Maria - Blog Pétalas de Liberdade 05/02/2018Resenha para o blog Pétalas de Liberdade A história é narrada em terceira pessoa, se passa em Paris, e nos apresenta a três jovens professores que dão aulas particulares de francês. Nico, que gosta de Chantal, que gosta do mulherengo Philippe. Eles se encontram de manhã, antes de partirem para suas aulas marcadas com alunos estadunidenses, e combinam de se encontrar no fim do dia.
Nico vai para sua aula com Josie e a leva para passear pelas ruas da cidade. Josie era professora e faria essa viagem para Paris com o homem com quem tinha um romance proibido há seis meses, mas ele morreu há três semanas. Muitas pessoas julgariam Josie pelo relacionamento secreto que teve, mas se falamos tanto na importância do amor, e se esse amor que ela viveu fosse mesmo o amor verdadeiro de sua vida? Eu prefiro não julgar, assim como não consigo imaginar o tamanho da dor que ela estava vivendo.
“Ela não tem trabalho nem lazer. Saiu do emprego há três semanas. O homem que amava morreu há três semanas.” (página 26)
“Durante seis meses, sua felicidade foi um segredo. Agora sua dor é um segredo. Não teve nenhum direito sobre o seu namorado. E não tem nenhum direito sobre essa dor.” (página 33)
A aula de Philippe é com Riley, que há um ano viveu o sonho de ir morar em Paris. Mas esse sonho está se transformando em um pesadelo já que seu marido a deixa sozinha em casa com os dois filhos pequenos e só pensa em trabalho, se esquecendo que tem suas responsabilidade como pai e companheiro, que vão muito além de colocar dinheiro em casa. Para piorar tudo, Riley, que sempre foi uma mulher inteligente, tem muita dificuldade de aprender o francês, o que dificulta muito o seu dia-a-dia.
A história de Riley nos mostra a realidade da maternidade que é sempre mais pesada para a mulher do que pro homem. Imaginem estar com duas crianças no colo, falar e não ser entendida. A situação, a solidão de Riley são desesperadoras. Novamente, alguns leitores podem julgar alguns comportamentos dela com seu professor, mas eu acredito que se não há mais amor numa relação, se só um se importa, já não há mais relação. Gostei muito da decisão tomada por Riley no final.
“Como é estranho uma pessoa se perder uma cidade, numa família, num casamento. Como é estranho ela nunca ter se sentido solitária quando morou sozinha, durante tantos anos, em Nova York. E, agora, embrulhada no pacote arrumadinho da família nuclear, membro de cada merda de grupo de expatriados que existe em Paris, de cada grupo de mães falantes de inglês, de cada grupo de esposas de expatriados, sente-se como aquela criança largada do lado de fora da escola – depois que todos já foram embora – porque a mãe se esquecera de ir buscá-la.
Será que chamam essa família de nuclear por causa do potencial de explodir?” (página 123)
“Porém não tem nada a dizer, pois não tem palavras para se expressar.
Sua carreira maravilhosa, da qual desistiu três semanas antes do nascimento de Cole – apesar de não se lembrar mais por quê – consistia em redigir comunicados críticos para grandes empresas. Queda de ações? O ECO pego no banheiro masculino com o contínuo? Me dê só um minuto e explicarei como isso é bom para empresa! Mas agora não é capaz de transformar nem a própria vida numa boa história – porque não tem palavras para isso. Je suis perdida." (página 113)
“Chuva. Odeia Paris. Esse é o segredo vergonhoso que carrega dentro de si. Que diabos há de errado com ela? Todo mundo ama essa merda de cidade.” (página 107)
A aula de Chantal é com Jeremy, que está na cidade acompanhando a esposa, uma atriz famosa que está gravando um filme em Paris. Ele e a esposa tem jeitos de ser completamente opostos, e Jeremy muitas vezes se sente incomodado nessa relação.
“É assim que conhecemos uma pessoa, ele conclui. A gente pensa saber muitas coisas sobre alguém até o fragmento de uma informação nova pegar todo esse conhecimento acumulado e o alterar tão completamente que somos obrigados a partir do zero.” (página 193)
“Lições de Francês” estava na minha estante desde 2013, e foi só com a Maratona Literária Desencalhando Livros que eu o li, e até que gostei da leitura. Se você procura um livro onde acompanhará a história dos personagens do início ao fim, não é o que encontrará em “Lições de Francês”. A obra é um recorte de um dia na vida desses personagens. E são justamente os personagens o que há de melhor no livro. Todos eles têm partes interessantes em suas histórias, que com certeza farão o leitor se identificar com um ponto ou outro. Algumas das coisas que mais gostei foram a relação de Jeremy com a enteada, a forma como ele se tornou um bom pai para ela, e as maneiras que Nico tenta encontrar para contar o segredo que guardou por tantos anos, sobre o dia em que esteve desaparecido.
Enfim, se fossem seis livros sobre as histórias dos seis personagens principais de “Lições de Francês”, poderíamos ter seis livros ótimos; mas o que temos são partes da vida dos seis personagens se encontrando num livro só, o que torna a obra uma leitura para passar o tempo e, é claro, conhecer e se encantar um pouco por Paris (ou não).
Eu gosto da capa de “Lições de Francês”, gosto da forma como há uma ilustração sobre um ponto turístico de Paris que vai ser importante no início da história de cada professor com seu aluno. A diagramação é boa, com margens, letras e espaçamento de bom tamanho. As páginas são amareladas, mas infelizmente acho que a qualidade do papel não deve ser muito boa, pois talvez pela umidade (ou pelo sol), meu exemplar ficou cheio de manchas amareladas com o passar dos anos.
Fica a minha recomendação para quem procura uma leitura rápida, com uma escrita fluida, bem ambientada em Paris e com personagens variados e interessantes.
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