Minha Alma Anagrama de Lama

Minha Alma Anagrama de Lama André Dahmer




Resenhas - Minha Alma Anagrama de Lama


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Elder F, 16/05/2013

Viver de noite me fez senhor do fogo
O excesso de dados gerados pelas diferentes redes sociais a cada segundo é desnorteador. Se antes o Facebook tinha problemas para gerenciar as suas bases de dados, agora são os usuários quem tem problemas para gerenciar e filtrar as informações constantemente geradas e postadas nas suas timelines. Foi no meio desse número volumoso de dados (dispensáveis) e discreto de informações (relevantes) que acabei conhecendo, entre as frases de efeito com frequência compartilhadas e as discussões dos ativistas virtuais, a página do cartunista carioca André Dahmer.

André Dahmer é um cartunista brasileiro celebrado pela nova geração e é largamente conhecido pelas suas tirinhas dos Malvados. Os trabalhos do cartunista abordam questões contemporâneas sobre a sociedade da informação e como essa sociedade influencia no nosso comportamento. O humor politicamente incorreto das tirinhas é um dos grandes atrativos nos desenhos de Dahmer e a crítica à sociedade aliada ao talento do cartunista são suficientes para despertar a atenção (e o ânimo) de qualquer um. Nos seus 38 anos, o autor já publicou sete livros: Malvados (2005), O livro negro de André Dahmer (2007), Malvados(2008) e A cabeça é a ilha (2009), Ninguém Muda Ninguém (2011), Rei Emir Saad: O monstro de Zazanov (2011) e, lançado alguns meses atrás, Minha Alma Anagrama de Lama (2013).


Publicado pela Mórula Editorial, Minha Alma Anagrama de Lama é uma compilação de poemas e desenhos de três cadernos de anotações do cartunista André Dahmer. É o segundo livro do gênero lançado pelo autor e é dedicado ao poeta Erico Pires, amigo do autor falecido no ano passado, e sua a filha, Nina, a qual ele afirma ser sua "lua teimosa da manhã". Nas primeiras páginas o livro logo desponta com algumas palavras do poeta curitibano Paulo Leminski: "viver de noite me fez senhor do fogo". É esse o ponto de partida para a arte, daí em diante o livro é autêntica poesia e doses de humor.

Os traços são um tanto rústicos e a naturalidade em cada página não passa despercebida. A impressão de que é o próprio livro de rascunhos do autor que se tem em mãos é constante, pois além da caligrafia ter sido preservada, o formato do caderno também está lá, como se fosse um mini-novo testamento (que os mais conservadores não enxerguem isso como blasfêmia, amém). Eu, desde o dia em que comprei, abro todo dia uma página do livro e tento absorver algo diferente ou tento apenas extrair das páginas algo que me faça sorrir.


Os textos são breves, nada das longas poesias as quais estamos habituados, mas quantidade nunca foi parâmetro pra qualidade e eu ando tão absorto com esse livro que essa semana escrevi essas palavras (da imagem acima) despretensiosamente num pedaço de papel e deixei na mesa da sala. Umas horas mais tarde voltei pra casa e encontrei minha mãe preocupada tentando entender o papel riscado: "meu filho, você deixou um bilhete pra mim, mas eu não entendi nada, que problemas são esses? que poesia?". Não me contive de tanto rir, mas acho que acabei saindo pra fazer poesia mesmo, só que a poesia ficou em mim e acabei não externalizando nada.

O livro, essa primeira e até agora única edição pra ser específico, teve apenas mil cópias. Eu, que já conhecia o trabalho do cartunista das redes sociais, danei a comprar minha edição logo que as vendas começaram e agora quero comprar os outros livros (se eu os encontrar). Se eu pudesse (meu dinheiro desse e o autor deixasse), eu iria emoldurar algumas das poesias e desenhos do livro e guardar na minha estante, outros eu até daria de presente (tipo o "Sobreviver: mil e uma louças para lavar antes de morrer"). No entanto, descobri hoje que no site dos Malvados tem os desenhos originais emoldurados e agora ando estudando a possibilidade de comprar alguma moldura pra pendurar na parede do meu tão humilde quarto.


Me separo
Da noite horrenda
Caso com uma manhã
Que me entenda


Mas ainda falando sobre o livro: é poesia e toda a poesia é válida independente da forma com que ela se manifeste. Minhas recomendações são muitas, primeiro pela habilidade do homem com as palavras, segundo porque precisamos de mais poesia nos nossos cafés da manhã. Minha Alma Anagrama de Lama funciona como um saboroso desjejum para esses tempos de péssimos hábitos alimentares. Mas enquanto não dá para encomendar esse café, vale a pena curtir as tirinhas da página do Dahmer que já funcionam como um bom prato de entrada para tanto talento: http://www.facebook.com/malvadoshq.

Mais em: http://oepitafio.blogspot.com.br/2013/04/resenha-minha-alma-anagrama-de-lama.html
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR