z..... 27/02/2020
Série Clássicos em HQ (Ed. Peirópolis)
A Editora Peirópolis tem algumas adaptações em quadrinho sensacionais e essa é uma delas. Fico torcendo para que amplie a série "Clássicos em HQ".
Vemos a poesia de Gonçalves Dias preservada na íntegra, em que o entendimento é facilitado no desenrolar competentemente ilustrado por Silvino. Esse é o grande valor da adaptação.
O estilo do artista pode não agradar a todos, mas atinge os objetivos na exposição clara do significado do poema.
Já tinha lido e pareceu-me algo tão difícil de entender... por conta do palavreado rebuscado e antigo. Lendo no livro é uma coisa e lendo no formato dessa adaptação é outra, onde a história toma forma, materializa-se no que Gonçalves Dias desejou enfatizar, saindo da condição do que parece difícil para a crueza da terra, do cenário natural, do indígena como de fato era, da percepção sem rodeios, facilitada pela imagem (afinal, dizem que uma vale mil palavras).
Por essas e outras foi leitura prazerosa e que recomendo.
É história de resgate da dignidade própria, que fora abalada e tida de má fama pelo rompimento com tradições hiper valorizadas no contexto indígena.
Um guerreiro Tupi foi capturado pelos Timbiras, destinado ao sacrifício e antropofagia, mas no momento crucial chora e pede para ser poupado por conta do velho pai a quem ajuda. É libertado, o pai fica sabendo do ocorrido, volta com o filho na aldeia inimiga, onde tem indignação com a atitude de choro e súplica que contaram-lhe, amaldiçoando e renegando o filho. Este, diante da vergonha, é tomado de fúria tremenda e arremete contra os Timbiras, demonstrando coragem que apenas os admirados guerreiros tem. No fim das contas, acontece a reconciliação com o pai e a morte digna como era prevista no universo indígena que o poema ressalta.
Entre as partes de destaque, o canto do jovem quando capturado. Aquele da famosa maranduba (essa palavra aprendi com José de Alencar) que começa assim:
"Meu canto de morte, guerreiros ouvi; sou filho das selvas, nas selvas cresci; guerreiros, descendo da tibo Tupi".
Outra frase famosa é "Meninos, eu vi!", referente às tradições orais em que essa história era contada.
No final o ilustrador (Silvino) dá uma instigada no leitor com desenho não inspirado no poema: o colonizador chegando com suas armas. Creio num paralelo entre a dignidade indígena referenciada e a barbaridade manifestada pelo colonizador.
Meninos, eu vi!