Carine 10/12/2022Leitura obrigatóriaUm livro autobiográfico que narra a trajetória de uma mulher extraordinária que foi criada nos costumes tribais da Somália, sofreu mutilação sexual e espancamentos brutais na infância, foi uma muçulmana devota até a adolescia, fugiu de um casamento forçado, tornou-se deputada na Holanda, clamou pelos direitos das muçulmanas, criticou Maomé e está condenada à morte pelo Islã fundamentalista.
Em novembro de 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino, que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima: Ayaan Hirsi Ali, que fizera ao lado de Theo o filme Submissão, sobre a situação da mulher muçulmana. E assim essa jovem exilada somali, eleita deputada do parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana e por suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornou-se famosa mundialmente.
No ano seguinte, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo. Como foi possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e dilacerados da África chegar a essa notoriedade no Ocidente?
Em Infiel, sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália, até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras frequentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois Etiópia, e fixou-se finalmente no Quênia.
Obrigada a frequentar escolas em muitas línguas diferentes e a conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia (onde as mulheres não saíam à rua sem a companhia de um homem) à mistura cultural do Quênia, a adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a casar com um desconhecido escolhido por seu pai, conforme uma tradição que ela questionava, mudaram a sua vida e ela acabou fugindo e se exilando na Holanda.
Ayaan descobre então os valores ocidentais iluministas da liberdade, igualdade e democracia liberal, e passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana.
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Certos livros são difíceis de serem digeridos, a gente não consegue nem mesmo falar sobre eles logo após finalizá-los. Infiel foi assim comigo e talvez tenha sido assim com você.
O impacto que essa autobiografia deixou em minha vida não é fácil de explicar aqui, em meras palavras, Ayaan me fez questionar minhas próprias crenças e abalou o modo como enxergo o mundo.
Mas Carine, isso foi bom? Sim, foi magnifico!
A menos de 2 meses li esse livro e tive uma experiência pessoal arrebatadora, no início achei meio chato confesso ? biográfica não é me gênero literário preferido ? mas felizmente insistir e não me arrependo.
Tenho panfletado essa leitura a todos, esse livro deve ser lido por TODOS pois é daquele melhor tipo: o de leitura obrigatória. Você, querido leitor, sabe do que falo?! Existem livros profundos, poderosos, com mensagens universais, únicas e potentes que necessitam de destaque coletivo, precisamos que as massas os saboreiem também. E bem, INFIEL é um deles!
Alguns podem não concordar- ou mesmo sentir o impacto que EU senti ? mas isso não diminui o poder da mensagem de nossa queria Ayaan.
Foram 500 páginas de força, resiliência e grandes reflexões!
Quando falamos sobre a influência religiosa, totalitarismo, barbárie, mutilação, agressão e casamento forçado, parece tão longe da nossa realidade, mas não é, isso está acontecendo hoje, aqui no próprio ocidente!
A bandeira levantada pela Ayaan é coletiva, é atual e principalmente é HUMANITARIA!
Acredito que essa mulher e o próprio livro tenham sofrido boicotes devido a dois fatores:
1°: pautas de esquerda, mas alinhadas a partidos de direita conservadora;
2°: discurso contra o multiculturalismo e a permissividade disfarçada de respeito racial nas relações entre imigrantes e os países asilo.