spoiler visualizarFlavio.Gabriel 24/09/2016
Desemprego, o fim do mundo, o terceiro setor, bolsa família e hippies modernos antes de tudo isso acontecer
O livro foi escrito em 1995, então é necessário contextualizar-se à época. A reengenharia estava na moda, os avanços em tecnologia da informação estavam assustando as pessoas e o Downsizing era moda. Demissões em massa estavam ocorrendo pelo mundo e uma massa de trabalhadores estava desesperada. Esse é o contexto do livro, as promessas de um futuro acolhedor estavam se mostrando irreais, e teóricos do caos do consumismo começavam a surgir.
Jeremy Rifkin é um deles, entusiasta de um mundo onde o capitalismo deixa o protagonismo econômico e dá lugar ao chamado terceiro setor, ele mostra atravéa de muitas referências em pesquisa acadêmica, reportagens e estatísticas jornalísticas que as demissões em massa estavam ocorrendo mais do que em qualquer outro momento do século XX. Ele sempre dá o contra argumento que essa mão de obra pode ser realocada para um trabalho que demanda habilidades novas para lidar com as novas tecnologias que surgem, mas mostra que isso não é tão trivial quanto os economistas liberais pensam. Ele então mostra três caminhos a serem tomados: redução da jornada de trabalho em função do ganho de produtividade alcançado, uma renda social para estimular as populações onde uma economia de mercado não existe por conta de extrema pobreza e investimento público, privado e pessoal no terceiro setor como saídas para a crise do desemprego em escala mundial.
Junto desse livro, esse ano lí O Contrato Social do Rousseau e ví que o terceiro setor já era idealizado três séculos atrás, o consumo e o serviço em troca de moeda já se mostravam um dilema desde o surgimento do capitalismo moderno. Foi muito interessante ver também que a renda social já era incentivada desde os anos 70, e as transformações em comunidades inteiras que ela provoca ao redor do mundo. Ele mostra que a inserção de renda em comunidades sem fonte de renda estimula o setor privado muito mais do que estimula o ócio (como os pseudo intelectuais que nunca leram um livro de economia esbravejam pelo facebook). E a redução de jornada de trabalho tem se mostrado um sucesso em várias empresas desde os anos 30, porque estimula o desenvolvimento de tecnologia para aumentar a produtividade em função do tempo reduzido que o funcionário passa na empresa. Essas ações todas só ocorrem quando há planejamento de longo prazo, o que justifica a não adoção ou o grande protesto comum porque, como diz o Eduardo Gianetti no seu livro "O Valor do Amanhã", sempre precisamos escolher entre mais retorno e mais gasto ao longo do tempo. Investimentos de longo prazo carregam riscos e o retorno não tem como ser contado com precisão, o que leva a sociedade viver no formato atual ao invés de investir em uma forma de trabalho menos penosa e mais produtiva. Mas uma revolução está acontecendo hoje, e algumas grandes empresas estão sendo engolidas por uma nova forma de trabalho, enquanto parte da população está buscando cada vez menos consumo e mais tempo para viver melhor. Escolhas de cada um, só o futuro dirá quem se sairá melhor nessas decisões.
Esse livro, de 21 anos atrás, antes de MSN, Youtube, carros elétricos e smartphones, erra nas previsões apocalipticas, mas acerta que uma mudança na forma como a sociedade encara o trabalho, está acontecendo e agora. E quem não pensar no amanhã será engolido por ele.