Memórias do cárcere

Memórias do cárcere Graciliano Ramos




Resenhas - Memórias do Cárcere


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Fabio Shiva 20/08/2020

“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam?”
“Memórias do Cárcere” é um livro autobiográfico, que relata os dez meses que o autor passou como prisioneiro político em 1936, durante as agitações que antecederam a ditadura de Getúlio Vargas, que foi de 1937 a 1945. Quando lemos essa obra magnífica em meio ao turbilhão político e ideológico em que vivemos atualmente, o que primeiro salta aos olhos é o quanto o fascismo tem história no Brasil, a ponto de poder ser considerado uma verdadeira tradição brasileira. Muitas das pavorosas cenas descritas no livro, para meu grande espanto, poderiam estar acontecendo nos dias de hoje. Por esse motivo, boa parte da leitura foi destinada a reflexões sobre o que é o fascismo e sobre o porquê do fascismo ser tão atrativo para nós, brasileiros.

A palavra “fascismo” deriva do italiano “fascio”, que significa “feixe de varas”. A ideia básica por trás desse nome é a de que uma única vara ou graveto pode ser facilmente quebrada, mas um feixe de varas torna-se difícil de quebrar. Notem como essa ideia, em si, traduz algo não somente verdadeiro, como belo também: “a união faz a força”.

O problema só começa quando o fascismo substitui a palavra “união” pela palavra “maioria”, afirmando que a maioria é soberana e que as minorias devem se curvar à vontade da maioria. À primeira vista, essa parece ser uma ideia perfeitamente lógica e até justa. Só que o passo seguinte e imediato do fascismo é utilizar a força do feixe para quebrar os gravetos isolados. Ou seja: utilizar a força da maioria para fazer calar e até destruir as minorias. E aí é que nós percebemos o poder das palavras que expressam as ideias, e como uma sutil troca de palavras pode se tornar extremamente perigosa.

Pois o fascismo começa afirmando que a união é boa. Ninguém tem como discordar dessa afirmação. Mas daí vem o fascismo e diz que a união da maioria é boa. E antes que tenhamos tempo de decidir se essa afirmação é válida, o fascismo já está dizendo que a maioria é boa, e logo em seguida que só a maioria é boa. E assim, em um piscar de olhos, o fascismo já está usando a força da maioria para perseguir as minorias. Notem que o que começou afirmando a força da união rapidamente se torna um poder destrutivo, que provoca o ódio e, justamente, a desunião.

Sabem uma imagem que representa o fascismo melhor que a do feixe de varas? É a de um valentão truculento e autoritário, que quer resolver qualquer diferença de opinião com a força dos músculos, na porrada. Essa imagem do valentão nos ajuda a entender que o fascismo não trata de união, nem sequer de maioria, mas única e exclusivamente de força. O fascismo, em resumo, é o culto à lei do mais forte.

E aqui eu evoco a sabedoria de meu mestre de capoeira, Mestre Tyko Kamaleão, quando ele fala do “pseudo-valentão”:

“O pseudo-valentão é aquele que se coloca como um homem valente, mas que deixa ver, escondida por debaixo da casca do personagem, uma criança medrosa, pedindo proteção e carinho.” (Mestre Tyko Kamaleão)

Todo fascista é um pseudo-valentão. Não é uma pessoa forte, mas alguém que se finge de forte, porque no fundo sente muito medo. E quem tem medo, agride o outro. Mas o que é que, afinal, assusta tanto o fascista? É justamente a diferença. O fascista percebe a diferença como uma ameaça direta à sua existência. Pois ele tem medo que, no fundo, o diferente seja melhor do que ele. O ódio do fascismo à diversidade é mais facilmente explicável quando substituímos a frase “não pode haver ninguém diferente de nós” por “não deve haver ninguém melhor do que nós”. Esse é o medo por trás da violência fascista.

Como toda minoria nada mais é que um grupo de pessoas que age ou pensa de forma diferente da maioria, o fascismo acaba se tornando uma máquina inventada para perseguir as minorias, em nome de um complexo de inferioridade de uma maioria medíocre. É esse um retrato do Brasil de Graciliano Ramos que, infelizmente, ainda reflete boa parte do Brasil de hoje.

“Memórias do Cárcere”, publicado em 1953, como obra póstuma, e logo se tornou o maior sucesso de vendas do autor. Em 1984 a obra foi transformada em um filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos (https://youtu.be/p0Gy67_6kJc).

A primeira vez que li esse livro, aos 14 anos, me marcou profundamente. E só 30 anos depois, ao reler essas “Memórias”, foi que tive a verdadeira dimensão do impacto provocado em mim pela força da personalidade e da prosa de Graciliano Ramos. Pois só então percebi o quanto o homem e o escritor que sou inconscientemente se espelharam na severa figura parental projetada pelo “velho Graça”: o que será que ele diria de meus escritos?

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/08/memorias-do-carcere-graciliano-ramos.html


“Realmente a desgraça nos ensina muito: sem ela, eu continuaria a julgar a humanidade incapaz de verdadeira nobreza.”

“Nunca eu me vira sem ocupação: enxergava na preguiça uma espécie de furto.”

“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam?”

“Por que desprezá-los ou condená-los? Existem – e é o suficiente para serem aceitos.” (sobre os homossexuais)

“Vemos um sujeito sem as unhas dos pés, sabemos que elas foram arrancadas a torquês, e a nossa curiosidade não vai além; os sofrimentos findaram, as unhas renascerão, a memória da vítima se embotou; horrível é imaginarmos a redução de uma criatura com tenazes quando pensamos nela, exatamente quando pensamos nela.”

“Não nos revolta a safadeza, revolta-nos a estupudez.”

“Todos em roda estavam assim, firmes, de braços cruzados, impassíveis. Nenhum sinal de protesto, ao menos de compaixão. Também me comportara com essa horrível indiferença, como se assistisse a uma cena comum. Éramos frangalhos; éramos fontes secas; éramos desgraçados egoísmos cheios de pavor. Tinham-nos reduzido a isso.”

“Vocês não vêm corrigir-se, estão ouvindo? Não vêm corrigir-se: vêm morrer.” (fala de um dos guardas da colônia correcional)

“Ali no canto da sala enorme, à direita, os nossos receios se limitavam: desapareceríamos daquele jeito, iguais ao Neves, a Domício Fernandes, ao negro ansioso que pedia uma injeção de morfina. Essa perspectiva de nenhum modo era desagradável; tínhamos imaginado torturas, a chama do maçarico devastando carnes, e o consumo lento, a inanição, quase nos surgia como favor.”

“José Lins é memorialista, o grande mérito dele é haver exposto, nua e bárbara, a vida nos engenhos de açúcar; é uma enorme força que se esvai fora de seu âmbito.” (sobre José Lins do Rego)

“A imaginação de Jorge os encantava, imaginação viva, tão forte que ele supõe falar a verdade ao narrar-nos existências românticas nos saveiros, nos cais, nas fazendas de cacau.” (sobre Jorge Amado)

“Era coisa prevista, imaginada sempre, mas o jeito de fazer o enterro, a mudança de uma criatura humana em pacote jogado fora sem quebra da rotina, expôs-me com horrível clareza à insignificância das nossas vidas.”

“O Governo se corrompera em demasia; para aguentar-se, precisava simular conjuras, grandes perigos, salvar o país enchendo as cadeias.”

“O temor às vezes nos leva a temeridades, empresta às nossas ações aparência falsa de coragem.”

“Impossível conceber o sofrimento alheio se não sofremos.”

“A perspectiva de liberdade assustava-me. Em que iria ocupar-me? Era absurdo confessar o desejo de permanecer ali, ocioso, inútil, com receio de andar nas ruas, tentar viver, responsabilizar-me por qualquer serviço.”

“Apareciam-me de longe divergências em esboço, e éramos forçados a reconhecer que ninguém tinha culpa. Estávamos feitos daquele jeito, cada um de nós estava feito de certo modo – e em vão tentávamos explicar uns aos outros que a leitura de um artigo não nos transformava.”



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Elyene 21/08/2020minha estante
Uma aula em forma de resenha ?? Colocar na lista pra ler!


Fabio Shiva 21/08/2020minha estante
Oi, Elyene! Gratidão por seu comentário e por essa energia boa! Leia sim, que é uma obra-prima de nossa Literatura!


Wallace 16/11/2021minha estante
Bastante interessante o seu comentário. O mais interessante nesse tema do fascismo brasileiro é como um presidente ditatorial é visto como modelo de presidencialismo pelo ex-presidente da república Lula e tantos outros políticos da esquerda brasileira, como Ciro Gomes, por exemplo. A esquerda, em geral, ama o Getúlio. É algo para ser estudado com cuidado.

Termino esse post com um trecho do do Diário Completo do grande escrito Lúcio Cardoso:

"Leitura: Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos. Não posso, não tenho forças para gostar de livros assim -a modéstia do autor é falsa e o que ele viu e aprendeu durante o período de sua prisão, restrito e superficial. Não há uma visão inteira do homem, mas de seu lado mais imediato- é uma projeção física e não interna. Espanta-me que se possa comparar este livro com A Casa dos Mortos de Dostoiévski. A diferença é fundamental: um é o ponto de partida em que um escritor acha o Cristo e descobre o homem em sua profundidade - o outro é o ponto de chegada de um autor visceralmente materialista."


Cristiane ð 21/06/2022minha estante
A ilha grande me fez querer ler é essa resenha me convenceu! ???


moraes_psi 30/01/2024minha estante
Achei boa a colocação do Fábio, mas também excelente o complemento da colocação do colega Wallace (aqui dos comentários).
Eu gosto do Graciliano e respeito muito as dores em que passou descritas e mesmo seu posicionamento. Mas ele, ainda em vida, assistiu os horrores da esquerda em países do Leste Europeu e teve tempo suficiente pra encontrar lá também o totalitarismo extremamente violento do qual narrou. Vindo de grupos que depois foram base pra criação do Partido dos Trabalhadores e do comunismo de Cuba. É preciso separar o artista de seu posicionamento, mas pra mim é mais difícil quando há uma clara hipocrisia. É diferente de quem não viu onde sua ideologia chegou, como os autores do socialismo frances do século XIX.

E isso tudo é diferente de posição e polarização, são fatos e sensatez, principalmente se vier de nós, uma geração que viu os Muros de Berlim cairem e mesmo assim vão lá e colocam no poder partidos cúmplices. Graciliano Ramos era um excelente escritor da nossa literatura, pena que faltou sensibilidade em sua posição política. Mas não tiro seu sifromento, já que Getúlio se aproveitou da Guerra Fria para promover sua sede de poder.
Que Deus tenha piedade de nós.




Fernando Lafaiete 27/01/2018

Memórias do Cárcere: Relatos cruéis do autor que sentiu na pele a força da crueldade humana!

O que dizer de Memórias do Cárcere? Como avaliar as experiências repugnantes de vida as quais o autor passou ao ser preso? - Graciliano Ramos é o autor do aclamado Vidas Secas, o romance vencedor do prêmio William Faulkner como livro representativo da literatura contemporânea brasileira em 1962. O autor foi preso em meados de 1936 após a intentona comunista (também conhecida como Revolta de 35) que foi uma tentativa contra o governo de Getúlio Vargas.

Nos relatos aqui apresentados, o autor afirma ter sido preso sem saber exatamente a razão. Ao questionar seus algozes, a resposta que recebia era: Você é comunista. - O problema? O autor não se considerava comunista e nunca tinha feito nada contra o governo. Ramos nunca foi acusado formalmente e nunca teve direito a defesa. Foi preso e chegou a ser tratado de maneira desumana. As situações expostas pelo autor em questão, são difíceis de serem digeridas. É tudo muito bem escrito, muitas vezes poético e com muitos simbolismos. Não se dá para esperar menos do que isso de um dos mestres da nossa literatura. Mas o livro também cansa, se torna arrastado em vários momentos e chega a ficar maçante em um nível que foi complicado passar pelas páginas.

Memórias do Cárcere tem alguns aspectos bastantes semelhantes com a obra-prima O Processo do gênio Fraz Kafka. Ambos os clássicos retratam e criticam um sistema burocrático corrupto onde pessoas são presas sem nenhuma justificativa palpável. Ambos os protagonistas questionam e recebem respostas vazias e sem sentido que só aumentam ainda mais a revolta tantos dos personagens centrais quanto de nós leitores. O autor vai desenvolvendo um ódio pelo capitalismo não por ser comunista, mas sim por ser este o sistema econômico que o julga e o condena sem lhe dar a chance de provar sua inocência.

"...Se o capitalismo fosse um bruto, eu o toleraria. Aflige-me é perceber nele uma inteligência. Uma inteligência safada que aluga outras inteligências canalhas. [...] Não é o fato de ser oprimido (que me atormenta). É saber que a opressão erigiu em sistema."

Graciliano Ramos vai narrando passo a passo todas as situações as quais o atormentaram. Passou fome, comeu comida estragada, viu colegas serem estuprados, foi ameaçado por outros presos e em nenhum momento teve a chance de se defender ou de defender outrem. Ele reforça a todo momento que sentia o cheiro podre da comida e que em uma ocasião chegou a detectar fezes de ratos misturados aos alimentos que lhes eram servidos. Como agir em uma situação como essa? - A resposta? Comer ou morrer de fome. E se comer, rezar para não passar mal e morrer.

"Em redor de mim tudo se consumira, e obstinava-me a chupar o cigarro, olhando a infame ração. Na farinha escura havia excrementos de rato. Apesar da náusea, parecia-me necessário comer..."

Muitos sofreram, muitos morreram e Graciliano lutou pela sobrevivência. O autor também relata o momento em que percebeu que na falta de mulheres, homens se relacionavam com outro homens na intenção de se saciarem sexualmente. O autor apresenta opiniões muitas vezes homofóbicas que me desagradaram em um nível que me fizeram pegar um pouco de implicância do autor nesses raros momentos. Tais relatos mostram a dúvida do autor em relação a tudo aquilo que ele estava presenciando.

"Penso assim, tento compreendê-los - e não consigo reprimir o nojo que me inspiram, forte demais. Isso me deixa apreensivo. Seria um nojo natural ou imposto? Quem sabe se ele não foi criado artificialmente, com o fim de preservar o homem social, obrigá-lo a fugir de si mesmo."

Não me foi uma leitura fácil. Foi uma experiência penosa, gratificante, reflexiva e maçante. Tudo isso ao mesmo tempo. Esse livro foi o responsável por me deixar de ressaca e confesso que me forcei a lê-lo em alguns (vários) momentos. Mas ainda assim, afirmo que é uma obra de valor inestimável. Não digo isso apenas por ser um clássico, mas principalmente por ser uma obra que retrata uma história real e necessária. Além das situações que citei, o autor apresenta muitas outras que são revoltantes.

Terminei a leitura exausto mentalmente e a jornada que percorri foi mais do que penosa, mas que valeu a pena. Ainda acho Vidas Secas muito superior, mas Memórias do Cárcere é um livro que deve ser lido e deve ser lido principalmente por quem tem empatia. Se você é uma pessoa quase nula desse sentimento ou é uma daquelas que acha que a solução para os problemas do nosso país é a volta de um sistema como a Ditadura Militar, acredito que este livro não te apresentará algo de muito valor.

É um livro rico em sentimentos, cheio de reflexões sobre a psicologia humana e que prova que o passado deve continuar sendo estudado para que não repitamos os absurdos que tanto propagaram em um época onde me parece que tudo era permitido (no quesito injustiças). Como disse o autor em uma das passagens que citei: O mais revoltante é saber que a crueldade humana retratada era respaldada por um sistema que deveria protegê-los. Um sistema falho que ainda é governado por incompetentes que mais prezam seus status políticos do que o bem maior que deveria ser a prioridade governamental. Só rezo para que as situações expostas por Graciliano Ramos nunca voltem a acontecer. Não dá para mudar o passado, mas podemos moldar o futuro que nos espera. Que assim seja, assim será... só depende de nós e de mais ninguém!
Pedro 27/01/2018minha estante
Maravilhosa sua resenha Fernando. Confesso que sempre me surpreendo com as qualidades de suas resenhas. Se eu já estava interessado em ler esse livro agora fiquei ainda mais. O que você descreveu me fez lembrar muitas das leituras que fiz durante o mestrado, principalmente no que concerne ao forte anticomunismo que se solidificou no Brasil. Não sei se você leu a biografia de Luiz Carlos Prestes escrita pelo historiador Daniel Aarão Reis, mas é de uma qualidade excelente. É espantoso quando se pensa que mesmo o STF tenha negado asilo político a Olga, mesmo ela sendo judia e comunista e estado grávida o que infligida a própria legislação da época, pois brasileiros não poderiam ser extraditados... acabou morrendo num campo de concentração nazista. Depois disso tudo é tantas outras coisas, inclusive prisão em termos semelhantes aos que você descreveu na resenha, Prestes ainda fez alianças com Getúlio Vargas...


Pedro 27/01/2018minha estante
Em Pernambuco mesmo inúmeros trabalhadores rurais foram presos, perseguidos e assassinados, quando estavam somente lutado por direitos trabalhistas básicos. Por esses motivos eram rotulados de comunista...


Fernando Lafaiete 27/01/2018minha estante
Muito obrigado pelo comentário Pedro e fico feliz de saber que minhas resenhas te agradam.

Ainda não li o livro que citou, mas já o coloquei na lista. Obrigado pela indicação. Sobre Memórias do Cárcere, preciso reforçar que não foi uma leitura fácil e muitas vezes foi maçante e chata. Mas ainda assim, não tem como não dizer que é um livro incrível. O que mais me choca (mais até do que o conteúdo que li) é saber que em pleno século XXI ainda existem pessoas que defendem esses absurdos. É assustador pensar que muitos tem ou terão filhos e os criarão à base de todo tipo de preconceito e intolerância. Essas crianças crescerão achando que é normal as coisas relatadas pelo autor. Sendo assim eu pergunto: Que futuro nos espera?
Eu espero que nada disso volte a acontecer e que daqui alguns anos possamos olhar pra trás e respirarmos aliviados de saber que o passado ficou no passado.


Pedro 31/01/2018minha estante
Eu compartinho da sua forma de pensar Fernando, inclusive os medos e choques. Particularmente, por tudo que li e vivi, acredito que esse quadro somente de modificará (algum dia) através de uma educação de qualidade, porém a má qualidade (que em alguns casos não é somente culpa dos docentes, embora algumas vezes seja) da educação é estruturalmente pensada e posta em prática. Não precisamos ir muito longe, basta observamos as manifestações que se inciaram em junho de 2013 no Brasil e o silêncio sepulcral que hoje com Michel Temer vemos. Isso prova, na minha compreensão, que as pessoas mais habilitadas para organizar-se/mobilizar-se não estão ligando para questões sociais (falo em sentido lato). Porém fico muito feliz quando vejo pessoas extremamente inteligentes e competentes como você, que tem essa forma de pensamento. Isso gera o sentimento de amparo frente a tantos absurdos.


Fernando Lafaiete 02/02/2018minha estante
Pois é Pedro, a questão educacional no Brasil é precária em todos os sentidos. A situação social juntamente com a educacional funcionam como armas que amortece os indíviduos de maneira que todos deixam de tentar agir por simplesmente acharem que o Brasil chegou em um ponto que não tem mais solução. Os que poderiam tomar atitudes significativas e um pouco mais imediatas, como os políticos, acabam investindo suas ações em corrupção e em tentar lubridiar a população com a intenção de fortalecer suas posições financeiras e sociais. Os jornalistas (os grandes influenciares de opiniões), passam dias tentando desmentir uns aos outros em uma guerra que não beneficia ninguém de maneira realmente positiva. A educação é de fato a solução, mas enquanto a população não abrir os olhos e perceber que ficar reclamando no facebook e/ou agredindo as pessoas em uma guerra idiota de partidos, não levará a nada. É vergonhoso constatar através de pesquisas que um país tão rico como o Brasil ocupa o 53° lugar no ranking educacional onde 65 países são avaliados. Uma posição que deveria no minímo servir para a população perceber de uma vez que sendo do PT, do PSDB ou do PQP, os políticos estão muito confortáveis em suas posições e não estão dando a mínima para as questões sociais. É tanta gente alienada e sem informação, que no meio desse caos chamado Brasil, nos deparamos com gente dizendo que a solução para tudo é a volta da ditadura e o exterminio de seres humanos como negros, drogados, homossexuais. O mundo não precisa de ódio e de intolerâncias, precisa de paz e de amor. Isso só vamos encontrar através de uma educação de qualidade. Espero que um dia o Brasil passe a ocupar uma posição melhor e as pessoas passem a ser mais conscientes, para que desta maneira possamos viver em um país que não seja uma selva dominada por animais. É triste, mas é extamente assim que me sinto ultimamente... vivendo em uma selva chamada Brasil!




Arsenio Meira 25/08/2012

Leitura inesquecível. Uma porrada. Um retrato do nosso país, o drama de um homem público íntegro, um intelectual honesto, um grande e invencível escritor.
Arsenio Meira 09/08/2013minha estante
É verdade, Felipe. Às vezes pesa um pouco, mas é um painel fiel de um fato grave que marcou não só Graciliano, mas diversas pessoas que pensavam diferente. Toda e qualquer ditadura é a morte de tudo. Concordo contigo também. O "Memórias" merece 5 estrelas. Abraços




Bruno Oliveira 08/01/2014

Algumas impressões sobre Memórias do cárcere
Sempre considerei Graciliano Ramos um escritor difícil: suas palavras duras e retilíneas expressavam pensamentos sem curvas nem beleza, que sem me causar qualquer empatia, retratavam “coisas” viscerais, todavia, mesmo hoje, depois de terminar meu terceiro livro dele, continuo sem saber exatamente que coisas eram essas. Honestamente, não sei ao certo o que aprendi com Graciliano Ramos e ignoro se gosto do que ele escreve ou não, se me reconheço em alguma coisa do que diz, se são interessantes os seus livros, sua falta de encantamento com o mundo, ignoro tudo isso; sei apenas que quero saber mais de suas obras e que há algo de fascinante em sua prosa ou em sua pessoa que me seduz, mesmo que eu não possa entendê-la bem

A primeira impressão que tive ao ler Memórias do cárcere foi que mesmo num livro autobiográfico Graciliano era tão árido quanto nos seus livros de ficção. Assim, suponho que não exista em sua literatura uma diferença significativa entre sua produção como romancista-novelista, e sua escrita no tocante àquilo que seja diferente disso. Contrariando todas as receitas prontas de nossos manuais de redação, Graciliano escreve um romance tal como escreveria uma carta, um relatório ou poema, uma vez que ele não é um escritor compondo obras literárias mas é ele próprio sua literatura, é sua pessoa e não uma figura literária e imaginativa que surge em São Bernardo, Vidas Secas ou qualquer outro.

Minha segunda impressão foi notar a forte concretude dos personagens descritos, melhor dizendo, a maneira como eram tecidos sem que para tal se recorresse a elementos psicológicos ou conceituais que explicassem uma pessoa através de recursos predominantemente intelectuais. Todos os “personagens” da obra são apresentados sem que haja grandes divagações a respeito do que pensam ou de como se constituem internamente. Graciliano evita abstrações e tentativas de adentrar no mundo dos conceitos para assim explicar o mundo concreto, na verdade, aí reside um dos aspectos mais complexos do livro: o fato de que ele jamais sai dessa concretude infeliz e sórdida. Por sinal, mesmo quando o autor faz alusão à literatura, que poderia ser o espaço o espaço da imaginação e da liberdade, ela jamais aparece como um momento de desprendimento do mundo – nunca há desprendimento; apenas o contato frio e constante com as coisas do mundo, que não respeitam nossa interioridade e agridem-nos todo o tempo com sua insistência em existir.

Enquanto Machado ou Clarice, por exemplo, divagam, fogem e voltam ao mundo segundo seus humores para lhe observar segundo um novo ângulo descoberto fora da realidade imediata, Graciliano mal usa palavra “mundo” já que ela parece indicar um limite entre o que existe e o que pode existir, entre o real e o possível. Em suas retinas castigadas as coisas simplesmente são e estão, sendo fútil o questionamento a respeito de como poderiam ser, ou qual “deveria” ser “nossa” postura perante os fatos. Não há possibilidades, não há esperança e nenhuma coisa tem valor senão por aquilo que é. Para esse alagoano triste, impera o determinismo agressivo e mortificante do dia a dia.

Se me expressei suficientemente, devemos conceder que esse deve ser, talvez, o livro mais ateísta do mundo.

Essa concretude absoluta em que Memórias do cárcere está produz algumas características notáveis na escrita. A princípio, as cenas em que o autor descreve suas sensações (sobretudo o nojo), por exemplo, são poderosíssimas e viscerais. Ser literal, nada mais que literal dá muito poder às descrições de um negro coçando seus testículos, ou da comida ensebada das prisões de Getúlio Vargas, sendo que essa nudez literária é mais forte que qualquer tergiversação ou recurso de estilo que o autor pudesse empregar. Ademais, isso permite ao escritor aborda temas sociais sem recair numa visão científica ou filosófica do assunto, como se poderia esperar em algum momento, que produz resultados que parecem simples e óbvios, mas que jamais chegaríamos por nós mesmos – estamos intoxicados por demais de teorias e discursos prontos, ao passo que em sua escrita há uma visão das desgraças que vem diretamente de uma experiência sentida nas profundezas da pele, daquilo que ele e o leitor podem confirmar apenas respirando, sentindo o cheiro do sangue e do pó espalhados no ar, o escândalo faceiro diante de nós. A exemplo disso, a parte dedicada ao ladrão Gaúcho é ótima, pois Graciliano nunca olha seus personagens a partir do conforto do conceito, por conseguinte, vê e ouve naquele momento um sujeito que pratica ações condenáveis, que não se enxerga longe dessa vida e a vive sem remorsos, de uma maneira que nós, que temos tanto orgulho de nossa cultura, jamais poderíamos: como um ser humano igual a si mesmo e aos demais, outra vida se agitando debaixo da bota do tempo, fazendo aquele imenso esforço para existir e gozar que, por si só, já contém alguma dignidade.

Por fim, tenho a impressão de existir certa semelhança entre a escrita de Graciliano e de Camus. Pensando bem, creio que ambos se situam num tipo de pessimismo que antecede qualquer valor, seja moral ou intelectual e contamina os seus corpos, com efeito, malgrado possa ser interessante, nunca é plenamente agradável ler qualquer um dos dois: são anomalias literárias que não escondem seu caráter aberrante. Como diria Carpeaux, o alagoano é: ”o maior pessimista dessa literatura de pessimistas que é a brasileira”. Quanto a Memórias do cárcere, sinto que o expediente do livro é como um passeio num museu repleto de molduras vazias, de espaços ocos nos quais esperamos encontrar beleza e beleza ali não há; mas o vazio está lá escancarado, a ausência é perceptível e somente nos movendo por essa falta, por essa precariedade absoluta é que podemos ir de encontro ao autor. É lindo, e profundamente deprimente de um modo que não inventaram ainda uma palavra que abarque como.

Veja no blog: http://aoinvesdoinverso.wordpress.com/
Leonardo 21/06/2015minha estante
Não compreendi a atribuição de valor tão baixa...rs


Bruno Oliveira 06/07/2015minha estante
Eu percebi algumas coisas a respeito do Graciliano através do livro, mas não creio que seja uma boa obra.

Acho que ela se resume a uma repetição enfadonha de descrições, em que cada dia é apresentado sem nenhuma perspectiva interessante, seguido de outro e de outro. Foi uma leitura muito cansativa para mim que me trouxe bem pouca coisa, é como se a literatura nunca chegasse.




Accioly 19/06/2010

Uma Pancada Necessária
A sua vida está uma maravilha? Sem problemas para resolver? Então é chegada a hora, pegue seu Memórias do Cárcere (e seus gigantescos dois volumes, quatro dependendo da edição) e prepare-se para receber um relato cru e indigesto sobre a experiência de Graciliano Ramos entre os presos políticos (e comuns) da Era Vargas. Este, sem dúvida, é o grande mérito da obra: mostrar sem rodeios, exageros ou omissões a rotina de ociosidade forçada destinada aos presos políticos. Em certos trechos do relato, o leitor será contagiado pelo tédio reinante; em outros, ficará angustiado com o ambiente insalubre e claustrofóbico descrito pelo autor (confesso que quase abandonei o livro durante a incômoda descrição da viagem no porão do navio-prisão Manaus).

Ora, por que ler um livro que traz à tona sentimentos tão ruins? Em primeiro lugar, há de se reconhecer a precisão do autor em passar aos leitores exatamente estes sentimentos. Em segundo, o relato nos mostra como a vida de pequenas e simples pessoas pode ser duramente afetada por arbítrios governamentais se não se garantem direitos básicos ao indivíduo. A construção desta memória é importantíssima para evitar que no futuro pessoas sejam presas, submetidas à agruras sem sequer serem acusadas formalmente por algum crime. Acredito que quanto mais brasileiros tiverem acesso à estas memórias do cárcere, mais afastados estaremos de aventuras autoritárias.
Toni 11/08/2009minha estante
ainda não li as memórias do ramos, mas lembro que enquanto lia o texto-mais-ou-menos de 'Olga', a única parte que realmente me emocionou foi Graciliano Ramos, coadjuvante, perambulando pelas celas com o caderninho que se transformaria nas memórias do cárcere debaixo do braço. desde então sou doido pra lê-lo, mas a oportunidade ainda não chegou. =D excelente resenha, siñor. ambas o são, verdade seja dita. =D


Professor_estudante 13/09/2011minha estante
Faz tempo que li esse livro, e foi somente o 1º volume, mas gostei muito. Muito boa a resenha.




Gy Sousa 14/02/2012

Memórias do Cárcere
Assim a essência do livro até que é legal, mas como a maioria dos livros mais antigos a linguagem é bastante rebuscada o que faz os leitores mais jovens não se identificarem muito com esses tipos de livros porque não conseguem entendê-lo, mas como eu disse sua essência é muito interessante.
Rafael 14/04/2012minha estante
A linguagem não é tão rebuscada, são poucas palavras 'difíceis' e estas se repetem bastante.E o livro é não é ''antigo'' (1953)... Com esta resenha parece que você está falando de ''Auto da Barca do Inferno'' de Gil Vicente. (1517) Sobre a essência, tudo certo.




spoiler visualizar
Ninguem 25/11/2019minha estante
Tem algumas personagens e casos que serviram de fonte para os contos da coletânea "Insônia". É interessante pra ver o processo que o Graça faz na captura do real na ficção.




Eliel Zulato 10/01/2010

Relatos de um preso, como é a vivencia em um presidio,alguns detalhes desconhecidos,e uma coisa que me chamou a atenção, no livro tem referência ao Livro Olga, eles se encontraram no presidio...
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Raquel Lima 05/01/2010

Noossa!
Li este livro há muito anos, nem tinha colocado como lido, porque não lembrava mais de nada. Mas agora, influenciada, pela tristeza que a Ilha grande nos proporciounou peguei para ler novamente. Meu Deus!...Gracialiano consegue nos manter preso as suas celas, seu nojo, o cheiro...não somente o asco das podridões da cadeia, mas da vida naquele momente. Vou correndo ler o segundo.
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cfsardinha 14/07/2011

Esse livro é como uma metáfora da tirania. Quer dizer, fala sobre acontecimentos trágico-políticos, nos quais o personagem se envolveu, e sem saber por quê, tenham servido para quê sua visão de mundo pendesse para a certeza da dramaticidade. É um livro altamente biográfico que fala das misérias, torturas e degradações perpetradas pelo chamado Estado Novo. Esta obra também faz parte do movimento que chamamos de realismo.
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Dirtyharry82 05/04/2024

Um personagem kafkaniano e o Estado Novo
Memórias do Cárcere, dividido em dois volumes é um misto de denúncia ao caráter ditatorial do regime varguista e ao mesmo tempo, um mergulho na personalidade de Graciliano Ramos durante o seu período de encarceramento.
No primeiro volume, tal qual o personagem kafkaniano de “O Processo”, Ramos descobre-se detido mas desconhece as razões. A partir disto, passa por um périplo de celas, viagens, rostos novos e conhecidos, até chegar a Casa de Correção no Rio de Janeiro. Lá, irá se estabelecer como um observador arguto do ecossistema prisional ao mesmo tempo em que se revela um artista inseguro a respeito do próprio talento, tanto quanto da sua própria condição como ser político.
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Carlos 25/12/2012

Livro muito bom para quem quer saber um pouco mais sobre a história de Graciliano Ramos,sua filiação como partido Comunista,e tudo o que ele passou durante a Era Vargas,na ditadura do Estado Novo!
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raphahass 11/07/2013

Apenas Citações do Livro
Capítulo 13
"Somos grãos que um moinho tritura - e ninguém quer saber se resistimos à mó ou se nos pulverizamos logo."
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Mary D. 21/09/2014

Com certeza um dos livros que tive mais dificuldade em ler. A linguagem usada por Graciliano é muito complicada, foi preciso muita concentração para concluir este livro, não era somente ler, mas analisar cada parágrafo, nessa leitura tive que deixar o hábito de ler no ônibus de lado, passei a ler quando estava sozinha ou de madrugada para compreender e acompanhar a história. Falando primeiramente da experiência de leitura deste livro, com certeza, aprendi a refletir mais profundamente sobre o que era lido, fugindo um pouco das minhas leituras habituais, em que a linguagem é mais fácil e a leitura flui com mais rapidez.

A história é narrada em primeira pessoa pelo próprio Graciliano Ramos, relatando os acontecimentos que vivenciou nos meses que passou na prisão, acusado de ter ligações com o Partido Comunista. O autor relata não somente o que acontecia com ele nesse período, mas também com os outros presos. No mesmo período em que esteve no Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção no Rio de Janeiro, estiveram presos a militante comunista alemã e de origem judaica Olga Benário, que foi entregue pelo governo brasileiro ao governo alemão em 1936, nesse período estava grávida; o militar e comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, companheiro de Olga; Rodolfo Ghioldi, político e comunista argentino, dentre outros. Além do Pavilhão dos Primários, Graciliano também passou pela Colônia Correcional de Dois Rios na Ilha Grande. Antes de ser mandado para a Colônia Correcional, de dentro do Pavilhão ele publicou uma de suas obras de maior destaque, Angústia, com a ajuda de amigos, como José Lins do Rego. Graciliano foi solto em janeiro de 1937 e Memórias do Cárcere foi publicado em 1953, após sua morte, o livro não conta com o capítulo final, já que Graciliano morreu antes de escrevê-lo.

Apesar da linguagem difícil, o livro é muito bom, ver esse período (Estado Novo) pela visão de alguém que sofreu repressão e não somente pelos livros de história é ótimo para entender o contexto histórico. Recomendo.
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