O Último Dia de um Condenado à Morte

O Último Dia de um Condenado à Morte Victor Hugo




Resenhas - O Último Dia de um Condenado


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Alane.Sthefany 13/10/2023

O Último Dia de Um Condenado - Victor Hugo
No livro "O Último Dia de Um Condenado", Victor Hugo trás uma temática moral e ética sobre a pena de morte, fazendo o leitor refletir sobre essa questão, pois temos acesso direto ao diário de um personagem (de nome desconhecido) que foi sentenciado a morte.

O livro não nos apresenta muitas informações sobre o crime cometido, mas revela-nos no decorrer das páginas que o personagem matou uma pessoa, e foi por causa desse crime (assassinato) que ele está sendo condenado, devido a ausência das circunstâncias e do que motivou e incitou o personagem a cometer esse assassinato, torna-se difícil e desafiador para o leitor fazer um julgamento sobre o caso.

Durante a leitura, acompanhamos os seus últimos dias, seus últimos pensamentos e reflexões, e também o seu desespero ao saber a data exata que terá a sua sentença de morte realizada, que segundo o personagem, isso é ainda pior que a própria morte, saber que dia ela será sem poder fazer nada a respeito e muito menos algo que possa mudar o que sucederá.

A todo o instante, o personagem argumenta em sua defesa, tentando nos convencer de que ele merece ser castigado, mas não receber uma sentença tão pesada como essa. E que esse diário, com as últimas palavras de um condenado a morte tenha o poder de ao menos fazer as pessoas repensarem antes de criarem e apoiarem leis tão duras e semelhantes como essa, tornando a mão de quem julga um pouco mais leve.


"Este diário dos meus sofrimentos, hora por hora, minuto por minuto, suplício por suplício, se tiver forças de o levar até ao momento, em que me for fisicamente impossível continuar, esta história, necessariamente incompleta, mas tão completa possível, das minhas sensações não terá consigo um grande e profundo ensinamento? Não haverá neste libelo do pensamento agonizante, nesta progressão sempre crescente de dores, nesta espécie de autopsia intelectual dum condenado, mais alguma coisa que uma lição para aqueles, que condenam? Talvez esta leitura lhes torne a mão menos leve, quando se tratar outra vez de mandar deitar uma cabeça, que pensa, uma cabeça de homem, naquilo que eles chamam a balança da justiça?"

"O que é a dor física em face da dor moral! Horror e piedade é o que causam leis assim feitas. Dia virá em que talvez que estas memórias, últimas confidentes dum miserável, para isso tenham contribuído.

A não ser que, depois da minha morte, o vento leve estes bocados de papel, sujos de lama ou que vão apodrecer à chuva, colados como estrelas, nalgum vidro quebrado do carcereiro."

"Que o que aqui escrevo, possa um dia ser útil a outros, que isso faça deter o juiz prestes a julgar e que salve desgraçados, inocentes ou culpados, da agonia a que eu estou condenado! Porquê? Para quê? Que importa? Quando a minha cabeça tiver sido cortada, que me importa a mim, que cortem outras?

O Sol, a primavera, os campos cheios de flores, as aves, que despertam de manhã, as nuvens, as árvores, a natureza, a liberdade, a vida, tudo isso já não é para mim!

Ah! A mim é que era preciso salvar! ? É então verdade que isso não pode ser, que é preciso morrer amanhã, talvez hoje, sem remédio?"


O personagem tenta apelar que ele é uma pessoa comum como qualquer outra, que possui uma família que depende dele e que o ama, e por causa disso sofrerá às consequências dessa sentença atribuída somente a ele, mas que afetará inocentes além dele e de que nada têm culpa.


"Deixo mãe, mulher e uma filha. ? Ai! Uma filhinha de três anos, bela, rosada e delicada, com uns grandes olhos pretos e longos cabelos castanhos.

Quando a vi pela última vez, tinha ela dois anos e um mês.

Assim, depois da minha morte, essas três mulheres ficarão sem amparo: uma sem o filho, outra sem marido e a terceira sem pai. Três órfãs de diferente espécie, três viúvas em consequência da lei.

Concordo que eu devo ser castigado, mas o que fizeram essas inocentes? Nada importa que elas fiquem desonradas e reduzidas à miséria! ? É a isto, que se chama justiça?

A sorte da minha pobre mãe não me inquieta, porque já está velha; tem sessenta e quatro anos e este golpe a matará.

Também me não inquieto com minha mulher; não goza saúde, o seu espírito é fraco e morrerá também. Salvo se enlouquecer. Dizem que a loucura faz viver; ainda assim o seu espírito não sofrerá e, embora viva, dormirá como se estivesse morta.

Mas minha filha, a minha pequenina Maria, que a esta hora talvez esteja rindo, brincando ou cantando, em nada pensando, essa é que me causa vivas inquietações."


Vale ressaltar que a todo instante o condenado atribui a responsabilidade da pena de morte apenas ao juiz que o sentenciou e julgou o seu caso, ou seja, a todos os homens que criaram as leis e decidiram que as pessoas que cometeram crimes dessa espécie, o melhor seria a pena máxima e que isso era para o bem maior, o bem da sociedade. No entanto, não mostra sinais de arrependimento ou de autorresponsabilidade sobre o crime cometido, não tendo a capacidade de compreender que ele foi o único responsável por estar naquela situação, mas a todo momento se faz de vítima e coloca os outros como os vilões e que a vida dele se encontra nas mãos desses homens.


"Não estava doente! Na verdade sinto-me novo, sadio e forte. O sangue corre livremente nas minhas veias; todos os meus membros obedecem a todos os meus caprichos; o corpo e o espírito, de constituição própria para uma longa vida, são robustos. Sim, tudo isto é verdade, e todavia padeço duma enfermidade mortal, duma enfermidade causada pela mão dos homens.

Eis o que vão fazer de teu pai, esses homens, que me não odeiam, que me lamentam e que me poderiam salvar. Vão-me matar! Compreendes isto, Maria? Matarem-me a sangue frio, com cerimonial, para o bem da sociedade."

"Quem te amará? Todas as crianças da tua idade terão pai, exceto tu. Como te desacostumarás tu, minha querida, da festa dos teus anos, dos presentes, dos doces e dos beijos? ? Como te desacostumarás tu, infeliz órfã, de beber e de comer?

Oh! Se ao menos os jurados a tivessem visto, a minha linda Mariazinha! Teriam compreendido que é preciso não matar o pai duma criança de três anos.

E quando ela for crescida, se lá chegar, no que se tornará? Seu pai será uma das recordações de Paris. Corará de mim e do meu nome; será desprezada, repelida por minha causa, por causa de mim, que a amo com toda a ternura do meu coração. Ó minha querida Maria bem amada! É bem verdade que terás vergonha e horror de mim?"


Mesmo com todos esses argumentos, o leitor se pergunta o porquê do personagem se lembrar e pensar na família apenas agora que foi sentenciado a morte, e por que não antes de cometer o crime? O impedindo assim de cometer tamanha barbárie em um momento de raiva ou seja lá o que o motivou a matar alguém, pois até mesmo essa pessoa em que ele ceifou a vida, tinha uma família e pessoas que dependiam dele e o amavam; e que naquele exato momento, seja qual fosse a decisão que o personagem tomasse e escolha que ele fizesse, traria consequências que não afetaria somente a ele, mas todos a sua volta.

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Opinião Pessoal

Pela minha resenha, fica até parecendo que compactuo com a pena de morte, no entanto, sou apenas um indivíduo que acredita que nossas escolhas têm consequências, seja elas pequenas ou grandes e que todos devem pagar pelo que fizeram. Entretanto, eu não sou a favor da pena de morte, até porque a justiça dos homens e o próprio sistema é falho e muitas vezes corrupto, incontáveis são os casos que inocentes morreram sentenciados a pena de morte, e somente após a morte deles, descobriu-se que não eram culpados, mas inocentes do que foram falsamente acusados.

Não defendo bandido, e o mínimo que eles deveriam fazer são trabalhos braçais e forçados, invés de ficar apenas gerando gasto e sendo sustentado pelos homens de bem, através de impostos.


Quotes Preferidos ?????

Uma revolução se acabava de operar em mim. Até à sentença de morte eu sentia-me respirar, palpitar, viver no mesmo meio, que os outros homens; agora distinguia claramente, como que uma espécie de separação entre o mundo e eu. Nada já me aparecia com o mesmo aspeto que antes. Essas largas janelas cheias de luz, esse belo Sol, esse céu puro, essa alegre flor, tudo se tornava branco e pálido, da cor duma mortalha.

Os homens são todos condenados à morte com prazos indefinidos. Então o que há de extraordinário na minha situação?

Desde a hora em que a minha sentença foi pronunciada, quantos morreram, que se estavam preparando para uma longa vida! Quantos se me avançaram, novos, livres e sãos, e que contavam ir ver em tal dia cair a minha cabeça na praça da Grève! Quantos daqui até lá, que andam e respiram ao ar livre, e se movem à sua vontade, levarão um avanço sobre mim!

E depois o que é que a vida para mim tem de saudosa? Na verdade o dia sombrio e o pão negro da prisão, a porção de caldo magro tirado da celha das galés, ser brutalizado pelos carcereiros e pelos guardas-forçados, não ver um ser humano, que me julgue digno duma palavra e a quem eu responda, tremer sem cessar, não só do que tiver feito, mas do que me farão; eis pouco mais ou menos os únicos bens, que o carrasco me pode tirar!

[...]

O que é a dor física em face da dor moral!

[...]

Deixo mãe, mulher e uma filha. (...)
Assim, depois da minha morte, essas três mulheres ficarão sem amparo: uma sem o filho, outra sem marido e a terceira sem pai. Três órfãs de diferente espécie, três viúvas em consequência da lei.

Concordo que eu devo ser castigado, mas o que fizeram essas inocentes? Nada importa que elas fiquem desonradas e reduzidas à miséria! ? É a isto, que se chama justiça?

[...]

Os mortos estão mortos (...); o sepulcro os guarda com segurança e o sepulcro é prisão de onde preso nenhum fugiu ainda.

[...]

Há um homem, que vai morrer, e é preciso que o vá consolar. É preciso que esteja junto dele, quando lhe atarem as mãos e cortarem os cabelos; que suba para a carreta com o seu crucifixo para lhe ocultar a vista do carrasco; que seja massacrado com ele até a praça da Grève; que atravesse com ele a horrível multidão sedenta de sangue; que o abrace junto do cadafalso e que aí permaneça até que a sua cabeça vá para um lado e o corpo para outro.

Que venha então palpitante, tremendo da cabeça aos pés; que me deixem nos seus braços, aos seus pés; e ele chorará, choraremos ambos; será eloquente e eu ficarei consolado, o meu coração abrir-se-á no seu, tomará a minha alma e eu tomarei o seu Deus.

Mas este bom velho o que é ele para mim? O que sou eu para ele? Um indivíduo da espécie desgraçada, uma sombra, como já viu tantas, uma unidade a juntar ao número das suas execuções.

[...]

Ninguém é mau só pelo prazer de o ser.

[...]

Quando penso na minha vida e no golpe, que daqui a pouco a deve terminar, estremeço como se esta ideia fosse nova. A minha bela infância! A minha mocidade, estofo doirado, ensanguentado numa das extremidades.

[...]

O que é então esta agonia de seis semanas e este estertor dum dia inteiro? O que são as angústias deste dia irreparável, que desliza tão lentamente e ao mesmo tempo tão depressa? O que é esta escala de torturas, que vai acabar ao cadafalso?

[...]

Mas se os mortos voltam, de que forma voltarão? O que conservarão do seu corpo incompleto e mutilado? O que escolherão? É a cabeça ou o tronco, que é o espetro?

O que é que a morte faz da nossa alma? O que lhe deixa? O que lhe dá ou lhe tira? Onde a põe?
CPF1964 13/10/2023minha estante
Parabéns pela resenha, Alane. Ficou Excelente.


Alane.Sthefany 13/10/2023minha estante
Muito obrigado! Fico feliz por você ter gostado, você também escreve ótimas resenhas ???


CPF1964 13/10/2023minha estante
Generosidade sua, Alane. Eu raramente faço resenhas. Não tenho capacidade como você e muitos outros por aqui.


Alane.Sthefany 13/10/2023minha estante
Acompanho os seus históricos de leitura, os livros que você lê em grupo e seus comentários sobre os livros que lê. Esse ano eu só fiz 9 resenhas, sendo que li mais de 100 livros, estava com preguiça de fazer, e só postava de vez em quando uns históricos de leitura com citações ou trechos que gostei. Capacidade você tem sim, até porque você comenta sobre o que gostou ou desgostou do enredo, e isso já é um parecer seu sobre o que você achou do livro, que se enquadra em uma resenha.


CPF1964 13/10/2023minha estante
De certo modo você tem razão, Alane. Li pouco este ano. Devo chegar em 60 talvez. Sempre vejo suas leituras. Você é uma leitora seletiva e voraz. 100 livros...???


Alane.Sthefany 13/10/2023minha estante
O importante é a qualidade dos livros e o quanto está aprendendo com eles. Para brasileiros que mais de 70% da população não lê ao menos 5 livros por ano, você está excelente e acima da média.

E parabéns pelo bom gosto literário ???

Gosto de ler às vezes livros que não exigem muito meu cérebro e a minha capacidade de pensar, mas quando entro de ressaca literária, sempre volto para os clássicos ?


Roberto.Vasconcelos 13/10/2023minha estante
Fiquei afim de ler , vou add a minha lista


Alane.Sthefany 14/10/2023minha estante
Roberto, espero que goste, a leitura é bem rápida, tem edições que só são 140 pág. Quero muito saber sua opinião sobre o livro ??


Canoff 14/10/2023minha estante
Não conhecia esse livro. Muito interessante! Obrigado pela recomendação indireta, Alane! ?


Alane.Sthefany 14/10/2023minha estante
Canoff

A premissa me chamou bastante atenção, eu queria conhecer também a escrita do autor, e por ser um livro pequeno, quis ler esse livro antes do calhamaço "Os Miseráveis". Gostei bastante da escrita do Victor Hugo. Minha meta do ano que vem, é ler "Os Miseráveis". Muitos falam bem desse livro. ?


Canoff 14/10/2023minha estante
Alane,


Eu também quero ler Os Miseráveis. Estou tomando coragem para lê-lo. Espero conseguir um dia, hahaha!


CPF1964 14/10/2023minha estante
Os Miseráveis.... O melhor livro já escrito......


Fabio 16/10/2023minha estante
Alane, que resenha maravilhosa!?
Parabéns pela escrita!???


CPF1964 16/10/2023minha estante
Muito Obrigado, Alane. Embora a vida seja um eterno aprendizado nos últimos tempos tenho lido apenas como entretenimento. Concordo com você. Os clássicos são um porto seguro.


Alane.Sthefany 16/10/2023minha estante
Obrigado, Fábio !!! ?


Fred 29/03/2024minha estante
Mas olha ... ?????? Que reserva


Alane.Sthefany 02/04/2024minha estante
Obrigado Fred ?




Leandro 09/10/2023

Leitura reflexiva
Livro narrado em primeira pessoa que nos mostra os últimos passos de um homen condenado a morte. Suas angustias, seus medos expressados antes de seu último suspiro. Ótima leitura!
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Isabelle 04/10/2023

Que livro incrível
Mas confesso que o que me tirou fôlego foi o prefácio de 1829, sensacional a história por trás do livro.
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Helena976 30/09/2023

O sangue do outro e o meu.
"Era sempre festa na minha imaginação. Eu podia pensar no que desejasse, eu era livre.
Agora estou encarcerado. Meu corpo está acorrentado numa masmorra, meu espírito está preso numa ideia. Uma ideia horrível, sanguinolenta, implacável! Tenho apenas uma convicção, uma certeza: condenado à morte!".

"Entre o então e o presente há um rio de sangue; o sangue do outro e o meu."
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Laysa1997 29/09/2023

Um livro manifesto
Lendo O Ultimo Dia de um Condenado, eu me lembrei, diversas vezes, do livro Dos Delitos e das Penas, do Cesare Beccaria - são leituras muito proveitosas de serem feitas seguidas ou, até, paralelamente. Assim como Victor Hugo, Beccaria também se posicionava contra as penas de morte e entendia que elas cumpriam muito mais uma função de espetáculo e vingança do que efetivamente diminuir a criminalidade. A diferença marcante das obras - ponto no qual elas se complementam - é que Beccaria deu um tom mais argumentativo e não ficcional, enquanto Victor Hugo trouxe uma espécie de humanização do condenado ao escrever uma "ficção" com narrador em primeira pessoa. É um livro bastante impressionante e angustiante: "Entendo. É um espetáculo que uma única olhada abarca por inteiro: num piscar de olhos tudo está visto...Nada distrai a atenção. Há apenas um homem, e sobre esse único homem tanta miséria quanto todos os forçados ao mesmo tempo."
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Lígia 27/09/2023

Mas afinal o que esse cara fez?
O livro inteiro o protagonista se lamenta pela vida perdida e pela miséria em que se encontra agora que é um condenado. Mas durante toda a leitura só consigo me perguntar ?O que ele fez para ser condenado à morte??. Victor Hugo sempre trabalha muito bem no âmbito das emoções e do sofrimento e é um de meus escritores favoritos, mas esse livro me deixou impaciente e um pouco indignada ao final, pois fiquei com perguntas que não foram respondidas.
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Anna 18/09/2023

Conto pequeno que me deixou milhares de reflexões. recomendo muito, principalmente pra quem curte essa temática mais realista e sobre consciência.
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Karime 15/09/2023

Vingar se é atributo do indivíduo, punir é de Deus.
O último dia e um condenado tem o discurso distinto sobre a Pena de morte a forma como ela era e ainda e aplicada e executada, deixando transparecer a hipocrisia do sistema penitenciário e o quê realmente e justiça.

Acompanharmos as semanas, dias e horas de um homem condenado à morte, após o julgamento o mesmo enfrenta uma espiral de negação, medo e aceitação da morte que lhe espreita a cela enquanto ele busca algum tipo de perdão para seu crime.

Essa é minha primeira leitura do Victor Hugo, quero ler Os Miseráveis e queria algo curto do autor antes de ir para o calhamaço.
Já imaginava que seria uma escrita densa e particularmente e um escrita que me agrada, onde encontramos a riqueza dos detalhes e de bons questionamentos do tema abordado, leiteira rápida e que vale a pena.
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Douglas 13/09/2023

A institucionalização da dor, o espetáculo da guilhotina
A presente obra foi um dos marcos iniciais para os protestos que vieram a abolir a pena de morte na França, e nos traz uma reflexão acerca dos direitos humanos e princípios fundamentais penais, principalmente em relação a pena de morte e guilhotina.
antes de entrarmos nestes tópicos precisamos abordar o contexto histórico da época, a pena de morta na França é utilizada desde o reino medieval e foi evoluindo com a passagem das eras, os suplícios perduraram até o final do século XVIII, quando foram substituídas pelas penas de prisão, alterando assim o objeto da pena do corpo para a alma. a guilhotina se tornou um espetáculo excêntrico na época, o corpo do condenado era o objeto de punição, a guilhotina tinha como objetivo intimidar a sociedade de forma que não viessem a delinquir, mas acabou se tornando um espetáculo aberto ao público.
podemos fazer um paralelo com a obra Vigiar e Punir de Foucault. nela Foucault trata da evolução das penas de suplício até as formas de controle que estão inseridas no sistema prisional e nas penas. podemos notar em ambas as obras o panoptismo nas prisões, assim como as formas de controle e repressão das penas, entretanto Victor Hugo irá utilizar essa realidade para acentuar a mitigação dos direitos fundamentais dos condenados. ambos irão tratar do mesmo contexto histórico, Victor Hugo irá focar no sofrido processo que o indivíduo passa, desde a prisão até a guilhotina; enquanto Foucault irá tratar da estruturação desse sistema penal, e de que forma ele afeta o preso.
Vitor Hugo traz a tona em sua obra a pauta dos direitos humanos, com uma crítica certeira a estrutura das prisões e ao funcionamento das penas. ele pretendia defender qualquer homem que fosse condenado a pena de morte, pois para Vitor Hugo não importava a causa ou a razão da condenação, tampouco o passado do indivíduo, por conta disso não sabemos o passado do protagonista da história, nem as razões de sua condenação. o autor lança na obra uma proposta de reflexão, ao não especificar a trajetória do condenado, ficando claro que a vedação da pena de morte se pauta na essência do ato condenatório e não nas particularidades do preso, nem no crime do cometido.
o cerceamento dos princípios da dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais são abordados a todo instante na forma dos pensamentos do personagem, na sua passagem pela prisão de Bicêtre ele descreve um ambiente de trevas e condições inumanas evidenciando que a pena capital não era indolor nem rápida (como era defendida na época). além disso ele nos mostra também que o estado não somente ceifa a liberdade e a vida do encarcerado, como também comete o crime de punir pessoas inocentes (as famílias dos condenados), que muitas vezes são sustentados pelos sentenciados, e acabam ficando sem amparo do estado e a mercê da sociedade.
a estrutura dos presídios também se mostrava um enorme problema, o personagem descreve as condições das celas, as torturas físicas e psicológicas em que ele e os colegas passavam. a sistematização da pena de morte e dos suplícios dentro da prisão se tornou algo corriqueiro, podemos ver vários relatos deste tipo na obra: o recurso que demora a ser julgado, o padre que por conta dos seus discursos repetitivos não conseguia trazer conforto aos presos, o grande espetáculo que se tornou o dia da execução, a humilhação que o preso passava durante o transporte e durante o ato da execução, enfim, são vários exemplos de como a pena de morte se tornou algo institucionalizado.
para concluir o autor nos mostra que a pena de morte não se dá na guilhotina, mas sim durante todo o processo que o condenado passa até o dia derradeiro, todas as torturas, angustias, todo o sofrimento que antecede a morte, todo sofrimento dos inocentes que ficam a mercê dos estigmas sociais. podemos ver claramente a institucionalização da dor, da vingança, do estado que age sem motivação, da criação de um espetáculo que cerceia os direitos fundamentais, literalmente um ESPETÁCULO com direito a cadeira vip, pipoca e todas as atribuições que uma peça de teatro poderia ter. portanto podemos ver claramente que a pena de morte não foi e jamais será um método de correção efetivo, pois ele é estruturado na dor, na vingança, na punição. a institucionalização da dor e o espetáculo da guilhotina nos servem de exemplo para que nunca mais cometamos o mesmo erro, pois como vimos o estado pode ser injusto, criminoso e ser razão de uma barbárie sistematizada.
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Albert Lucas 04/09/2023

Reflexivo
Esse é um manifesto contra a pena de morte. Nesse livro curto, Victor Hugo crítica uma das penas mais abusivas que existe e a hipocrisia da sociedade que defende esse tipo de coisa e ao mesmo tempo exalta valores como fé e humanismo.

De forma brilhante, Hugo nos leva a uma viagem pelo interior de um homem, um criminoso, e nos mostra que por trás dessa fachada monstruosa e desumana que construímos para nós satisfazermos e justificarmos nossa maldade, existe um pai, uma pessoa que sente como nós, tem medos e receios, vai deixar uma filha órfã e principalmente, se sente impotente e humilhado.

Se fosse escrito nós dias de hoje, esse livro seria considerado LACRAÇÃO e Victor Hugo estaria agora sendo chamado de Woke, esquerdista, Comunista e diriam pra ele levar um bandido para casa.

Mas assim... É clichê porém todo mundo quer pena de morte mas quando é pra um parente seu, aí já n é mais a favor...

Não desumanizem as pessoas por pior que tenha sido o erro delas, é essa a mensagem que posso tirar desse livro.
Nota: 3,0
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maria1691 02/09/2023

O último dia de um condenado | ?
"Quem sabe se esta leitura não torne a mão deles menos ligeira na próxima vez de jogar uma cabeça que pensa, uma cabeça de homem, naquilo que chamam de balança da justiça?" ? Uma leitura interessante sobre pena de morte, sociedade, criminalidade e a espetacularização da violência.
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Carlinha 27/08/2023

É bom livro pra se começar a ler Victor Hugo, porque é bem curto e muito fluido.
Vai contar sobre esse homem condenado à morte e suas angústias finais antes da execução da pena, um tema difícil, não é uma realidade nossa mas ainda assim é um tópico sensível e o autor trabalha muito bem desenvolvendo os sensações e angústias do personagem.
É um bom livro, gosto da escrita do autor e pretendo continuar lendo seus livros
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Caroline1016 26/08/2023

A morte
Diante da morte encontrar-se-a algum ateu?
Aquele que tanto a morte desejou, diante da impossibilidade de escapar-se dela, tudo que queria era mais uma chance.
Porém, sem demonstrar algum arrependimento.
Uma leitura rápida, fluída e reflexiva.
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Thiago275 21/08/2023

Tocante
Publicado pela primeira vez em 1829, O Último Dia de um Condenado foi escrito por Victor Hugo décadas antes de seus romances mais famosos, como Os Miseráveis, O Homem que Ri e Os Trabalhadores do Mar. Apesar disso, aqui já encontramos o poder que o autor tinha de tocar o nosso coração com suas palavras certeiras e suas frases de efeito.

Victor Hugo foi um homem que fazia questão de participar das questões nacionais e que não tinha medo de entrar em polêmicas. Radicalmente contra a pena de morte, ele poderia escrever manifestos e discursos sobre o tema. Mas por que não escrever ficção? E mais: um livro sob o ponto de vista do condenado? Afinal, "preferimos as razões do sentimento às razões da razão".

É isso o que ele faz aqui. Não conhecemos o nome nem o crime do narrador, mas acompanhamos suas últimas semanas de vida, em que ele vai do orgulho de recusar a pena de trabalhos forçados ao amargo arrependimento de sua decisão, passando pela negação, pela aceitação de sua condição e pela esperança de um perdão que nunca chegará.

Victor Hugo mostra como o pior da pena de morte não é a execução em si, mas toda a tortura psicológica a que o condenado é submetido enquanto a espera.

Além disso, vemos como a execução era um trabalho mecânico e burocrático para todos os envolvidos: juízes, jurados, carcereiros, carrascos e até mesmo o padre que supostamente tinha que ser a voz da fé. Para eles, era só mais uma cabeça que rolaria no chão. Mas essa cabeça pertencia a um homem que tinha mãe, esposa e filha.

O Último Dia de Um Condenado pode ser considerado uma obra panfletária, mas isso não diminui sua importância e sua força. O verdadeiro artista sabe defender suas posições sem sacrificar seu talento, e Victor Hugo seguramente era mestre nisso.
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