Memória da pedra

Memória da pedra Mauricio Lyrio




Resenhas - Memória da Pedra


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Julyana. 04/10/2013

Que livro bom! Gostei dos personagens bem construídos (todos, mesmo os mais secundários), gostei dos títulos dos capítulos ('Olhos tolos de Orfeu', 'A intermitência preguiçosa do vaga-lume'), gostei muito da Marina (o ponto alto do livro, para mim, foi o suicídio e a autopsia dela). Confesso que ainda estou um pouco impactada com o final. Por mais que durante a leitura fosse impossível prever qualquer coisa eu demorei um pouco para absorver aquele desfecho.
Enfim, recomendo muito. Quem puder não deixe de ler.
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Pedro Bastos 25/07/2013

Intimista, cúmplice e esclarecedor
A leitura de "A memória da pedra" me deixou intrigado do início ao fim por uma série de razões. Positivamente, acrescento. A primeira das razões é a sofisticada narrativa de Mauricio Lyrio, que me deixou em um estado de alucinação de tão boa que é. Apontado como "iniciante" pela mídia em geral, o leitor que comprou "A memória da pedra" está na expectativa de ler um romance considerado entusiasta, mas de "estreante". Ponho entre aspas pois esta conotação sempre transmite uma ideia de que os "iniciantes" têm qualidade inferior ao que se aprecia, como se houvesse um padrão de escrita e criação literária a ser seguido. Eu, pelo menos, acredito que cada escritor tem suas particularidades e que a qualidade de seus textos aumenta não a medida que se vai alcançando o tal "padrão", mas sim que vão evoluindo em função do seu amadurecimento artístico e pessoal. Assim sendo, todos são apreciáveis e, portanto, qualificados.

Diante deste meu contexto, Mauricio Lyrio surpreende por ser um "estreante" que já sai mandando muito bem em seu primeiro romance, em todos os aspectos. Não é preciso ser um grande especialista em literatura - ou um leitor dedicado - para perceber que a prosa do escritor e diplomata tem uma deliciosa cadência que foge aos padrões "certinhos" das narrativas. Muitos autores utilizam informações sugestivas para conduzir seus romances; Lyrio vai além das "sugestões". Sua narrativa insere o leitor no mix de sentimentos e de subjetividades de cada um dos numerosos personagens, fazendo com que os que giram ao redor do protagonista Eduardo também tenham papéis importantes ao longo da estória. A exploração de suas subjetividades é um ponto muito alto de "A memória da pedra" - promove uma intimidade e cumplicidade do leitor com a trama.

Além de adentrar o mais íntimo dos sentimentos dos personagens, a narrativa é, definitivamente, quem conduz o leitor ao entendimento de tudo. Não me deixei preocupar em compreender as recorrentes metáforas e a inserção de contextos não-anunciados ou explicados; leia e permita que as frases te levem aonde elas querem te levar. O "não-entender", ao meu ver, pareceu ser parte da composição, uma maneira de proporcionar essa imersão no mundo particular dos personagens e de seus ambientes sob uma perspectiva bastante humana, desprovida de qualquer perfeição ou neutralidade para se explicar/entender algo.

Quanto aos personagens, Lyrio explora o mundo daquele estereótipo do intelectual-esquerdista-mas-que-mora-na-parte-rica-da-cidade. Isso se percebe nos dilemas de vida, o conteúdo das conversas entre amigos, os ambientes pelos quais circulam. No entanto, o autor não se aproveita das contradições dos atos e dos discursos comumente encontrados por aí, especialmente nos profissionais do âmbito acadêmico, para moldar seu romance, mas sim na fragilidade emocional que essa "carcaça" muitas das vezes esconde. Deste modo, "A memória da pedra", além da narrativa fantástica, tornou-se uma eletrizante leitura por assinalar que o esclarecimento nem sempre é tão clarificado assim: a ignorância é mais companheira do que se pensa.
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Antonio 21/03/2016

Inferno são os outros
Ambientada no Rio de Janeiro dos anos 90, a história contada em Memória da Pedra, romance de estreia do diplomata Mauricio Lyrio, trata do deslocamento. E dos afetos. E de política. E do debate Livre Arbítrio vs. Determinismo. E da morte.

O professor Eduardo, órfão desde a infância e vítima da síndrome de Kartagener, vive impassível o turbulento momento da cena política brasileira da época e acompanha sem interesse as manifestações populares pedindo a queda do então presidente Fernando Collor de Melo. Protegido por sua confortável situação pessoal e profissional (estava casado havia anos com a artista Laura e gozava de um emprego estável numa universidade), Eduardo parece não sentir nenhum respingo da convulsão social do período.

No entanto, o imponderável acaso abala suas estruturas e um pedido de esmola lhe apresenta Romário – um garoto de rua capaz de avivar o espírito paternal do professor e tirá-lo do casulo em que vive.

Um porém. Apesar de diversas cenas líricas percorrerem o texto (há muitas daquelas frases que poderíamos chamar de sublinháveis), em vários trechos o romance parece fraquejar: muitos dos momentos que nos mostram a relação entre Eduardo e Romário, principalmente, beiram a inverossimilhança e soam artificiais.

Trecho do livro:
“O menino sentou-se ao fundo, entre uma aluna que escrevia no caderno, com os cabelos ruivos descendo sobre a caneta e o rosto, e dois rapazes que compartilhavam uma revista. Eram quase vinte alunos, dispersos na sala de formato quadrado, iluminada por dois janelões verticais. Ninguém parecia estranhar sua presença. Um ou outro o olhava, sem maior curiosidade. Eduardo escrevia algumas palavras no quadro.” (p. 63)


site: leioedoupitaco.blogspot.com.br
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