Matheus Lins 19/06/2011
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Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) foi um filósofo alemão do século XIX, cujas ideias, inspiradas sobretudo em Kant, falharam em encantar seus contemporâneos. Estes se encontravam fisgados pela metafísica de Hegel, com a qual Schopenheuer nutria profundas divergências.
Jazendo na obscuridade, não inspirou a fundação de nenhuma escola filosófica e seu nome era normalmente omitido dos livros de história da filosofia. Maurice Merleau-Ponty, ao elencar os grandes filósofos da humanidade, por exemplo, esnobou-o.
Paulatinamente, contudo, o legado de Schopenhauer passou a ganhar respeito e notoriedade, sendo resgatado por filósofos do porte de Friedrich Nietzsche e Henri Bergson, bem como servindo de inspiração para a cosmovisão de artistas do naipe de Richard Wagner e Liev Tolstói.
A Arte de Ser Feliz apresenta uma galeria de cinquenta máximas que visam a instruir o leitor sobre como viver da melhor maneira possível, identificando-se com o eudemonismo aristotélico que atribui à felicidade o papel de fim último da existência. É uma proposta curiosa, uma vez que levemos em consideração que uma das alcunhas de Schopenhauer é a de professor do pessimismo.
Esse epíteto faz bastante sentido se observarmos a epifania que ensejou todo o desenvolvimento ulterior da sua metafísica:
“Longe de ser a obra de um ser infinitamente bom, [o mundo] era a obra de um demônio que chamara criaturas à existência só para se deleitar com a visão de seus tormentos; a meus olhos imparciais, mas que viam exatamente nos seus limites, o mundo se apresentava como a obra de um demônio.”
É uma metáfora que exprime a natureza essencialmente pessimista de sua filosofia, e que encontra eco numa das máximas presentes na obra resenhada: “Como se sabe, à pergunta de se a vida humana corresponde a esse conceito de existência [feliz], minha filosofia dá uma resposta negativa”.
Se habitamos um mundo precipuamente perverso, que oscila entre o tédio e a dor, como ser feliz? A resposta de Schopenhauer é que a felicidade, per se, não existe. O que entendemos por felicidade nada mais é do que a ausência – ou, para pôr em termos mais precisos, a redução significativa – do sofrimento, esse sim uma sensação real. Nas palavras dele:
“A felicidade e o prazer são apenas quimeras, mostradas à distância por uma ilusão, enquanto o sofrimento e a dor são reais e se manifestam diretamente por si, sem a necessidade da ilusão e da espera”.
A Arte de Ser Feliz foi publicada postumamente, consubstanciada graças ao estudo sistemático da pletora de textos, anotações e papéis inacabados legados pelo pensador, ao longo dos quais as diversas máximas que compõem a obra se achavam fragmentadas. A edição brasileira da Martins Fontes conta com trechos inéditos, colhidos por Franco Volpi a partir do seu estudo independente dos manuscritos originais.