vortexcultural 07/08/2016
Por Filipe Pereira
Narrado em primeira pessoa pelo ativista, preso político em três oportunidades, comunista “subversivo” e banido junto ao grupo de 15 prisioneiros trocados pelo embaixador americano que foi raptado pelo movimento MR-8, Memórias do Esquecimento serve como desabafo literário do escritor que só retornaria a sua terra natal dez anos depois de exílio, só angariando coragem para escrever suas memórias após 30 anos de todos os acontecimentos e sofrimentos impingidos a si. Flávio Tavares não poupa seu leitor da crueza e crueldade dos torturadores e nem salva seus colegas de expor as suas tolas e irreais ilusões de mudar o mundo.
Antes de começar seus capítulos, falando franca e diretamente ao leitor, ele se preocupa em sempre deixar uma citação de algum pensador ilustre, para embasar e testificar o seu testemunho. Já na introdução ele contesta qual a real necessidade de retomar as memórias daquela vivência marginal, e a resposta para tal indagação é respondido ao longo dos capítulos. Parte do que ele lamenta é ter de enfrentar toda a avalanche de emoções, pela qual ele passa, em silêncio absoluto, sem voz ativa, castrada da possibilidade de contestar seu estado.
A imersão no cotidiano de Tavares é muito fácil de ser estabelecida, pois sua escrita é docemente envolvente, repleta de situações rotineiras que facilitam a identificação, além de demonstrar facilidade do autor em transmitir sentimentos e sensações. Seu sofrimento é passado ao leitor, e um exemplo disto é como Tavares descreve uma tremedeira, não causada pelo frio, mas pela temeridade em repetir os maus agouros que já tinha vivido. Rememorar era exercício de dor e a empatia gerada por seu “relatório” é muitíssimo exitosa em causar desconforto no analista. A temeridade e o medo são tão grandes que qualquer som estranho o faz remeter aos torturantes momentos de cárcere, os quais viveu e dos quais jamais esquecerá, mesmo com o título da publicação – o esquecimento certamente seria um alívio para a mente cansada e para a sua alma aflita. Tais episódios servem de aliterações, nas quais o autor conta, em detalhes desagradáveis e por vezes escatológicos, os meandros de suas estadias na prisão política, assim como os detalhes das sessões de tortura que sofreu. A ideia das torturas, segundo o jornalista, era triturar física e emocionalmente o preso, destruí-lo e chegar muito perto da morte, mas sem alcançá-lo, de um modo que o sujeito envolvido até desejasse que sua vida findasse.
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