spoiler visualizarNivia.Oliveira 14/03/2020
“O homem passa. Somente as obras de arte são imortais”
A agonia foi de Michelangelo perante a necessidade de criar uma obra perfeita, ainda que fosse a pintura, que ele não gostava de fazer. Mas o êxtase é todo nosso diante da Madona e o Menino de Bruges, do gigante Davi, da serena Pietá, da obra prima do teto da Capela Sistina, do São Petrônio em Bronze, do Juizo Final...
A paixão de Michelangelo pela escultura é fato. Stone em suas descrições deixa claro como Michelangelo conseguia olhar para o mármore e desnudá-lo confirmando que “a pedra esconde a forma” e não o talento dele, artista que a veste.
Incrível como Irving Stone conseguiu criar ficções coerentes e criativas para as lacunas deixadas na vida deste grande artista. Ele é tão minucioso na técnica da escultura que parece que estamos presenciando o escultor martelando a pedra e dando forma aos relevos e às imagens. Assim como a dificuldade dos afrescos que “não eram para os covardes.” (P. 38). E sempre perpassando as influências que MA recebeu de Donatello, Masaccio, Giotto, Ghiberti, Ghirlandaio e do guia que ele considerava o mais perfeito: a natureza.
Adorei a passagem sobre a escultura do Hércules, um presente de Michelangelo para a família Médicis. Essa obra foi perdida demonstrando que o autor fez uma pesquisa biográfica acurada. Assim o livro não se limita às mais famosas obras. Sem contar com a viagem pelos belos monumentos de Florença, Roma e Vaticano.
O autor conseguiu responder algumas perguntas que tive após ler a biografia: será que ele era realmente duro como pedra? Tanta sensibilidade nas suas obras não soava coerente... A personalidade de Michelangelo é fortemente marcada: inteligência, teimosia e pragmatismo. Ele realmente “já nascera com sua obra”. O autor criou um contexto em que percebemos como é difícil ser um artista, ainda mais no século XV e XVI e então passamos a considerá-lo exigente e perfeccionista, mas essencialmente humano talvez por isso tanto enfoque na figura humana.
Por que mais homens do que mulheres? “encontro toda beleza e força estrutural no homem. Os músculos a distribuição do peso e tensão têm sua simetria”.
Por que nus? Porque a zona de procriação não deveria ficar oculta, não é algo vil. Talvez o homem tenha pervertido seu uso como tantas coisas na terra...” (p.396)
Como ele concebeu cada obra? O autor nos dá motivos baseados na teologia, na filosofia, nas vivências do artista e nos fatos históricos da Itália explicando o porquê escolheu Davi, porque Noé...
Por que obras de arte desaparecem? Sempre há forças de destruição, mas nunca dominarão a criatividade.
O que dizer da disputa com Leonardo Da vinci com a batalha de Anghiari e sua batalha de Cascina?! Briga de gigantes! Excitação nas personagens da obra, do livro e do leitor!
Obrigada, Stone! Minha sensação agora é como se eu (em êxtase) estivesse estado ao lado de Miquelangelo (em agonia), me explicando cada detalhe da concepção e produção de sua obra. Afinal “O homem passa. Somente as obras de arte são imortais”. (P. 742)