spoiler visualizarMari 03/04/2018
Que livro, minha gente! Importantíssimo para entender mais sobre o islã, mas principalmente para entender o papel da mulher numa sociedade islâmica. Sem poupar o leitor de partes mais fortes, Ayaan Hirsi Ali, nascida na Somália, nos conta na sua autobiografia como é crescer numa família muçulmana, descreve a mutilação genital que sofreu (aos cinco anos, foram-lhe cortados o clitóris e pequenos lábios e costurados, a fim de que se sobrasse somente um pequeno buraco, por onde deveria sair o xixi – já dá pra imaginar como o buraco deveria ser aberto no futuro, não?), além de dividir com os leitores importantes partes do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, e compartilhar histórias que podem parecer absurdas para quem não viveu sua realidade.
Um dos exemplos é como as mulheres devem se cobrir por completo para que não provoquem os homens com sua sensualidade extrema. Nenhuma parte do corpo, da pele ou do cabelo deve estar à mostra, nem mesmo sua forma, pois isso distrairia os homens, fazendo com que o mundo vire um caos. Lembrando que eles não são culpados caso não consigam se controlar, uma vez que foi a mulher que os provocou. Também, se algo acontece às mulheres devido à sua extrema imprudência, elas estarão desgraçando o pai e os irmãos, levando-os a um vexame eterno, passível de punição. Os destinos de todas as mulheres estão nas mãos do pai, irmãos e/ou marido.
Apesar de parecer distante e absurdo, claro que guardadas as devidas proporções, me assustou o fato de que o argumento do homem ser incapaz de controlar seus impulsos e a culpa ser atribuída a mulher devido à sua falta de cuidado com a maneira como exibe suas formas, ser usado hoje, aqui, por conhecidos, colegas e na internet, como forma de mascarar, abrandar, defender ou justificar abusos, assédios e estupros.
Um dos muitos pontos que me chamou a atenção na obra foi o fato de pai de Ali ser um militante, ainda que muçulmano e muito preso por suas convicções, que lutou a vida inteira por um país que ele acreditava que seria melhor. Assim como Malala, de maneira diferente, claro, ela teve a sorte de ter na família quem apoiasse o estudo e o pensamento crítico, além de essa pessoa não tratar com tanta diferença a filha (ênfase no “tanta”, pois ela ainda era tratada de forma bem diferente do que o irmão).
Com posições políticas controversas, porém fortes, Ali, a infiel, iniciou sua luta na Holanda pela defesa dos direitos das mulheres muçulmanas. Ela virou deputada, foi perseguida e jurada de morte. O debate que Ayaan levanta é urgente para melhorar e até salvar a vida de milhares de mulheres e para entender a questão dos refugiados e como integrá-los em culturas tão diversas e diferentes das suas.