Gabriel 22/12/2023
É um livro bastante extenso, mas uma boa porta de entrada para o estudo da mitologia grega.
Entendo muito pouco de mitologia e história antiga, ao menos por enquanto. Nesse sentido, esse livro é bastante esclarecedor. O autor não se limita a apenas contar os mitos um por um, mas explicar sua origem provável. A interpretação dada aos mitos nesse livro não é filosófica ou alegórica, mas de fato condizente com a formação histórica dos mitos. O autor explica que os mitos são histórias que surgem e são recontadas a partir dos costumes, da política e da visão subjetiva de quem está dominado a narrativa.
É defendido nesse livro que a Grécia arcaica era composta de povos matriarcais, nos quais as líderes espirituais eram as mulheres, as deusas mais importantes também eram femininas, e para ser rei era preciso se casar com a herdeira do trono. A mulher era mais importante, pois só ela podia dar vida, sendo a importância do pai secundária, principalmente em sociedades que não possuíam o conceito de monogamia.
Os reis eram casados com a herdeira do trono, uma suma-sacerdotisa, representante da deusa. Esse rei reinava por cerca de 8 anos, depois era sacrificado em rituais. Esses rituais, tal como o nome que era dado aos reis sagrados e às deusas, deram origem aos deuses e heróis da mitologia, tal como suas histórias. Com o tempo, devido as invasões dos helenos na Grécia, houve a transição para o patriarcado. A violência do patriarcado contra o matriarcado, da monogamia contra a sexualidade feminina livre, é representada nos mitos, os quais são responsáveis por ocultar o passado, substituir ideias e estabelecer paradigmas de comportamento.
Um mito não é necessariamente misterioso, nem é mágico, mas sim político, reflete os costumes do povo e as ideias vigentes no momento em que está sendo contado, mas pode também deixar permanecer, mesmo sendo distorcido pelos novos costumes, rastros do que aquele povo foi em eras remotas.
Mesmo os mitos sendo usados para estabelecer ideias do patriarcado, ainda é possível ver neles vestígios do matriarcado. Menelau só era rei de Esparta porque casou-se com Helena, e, quando Odisseu estava fora de Ìtaca, uma multidão de pretendentes surgiu para tentar se casar com sua esposa, Penélope, na intenção de ganhar o direito de ser rei.