fernandez desmascara alguns dos conceitos que mais nos reconfortam e acomodam, deixando-nos passivos diante de toda a barbárie ecocida promovida pelo capitalismo, amparado em muitas situações por dogmas religiosos que impulsionam a destruição da natureza em favor do antropocentrismo.
Fernandez desmascara a distorcida ideia do "bom selvagem" que vivia em harmonia com a natureza por meio de sólidos argumentos baseados em evidências históricas, explicitando que o fenômeno de extinções de espécies animais por ação humana vêm desde os primórdios de nossa evolução, e que a natureza conhecida hoje, por mais preservada e intocada que possa parecer, é apenas um esboço do Poema Perfeito anterior à nossa existência.
Assim, também é desmentindo o conceito de que o homem é o ponto máximo da perfeição da criação, enquanto talvez sejamos apenas uma das mais infelizes coincidências evolutivas, com potencial de comprometer todo o ecossistema planetário. Feridas dolorosas como a superpopulação humana, a super exploração de recursos naturais, o consumismo descontrolado, das catástrofes ambientais cada vez mais frequentes e a omissão da sociedade são justificados pelo antagônico e controverso "desenvolvimento sustentável" mantendo assim a maior parte da população conformada com o modelo econômico vigente.
Fernandez clama por mudanças que certamente são um desafio a todos nós enquanto indivíduos, mas principalmente para o homem enquanto espécie, convocando-nos a uma reflexão profunda para entendermos o nosso real papel enquanto mais uma das milhares de espécies que viajam conosco na astronave chamada Terra.