Ingrid_mayara 30/06/2017
Resenha do livro O Último Dia de um Condenado
Publicado originalmente em 1829, O Último Dia de um Condenado não foi bem recebido pela crítica (de acordo com o próprio livro) por se tratar de uma temática deveras paradoxal: sentença de morte; porém, o tema ainda é debatido em algumas localidades e vê-se que a obra é atemporal.
Ao longo da narrativa, são abordados alguns acontecimentos comuns da época, como a precária existência de defensores de direitos humanos e as diferenças de tratamento humanitário de acordo com as classes sociais. “Os que julgam e condenam, dizem que a pena de morte é necessária. Primeiro, porque é necessário cortar da comunidade social um membro que já a prejudicou e que ainda a podia prejudicar. Se se tratasse só disto, a prisão perpétua bastaria. Para que então é a morte? Vós objetais que se pode fugir duma prisão? Guardai-o melhor. Se não confiais na solidez dos varões de ferro, com vos atreveis a ter animais ferozes?” (p.14).
Por que os mais ricos são dignos de proteção e os mais pobres são facilmente acusados? Por que os políticos costumam ser os mais favorecidos quando se trata de benefícios?
Somos levados a uma profunda reflexão acerca da abolição da pena de morte, que desde muito antes parecia ser apenas uma utopia, e que os menos favorecidos financeiramente eram os mais prejudicados, enquanto que os crimes praticados pela elite pouco eram passíveis de punição.
Após a introdução, inicia-se a narração em primeira pessoa, descrevendo não apenas o último dia, como também as últimas seis semanas de vida de um homem cujo crime não se revela com objetividade, apenas percebe-se nas entrelinhas.
Após receber a visita de sua filha na prisão, o condenado expõe seus mais sinceros sentimentos ao descrever a cena em que a menina não o reconhece, dizendo que seu pai já está morto e era mais bonito do que o homem a sua frente. Sem se arrepender do que crime cometido, o homem traz à tona as injustiças ocorridas com pessoas que pouco ou nada fizeram e mesmo assim foram levadas à guilhotina, como se isso fosse para servir de exemplo em praça pública (e também às escondidas).
A narrativa é bastante curta e de fácil compreensão, visto que a relevância da obra certamente é a capacidade poética para manifestar um assunto tão inegável quanto o direito à vida.
Recomendo que todas as pessoas leiam esse livro com a mente liberta de preconceitos. Certamente é um dos melhores livros que eu já li, e muito me ajudou a refletir sobre a condição humana, que infelizmente ainda é intrínseca à classificação social.
site: Se quiser me seguir no instagram: @ingrid.allebrandt