Leilane 26/12/2014
Uma leitura excelente para os amantes de livros e para quem gosta de um grande enigma
Clay Jannon é web designer, mas a recessão fez com que todas as vagas disponíveis desaparecessem, por isso, assim que ele vê uma placa de precisa-se de atendente noturno na Livraria 24 horas do Mr. Penumbra, ele imediatamente tenta e se torna o mais novo atendente dessa misteriosa livraria que vai muito além dos livros.
O Mr. Penumbra é um velhinho simpático e misterioso, ele percebe algo de especial em Clay imediatamente, por isso logo o contrata, mas não dá informações, apenas que ele deve estar sempre atento a determinados clientes que chegam para pegar livros de uma seleção que Clay chama de “o catálogo pré-histórico”, eles deixam um e retiram outro utilizando um código que os identificam, e fazer anotações num livro de registro sobre tudo da vinda do cliente, das roupas ao comportamento. Claro que Clay eventualmente acaba ficando curioso sobre o catálogo e o leitor embarca com o personagem nessa busca que conta com amigos bem talentosos.
Tenho certo fascínio por livros que estejam relacionados a palavras derivadas de livros: livro, livraria, biblioteca, bibliotecário etc. Até hoje, já li O Livros Selvagem (lindo demais, assim como descrevem este livro, também é uma carta de amor aos livros) e O Livro das Princesas, mas também tenho O Livro das Coisas Perdidas e O Livro do Amanhã. Exceto O Livro das Princesas, que a motivação foi a Meg Cabot, todos os outros eu tenho por causa do nome e mesmo acontece com A Livraria 24 horas do Mr. Penumbra. Só as primeiras páginas já me envolveram no mistério e fiquei curiosíssima para saber o segredo da livraria. A primeira citação que separei é uma descrição do lugar feita pelo personagem principal, Clay Jannon:
“Lá dentro: imagina a forma e o volume de uma livraria normal virada de lado. O lugar era absurdamente estreito e vertiginosamente alto, e as estantes iam até o teto, três andares de livros, talvez mais. Estiquei o pescoço para trás (Por que livrarias sempre o obrigam a fazer coisas estranhas com seu pescoço?) e as prateleiras desapareciam suavemente nas sombras, de um modo que sugeria que elas pudessem continuar para sempre.” (p.15)
Os personagens dessa história são tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão comuns que meio que dá um nó na cabeça. São pessoas muito talentosas que escolherem muito bem o que querem para a vida, até mesmo Clay, por mais que ele não esteja atuando em sua área, ele é bom no que faz, mas eles são comuns, pois agem como pessoas normais no que diz respeito a relacionamentos interpessoais, são fiéis aos seus amigos e no quesito romance agem como a maioria agiria no mundo real: se há um interesse mútuo entre as partes, começam um relacionamento para ver no que dá, ou seja, o livro não tem romance. Mas dá muito valor as amizades, mostra que quando escolhemos as pessoas certas para serem nossos amigos, conseguimos superar mais facilmente os obstáculos do mundo, não apenas com que cada amigo pode oferecer, mas porque tê-los ao nosso lado deixa tudo mais especial.
Apesar da curiosidade que o autor instala no leitor, a leitura não foi do tipo para ser devorada, há tantas coisas que nunca ouvi falar no livro que meio que eu precisava de um tempo para absorver, não que seja muito complexa, é bem fluida e se a pessoa estiver com tempo – o que não era meu caso –, dá para ler de uma vez só, mas saber que existem scanner de livros do tipo montáveis a do tipo super-rápidas, que o Google tem projetos para as coisas mais impensáveis possíveis, mas que podem ser muito necessárias no futuro – afinal não é isso que aconteceu até agora com tudo o que o Google criou –, que sabemos quase nada do “conhecimento antigo”, ou seja, muitas das coisas que foram descobertas com o passar do tempo ainda estão inacessíveis para o público em geral, pois elas estão na cabeça das pessoas ou em livros antigos, que nosso cérebro, apesar de ser o mesmo de nossos antepassados, está constantemente se adaptando a novos conceitos como um hardware com um software atualizado… Bom, é muita a coisa a se pensar e isso é uma das características mais instigantes do livro.
“… o scanner de livros entra em ação. As luzes fortes começam a piscar como um estroboscópio, fazendo com que tudo ali dentro ficasse parecendo um filme em câmera lenta. Quadro a quadro, os braços de aranha do scanner se estendem, se prendem à ponta de uma página e a viram. É hipnotizante. Nunca tinha visto algo ao mesmo tempo tão rápido e tão delicado. Os braços faziam carinho nas páginas, alisavam-nas. Essa coisa ama livros.” (p.98)
“– Temos o mesmo hardware, mas não o mesmo software. Você sabia que o conceito de privacidade é, bem, totalmente recente? E também a ideia de romance, é claro.” (p.68)
E nem comentei ainda do enigma que representa a livraria, e bom, nesse caso, prefiro deixar para o leitor do livro descobrir, mas posso dizer que está relacionado a livros, óbvio, e códigos…
” […] os livros que mais gosto são como cidades abertas, com todos os tipos de maneiras de passear por eles. Isso aqui é uma fortaleza sem portão de entrada. Espera-se que você escale as muralhas, pedra por pedra.” (p.182-183)
Eu realmente amei o livro como um todo, a capa é lindíssima, a edição em inglês até que é bonita com todos aqueles desenhos de livrinhos amarelos, mas a Novo Conceito caprichou e a edição brasileira ficou a melhor entre todas as publicadas. Quanto a história, parece morna no começo, mas o mistério envolve o leitor, não tem como não ficar tentando encontrar pistas, descobrir antes mesmo do personagem o que está acontecendo, mas confesso que eu não descobri até ler. Também fiquei ainda com muita vontade de ler a série fictícia As Crônicas da Balada do Dragão – a favorita de Clay –, mas terei de me contentar com os trechos que o autor apresenta no livro, pois essa é um série que entra para as séries da história da literatura que nunca serão escritas – bom, em tese, vai que o Robin Sloan decide escrever?
“– A magia não é o único poder deste mundo. […] Griffo fez um instrumento tão perfeito que até os mortos precisam se erguer para ouvir o seu chamado. Ele a criou com as próprias mãos, sem feitiços ou baladas de dragões. Eu queria poder fazer o mesmo.” (p.201)
Também fiquei com muita vontade de ler outro livro citado nesse, não sei se é o mesmo, mas talvez seja o que foi publicado em inglês, em setembro desse ano, o livro se chama Ajax Penumbra 1969, é como se fosse o livro 0.5 de A Livraria 24 Horas do Mr. Punumbra, não sei se a Novo Conceito o publicará, mas conta a história de como o jovem Penumbra se envolveu com a livraria, quero muito lê-lo, provavelmente vou adquirir e-book em inglês e ficar na torcida para que a Novo Conceito o publique, pois amei o Penumbra, uma pessoa que passou a vida inteira se dedicado àquilo e não deixou que seu ego atrapalhasse na hora de aceitar a verdade, ele se mostrou a mesma pessoa sonhadora e que acredita nas pessoas que contratou para a loja e, bem, ele não se enganou nem um pouco, todos eles foram essenciais para a história.
Por fim, também considero que o livro é parte carta de amor aos livros, o potencial e seu valor são amplamente explorados, então é uma leitura excelente para os amantes de livros e para todos que querem descobrir um grande enigma.
site: http://lerimaginar.com.br/blog/2013/11/09/a-livraria-24-horas-do-mr-penumbra-robin-sloan/