A Atualidade do Contestado

A Atualidade do Contestado Milton Ivan Heller




Resenhas - A Atualidade do Contestado


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ana :) 08/09/2021

"Homens que não ameaçavam ninguém e não deveriam ser atacados e mortos"
"O Contestado viverá para sempre como um elo entre o passado e o fim dos tempos. Tem alma e luz próprias, não pode ser esquecido ou silenciado. Suas origens remontam à infância da humanidade e ao comunismo primitivo quando todos eram irmãos e irmãs e viviam em harmonia, pois não havia riqueza nem pobreza, escravos e senhores, cobiça e rivalidades." (HELLER; Milton, 2012, p. 257)

Uma recomendação feita pelo meu avô, um homem que aprecia a leitura em conjunto do conhecimento.

Inicialmente, é dado um contexto primitivo que ultrapassa milênios, em que os homens passaram de coletores à produtores, e quem não passasse, seria considerado primitivo e, consequentemente, subjugado.

O Contestado não foi uma guerra justa. De um lado, sertanejos que nada tinham para sobreviver, apoiavam-se no messianismo como forma de pertencer e ter algum propósito, de outro, latifundiários que pouco se importavam se nas terras que apossavam e plantavam tinha gente. Com a vinda de três messias, conflagrou-se um povo reunido em volta de um misticismo, esse que gerava temor aos governantes, latifundiários e Igreja.

É um bom livro àqueles interessados em conhecer mais sobre, e entender o porquê da atualidade do Contestado. São fatos que nos deixam reflexivos quando comparados com a contemporaneidade.

Alguns trechos que destaquei no histórico de leitura, mas gostaria de relembrar:

"Os movimentos messiânicos, sempre caluniados ou mal compreendidos são apresentados como aberrações. Mas ao invés de constituírem crises de obscurantismo e fuga para o absurdo, estes movimentos provêm do conhecimento da realidade e agem sobre ela. Revelam uma tomada de consciência diante das injustiças e concretizam a ação para a reparação desses males." (Maria Isaura Pereira de Queiroz em “O Fanatismo no Brasil e no Mundo'', Ed. Alfa-Omega, 1970 SP, 2ª edição)

"Limita-se a descrever as populações dizimadas a ferro e fogo como atrasadas, embrutecidas, supersticiosas e incapazes de se dedicarem ao trabalho honesto e produtivo. Há uma visível preocupação em taxar os pobres e abandonados habitantes dos confins deste país continente como fanáticos e bandidos, o inimigo interno que deve ser exterminado para o bem geral da nação. E substituído por imigrantes europeus, tidos como laboriosos e empreendedores progressistas. [...] Ou seja, davam-se aos imigrantes tudo o que os caboclos nossos patrícios nunca tiveram." (HELLER; Milton, 2012, p. 83)

"O fanatismo religioso é uma reação, embora os seus protagonistas não tivessem esta compreensão, uma repulsa à sociedade que os faz perecer de fome e quando adoecem procuram um curandeiro que veneram como um salvador, um guia espiritual."(HELLER; Milton, 2012, p. 90)

"Homens de mãos calejadas que logo seriam chamados de fanáticos e bandidos ou jagunços, caçados como bichos e sujeitos a morrer de fome ou de armas na mão." (HELLER; Milton, 2012, p. 91)
"Os caboclos do Contestado eram considerados boçais, atrasados, supersticiosos e vagabundos pela sociedade em torno, mas, quando decidiram reagir contra as injustiças que sofriam passaram a ser taxados de fanáticos e bandidos ou jagunços, assim como os devotos do conselheiro eram acusados de monarquistas. Tudo para justificar as guerras de extermínio. E o monge José Maria seria apontado como sanguinário e devasso, uma espécie de Rasputin do sertão. Tinha simpatia pela Monarquia e suas pregações de certa forma eram um saudosismo deturpado. Mas incrivelmente semelhantes ao discurso do conselheiro nos confins da Bahia: a República é a lei do cão; a Monarquia é a lei do céu. E tanto lá como cá existia a utopia de criar uma sociedade livre onde todos seriam irmãos, e construir a cidade santa de Nova Jerusalém." (HELLER; Milton, 2012, p. 208-209)

"Não foi só o soldado que venceu a jagunçada. Foi a fome, a doença, as febres." (Depoimento de um sobrevivente, Benedito Chato)
"Todos sabiam que a Guerra do Contestado terminara pela exaustão dos combatentes que enfrentaram forças muito mais poderosas. Mas predominava ainda a mentalidade de que era preciso caçar e exterminar os sobreviventes, onde quer que estivessem. E isto seria feito com uma criminosa "operação limpeza" como nunca se viu em lugar algum do mundo." (HELLER; Milton, 2012, p. 241)

"Parece-nos que é mais acertado situar o Contestado muito além da questão de limites entre dois Estados e da situação de miséria e abandono em que vivia a sua população, influenciada por monges e beatos e oprimida pelo poder ilimitado do latifúndio. Vítimas de violências com ou sem razões, humilhados e espoliados como os índios que ocupavam vastos territórios e foram escravizados ou dizimados aos milhares. Foragidos da justiça, ex-combatentes das revoluções gaúchas, desempregados da ferrovia, posseiros expulsos de suas terras e muito mais. Foram estes alguns dos fatores que resultaram na guerra camponesa e no sacrifício inútil e brutal de sertanejos laboriosos." (HELLER; Milton, 2012, p. 259)

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Pedroso.Gessy 27/07/2014

Da Pré-Historia a História do Paraná
O livro é interessante mas perde muitas paginas falando do conceito de Lutas de Classes, formação do campesinato e a construção de alguns conceitos sobre o tema. Deferia ser sucinto nisto. Outra critica e também fazer praticamente a mesma coisa falando de toda a História do Paraná. poderia ser mais resumida. Na parte que fala sobre o Contestado fala sobre os monges em um capitulo a parte cheio de informações. Da guerra e da documentação e estudiosos e pesquisadores é farta. Outra coisa interessante dessa obra e como esta a situação da região e os movimentos que pregam mudanças que pode ser até tachada de radicais. Vale a pena a leitura, na minha opinião.
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