Alma Menina

Alma Menina Camila SIlvestre




Resenhas - Alma Menina


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Aline 14/03/2016

Alma Pedófila
Janela Literária apresenta a resenha de Alma Menina, de Camila Silvestre:

Um dos fatores mais interessantes que eu considero nos jovens autores, quero dizer, nos autores da atualidade, é que alguns tentam fugir um pouco dos clichês do mundo Young Adult, que é aquele mundinho adolescente com aquelas histórias fantásticas e interessantes que a gente até gosta. O problema é quando alguns autores tentam mas fracassam mudar o que já está pre-estabelecido na cabeça dos jovens. Em Alma Menina, podemos dizer que Camila Silvestre não fracassou tanto como se imagina com essa tentativa.

Alma Menina conta a história de Maripaz (nome interessante aqui), uma jovem garota que está na flor da idade e no processo de transição da adolescência para a juventude. Ela vai morar com os tios para tentar cursar a faculdade de História a contragosto dos pais e por consequência de uma vida rotineira, acaba mergulhando em uma melancolia profunda causada pelo tédio e também pelo fato da vida dela ser cheia de lugares comuns, assim como as nossas (sim, a minha e a sua miserável e comum vida). A depressão bate na porta da personagem e ela tenta se matar, porém, em um dia fatídico, ela encontra um homem misterioso e se deixa confiar e envolver por ele de forma completamente suicida.

O livro se inicia com um prólogo deveras interessante, que é o responsável por carregar a tediosa leitura que se segue na primeira parte do livro. Não sei se a autora teve a intenção de fazer com que a personificação da sua história fosse contingente com a obra famosa O Estrangeiro, cuja maior percepção é que o que está verdadeiramente ocorrendo ali é um tremendo nada, com gosto de nada, misturado com uma pitada de nada. Ouso dizer que você ou eu jamais iríamos reclamar da vida que Maripaz têm, mas saiba que cada pessoa é cada pessoa e todo mundo pira com o que quiser.

A história tem algumas ressalvas de contos fantásticos muito bem escritos, que ouso dizer, a autora deveria se identificar mais com eles e aproveitar o talento que tem para promove-los. Esses contos explicam os sentimentos que existem na personagem e enriquecem a leitura não deixando ela piegas. Após o tédio da primeira parte da história, a segunda vem para nos presentear com o relacionamento mais estranho já visto nesse mundo sexual juvenil. Aparentemente estamos lidando aqui com um Christian Grey não muito atraente (o nome do personagem é Sérgio), mas extremamente misterioso e intenso que tem as respostas para todas as suas dúvidas existentes (bônus: ele também te come).

Minha impressão pessoal do Sérgio: ele não passa de um pedófilo comedor de mocinhas depressivas. Então Maripaz consegue encontrar algum tipo de alegria, pois, tem ao seu lado um sujeito estranho que consegue levantar sua autoestima e responder as suas maiores dúvidas existentes, mas que consegue te envolver a um ponto absurdo que foge da sua sanidade mental.

O final da obra é a coisa mais clichê de todos os tempos, mas devo confessar que consegue dar um respeito ao leitor e fazer com que as pontas que estavam soltas se amarrem. A autora também deixa o final em aberto para você poder criar todas as teorias possíveis. Engraçado que por um momento me recordou aquele filme do Leonardo Di Caprio, A Ilha. De qualquer maneira, valeu a tentativa da Camila de fugir dos clichês, apesar de não ter tido um sucesso completo com isso, pois, Alma Menina tem pontos muito absurdos que não sei se é bom ou ruim, depende da sanidade mental do querido leitor. PS: a edição que eu li tinha muitos erros de português.

site: https://www.facebook.com/janela.literaria.8/
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Anna Carolina 23/01/2016

Em seu primeiro livro, Camila Silvestre se propõe a cruzar fronteiras. Como o viajante que não sabe direito qual será seu próximo destino, atravessa, com cuidado e determinação, os meandros de sua obra na pele de uma personagem cuja alma livre está presa no corpo de uma jovem letargiada pela vidinha extremamente simplória que leva no interior de São Paulo. Isso resulta em um livro que mistura o romance com contos, realismo com fantasia, autora e obra, leitor e personagem, rompendo todas as barreiras que possam se interpor entre um e outro, formando uma realidade tão própria e, ao mesmo tempo, tão universal que deixa a sensação de, quando concluído, termos experimentado uma jornada para muito além do que nossa mente pode alcançar.

A sensibilidade ao traduzir uma situação comum de forma tão particular é a maior qualidade da Camila, como autora. “Alma Menina” é um livro metonímico, isto é, ao falar de Mari, fala por todos os que já se encontraram na delicada situação de ter a vida aparentemente arranjada, mas ansiar por outra coisa – algo que não se sabe, ao certo, o que é. E ao se colocar como a personagem, utilizando-se da narrativa em primeira pessoa, mas tomando o cuidado de conceder-lhe sua singularidade, sem torná-la uma reprodução de si própria, oferece, também, o conforto da compreensão e da confidência – uma amiga que desabafa a respeito das perturbações de sua vida.

Da mesma forma, embora, a princípio, pareça um livro voltado exclusivamente ao público feminino, a apresentação do caos silencioso em que Mari se encontra, abafado pela sensação de dívida que tem para com seus pais e todos ao seu redor, deixa claro que não se trata de algo exclusivo de jovens moças prestes a ingressar na fase adulta. É algo comum a qualquer pessoa que esteja prestes a sair de sua zona de conforto. Quando descreve a maior rebeldia de sua personagem como sendo a escolha de sua própria faculdade, Camila traz à tona a insegurança diante de um futuro moldável, o medo de trocar sua rotina soporífera pela incansabilidade das novas oportunidades, a pressão social por uma carreira rentável, embora aborrecida, a necessidade de encontrar alguém que apazigue nossa solidão e a busca pela garantia de que, no final, ficará tudo bem – tudo isso é inegavelmente próximo e atemporal. E quando Mari dá o primeiro passo em direção ao que acredita ser o melhor caminho, sua saída do cárcere de incertezas, é surpreendida por uma série de eventos que colocam em xeque sua decisão, levando-a, como escreve a autora, à beira de um precipício.

O ambiente de confusão que Camila escolhe para sua protagonista é a casa dos tios, onde Mari passa a viver ao lado deles e de suas primas. Aqui ela explora o otimismo inicial de quem acaba de ser inserido num ambiente de inúmeras possibilidades, apresentando-o primeiro como um universo acolhedor, estimulante, para depois, pouco a pouco, como quem derruba as colunas de sustentamento dessa nova vida, extrair seus alicerces ao corromper, de diversas formas, as figuras que passaram a ser suas companheiras. Em cada uma delas é projetado um medo de Mari, realizando-se fria e cruelmente, sem tempo para reagir. E ao perceber que suas expectativas e planos e conjecturas são absurdamente frágeis, e que essa fragilidade independe de uma mera mudança de ambiente, isto é, está muito além de seu controle, Mari se perde em seus pensamentos mais nocivos.

E se comumente é atribuído ao gênero um tom de condescendência quando lidando com o desespero, ou um melodrama excessivo que pouco faz jus à realidade de quem se encontra nesse estado, Camila não escorrega em nenhum dos dois. Em lugar, inova: apela para o aspecto onírico, sobrenatural e fantástico de seus contos a fim de expôr o estado emocional de Mari de tal modo que nos sintamos exatamente como ela. O objetivo é alcançado de forma excepcional, pois sua criatividade e perspicácia na hora de elaborar metáforas e cenários simbólicos geram, no leitor, um reconhecimento rápido, haja visto que, embora complexos, os contos são complementares às condições já profundamente exploradas pela autora e pela personagem, além de estimular elucubrações para além da concretude da realidade de Mari, valendo-se de elementos condizentes com seu estado de espírito, que varia do deslumbramento ao descontrole e à súplica pela salvação.

Esta se apresenta na forma de um homem misterioso, por quem Mari desenvolve uma afeição súbita, que lhe apresenta um mundo até então desconhecido onde ela é responsável por si e por sua felicidade, apenas. Nessa parte da história, Camila assume um tom mais leve, elucubrativo e esperançoso, conectando as duas personagens – a Mari repleta de melindres, enclausurada por suas limitações autoimpostas, e a Mari que dá vazão a à ânsia incontrolável de ser alguém, de fazer algo grandioso, de conquistar – sem, cair na armadilha do toque de Midas, ou seja, sem tornar esta Mari uma versão antagônica da anterior, subitamente inserida num mundo renovado pela mera força do pensamento, e sim apenas melhorada, injetada de autoestima, o que normalmente acontece quando conhecemos alguém ou nos deparamos com algo estimulante.

E Sérgio, a figura que ora se apresenta como incontestavelmente real, ora faz com que nos perguntemos se é possível que exista alguém assim, é uma extensão tanto do poder exercido por alguém que amamos, e que nos ama, quanto pela escrita de Camila em “Alma Menina”. Ao fim da leitura, nossa conexão com a protagonista e com a autora é tanta que deixa a impressão de que não apenas lemos um relato íntimo e transcendental, mas testemunhamos cada momento na vida de Mari.

Camila possui, e digo-o por já ter lido, também, alguns de seus contos, uma habilidade rara de recriar o que conhecemos. Sua escrita é provocativa, ao mesmo tempo em que busca, ao tratar de temas comuns, contemporâneos, familiares ao leitor, apaziguar as tensões de quem busca, na Literatura, alguma elucidação. Não raramente ela investe na tenuidade entre o lugar-comum e o irreal, fazendo-nos explorar caminhos novos e, mais que isso, nos guiando por eles, despertando nosso senso de mudança e redesenhando (ou melhor, reescrevendo) o mundo ao nosso redor.

Indubitavelmente, uma figura que injeta esperança no futuro controverso de nossa Literatura.

site: http://erradoemlinhastortas.wordpress.com
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Gab 16/09/2015

Não existe jeito de amar. Amor é amor. Se te faz mal, não é amor.
Alma Menina definitivamente foi uma das histórias mais lindas e incríveis que li esse ano — talvez eu possa me arriscar a dizer até hoje, porque estou encantadíssima. Ela mostra o cotidiano de uma garota normal, como eu e você, que está saindo de casa e passando por dificuldades como qualquer outra pessoa, mas também mostra como alguém caminha, ainda que inconscientemente, para a depressão, a ponto de imaginar que não existe outro caminho a se seguir, que não existe outra saída.

A história de Maripaz é maravilhosa, e Sérgio é um personagem chave na história dela — mas longe de ser o mocinho por qual ela morre de amores, e sim uma pessoa com sua devida importância, e que ajuda a tirar Maripaz da tristeza onde ela se encontra e criar confiança em si mesma, sem precisar se apoiar em ninguém para isso.

Alma Menina é incrível, e com certeza me dará abertura para ler as futuras obras da autora. Parabéns, Camila!

site: www.pandorafairel.com
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Carol Cristina | @blogacdh 28/03/2015

Resenha Premiada publicada no @blogacdh, até 20/04!
"Àquela hora, eu já deveria estar a caminho da faculdade, mas não tivera ânimo de enfrentar o ônibus cheio e o trânsito pesado. Também não tivera coragem de ir para casa, e isso me amargurava. Se não tinha vontade voltar para a minha própria casa, então para que lugar eu poderia ir? De verdade, o que eu queria mesmo era apagar às vistas do mundo."

Mais uma resenha nacional pra vocês! ♥ Quem acompanha o blog provavelmente já conhece, pelo menos de vista, o livro em questão. A Camila Silvestre é nossa autora parceira e não cheguei a comentar com vocês, mas essa é a primeira obra dela, publicada através de um concurso que ganhou: "ProAC - Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo". Achei isso muito legal, primeiro porque eles fizeram uma ótima escolha, trabalharam muito bem no livro e incentivaram a nossa literatura ;)
Acredito que esse também seja um livro que vocês estão curiosos para saber a minha opinião, então vamos lá! (tem #surpresa no final do post)
Em Alma Menina conhecemos a Maripaz, uma garota que mora com os pais no interior e está prestes a prestar vestibular. Seu pai sempre quis que cursasse engenharia ou medicina, mas Mari sentia que não queria nada disso, e no último momento, decidiu preencher o curso que queria: História. Seus pais não aceitaram muito bem a novidade, mas Mari foi estudar em São Paulo e morar na casa dos tios e primas (Júlia e Lili).
A partir daí várias mudanças começam a acontecer em sua vida, e uma delas foi conhecer Caio, um menino rico e encantador, e se tornar sua namorada. Mas erros cometidos, inseguranças e problemas a sua volta e também dentro de si mesma a fazem perder sonhos, esperanças e alegrias. Nessa história também conhecemos o Sérgio, que aparece nesse momento complicado na vida de Mari e a conquista, trazendo sua alma menina de volta.

"Eu não sabia lidar com números. Pensar em sangue me deixava enjoada. Não me via engenheira, nem médica. Nem qualquer das coisas que meu pai previa para mim. Queria estudar História, literatura, filosofia. Aprender a pensar o mundo, entendê-lo pelas idéias e pelas palavras!"

Eu gostei absurdamente desse livro, e vou tentar explicar o porquê nessa resenha, rs. Pra começar, a história é muito bonita e nos deixa uma ótima mensagem. O livro é poético e sensível na medida certa, acompanhado de uma narrativa limpa e cativante que, inevitavelmente, vai de encontro ao coração e sentimentos do leitor.
Algo que admirei muito foi o planejamento da autora pro livro, a ideia que ela conseguiu passar através da ficção e dos personagens a cada capítulo. A leitura foi diferente pra mim, considerando grande parte do que já li, e me prendeu.
À primeira vista, o livro tem cara de ser fofinho, até de ser uma história mais infantil. No entanto, vocês verão que não é bem assim... Parafraseando: "quem vê capa, não vê história" kk. Sério mesmo, eu não tinha a menor ideia do que me aguardava em Alma Menina!

"Acabou que eu desenvolvi uma certa cisma, um receio que tinha origem, mas não causa de ser. Uma esquisitice de achar que ninguém fazia cálculo do meu valor. Não só assim, do rosto de criança, mas das idéias, das palavras e da minha compreensão das coisas do mundo. A vida transformou-se em um eterno teste. Teste de filha, de aluna, de amiga. A todo momento, eu sentia ter que ser aprovada por alguém e fazer exatamente o que esperavam de mim. Assim, quem sabe através do mérito eu poderia descobrir o tamanho da minha importância."

O que acontece: além da nossa protagonista Mari narrar a história dela, em algumas passagens nós vemos contos escritos pela própria personagem, que têm a ver com os momentos pelos quais ela está passando ali. E a Mari tem uma relação muito legal com a escrita, é interessante ver como ela se refugia nas palavras ao longo da história.
Alma menina é um livro que retrata o mundo jovem, que tem seus momentos tristes, porém sem deixar a esperança de lado. É muito fácil você se identificar com os sentimentos da Mari, torcer pelo bem dela, e depois comemorar seu amadurecimento.
A grande sacada do livro é que ele entra num tema pouco comum na literatura: a depressão. E apesar da protagonista apresentar alguns sintomas, não poderia dizer que o livro é depressivo: o tema é tratado de uma forma verdadeira, mas singela e especial.
Sobre os outros personagens, não gostei muito de algumas atitudes dos pais da Mari, ela foi pra São Paulo estudar praticamente sem nenhum apoio da parte deles. Talvez muitos filhos passem por isso hoje em dia, e acho que contribuem um pouco pra isso o pré-conceito e falta de informação (claro que existem outros fatores). No meu caso, meus pais sempre me apoiaram em tudo, até quando quis fazer Biblioteconomia, rs. Não é uma profissão conhecida, e é muito mais do que eu poderia pesquisar na internet XD E o salário não é ruim, a média é mais alta do que muitos cursos conhecidos por aí, pagam bem os bibliotecários (graças a Deus kkk).
Mas enfim, agora o namorado da Mari, Caio, tinha tudo pra ser o queridinho do livro, eu amei quando eles se conheceram e tal, e ele parecia ser legal. Só parecia.
Já o Sérgio, é um homem muito bom, que muda a vida da Mari. Não sei explicar, mas ele traz um sentido, uma paz para a vida dela. E também é um mistério, por motivos de "leiam o livro" ;) Mas ele foi demais, difícil acreditar que exista alguém assim hoje em dia (eu falo muito isso, né? Mas é gente, rsrs).

"Eu trabalhava muito, estudava muito, namorava bastante, mas me divertia menos do que eu queria e escrevia menos ainda, tão pouco que fui esquecendo como isso me dava prazer. O tempo tornava-se escasso para mim mesma, e aos poucos fui me deixando de lado."

A capa do livro é uma fofura (acho que todos concordamos nisso *-*); a diagramação é bem feita, mas simples, e as folhas são brancas; contudo, acho que poderiam ter caprichado um pouco mais nessa parte interna. Os capítulos são curtos e encontrei poucos erros de revisão.
Sabem aquele final de livro que não é elucidante e "bem o que você queria", mas acaba sendo um bom final? Você não sente que a história realmente acabou: o leitor decide o significado do livro até ali, e o que vai acontecer depois. Fui clara? Acho que não, mas foi assim que me senti com Alma Menina, rs.
Assim sendo, um livro original, bem escrito, tocante, visualmente bonito... Que nota eu poderia dar além de 5 estrelas? E é a primeira avaliação máxima que dou para um nacional aqui no blog \o/
Não sei se consegui expressar bem tudo o que senti lendo-o, mas é uma história que fica marcada, um livro que você termina e precisa refletir por um tempo. Eu recomendo fortemente a todos, de coração :)
Obrigada por esse privilégio Camila, seu talento é único! Ansiosa por muitas mais histórias suas *-*

"A menina suspirou alto, um suspiro de profunda tristeza: o preço de um futuro era toda a coragem que ela não tinha."

site: http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com
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Julia G 05/03/2015

Alma menina
Camila Silvestre chegou ao Conjunto da Obra por indicação da Aione, do blog Minha Vida Literária e, logo que ela propôs me enviar um exemplar do livro, topei, principalmente porque gostei da proposta do livro e de alguns comentários que li sobre a obra, e por essa capa e esse título tão fofos. Ainda assim, senti-me às cegas, já que não tinha muitas informações sobre o que, especificamente, contava o livro. Agora, fico feliz por ter aceitado.

Alma Menina conta a história de Mari, que pela primeira vez na vida resolveu enfrentar seu pai, para tentar no vestibular aquilo que sonhava para sua vida. Aprovada, longe de casa e sem o apoio daqueles em quem mais confiava, a garota teria de aprender a viver e se cuidar sozinha. Porém, mesmo aquilo com o que ela mais sonhou podia não ser exatamente como ela queria.

Bastante curto, o livro é narrado em primeira pessoa, e tem o texto enxuto e objetivo na medida. Camila não usa palavras rebuscadas, mas consegue dar sonoridade e beleza às coisas cotidianas que conta. O livro, que poderia ter se tornado superficial em virtude do seu tamanho, trouxe um tema de peso, e me fez repensar vários conceitos que tinha pré-concebidos. Não sei se algumas coisas que comentarei aqui são ou não spoiler, mas é preciso citar alguns detalhes para conseguir me expressar.

No início, Mari me irritou. Ela estava infeliz, mas não buscava maneiras de mudar sua situação. Por isso, afundava-se em sentimentos cada vez mais sombrios e negativos. Várias vezes quis dar um "sacode" na menina. Mas então eu percebi: era depressão.

"- Não existe jeito de amar. Amor é amor. Se te faz mal, não é amor."

É engraçado como temos tendência de interpretar os outros por nós mesmos e, então, os julgamos. Mas o fato de sermos de um jeito ou de outro não significa que todos serão iguais a nós. E achar que aquilo pelo que Mari passava era fraqueza foi uma ideia que pipocou em minha mente com certa frequência. E é egoísta pensarmos assim, condenar por algo que não entendemos.

Então surgiu Sérgio. Não sei dizer, em termos médicos, se alguém consegue realmente levar outra pessoa a sair da depressão, sem remédios e tratamento. Mas o personagem parecia, na verdade, a consciência de Mari mostrando a ela como se reencontrar, como alguém que ama sem interesse, sem ciúmes, que só queria que ela conseguisse se entender e resolver seus problemas sozinha. Sérgio era um incógnita para Mari, assim como era para mim, e descobrir a verdade sobre ele, além de acompanhar o crescimento da protagonista, impulsionou ainda mais a leitura.

O enredo é intercalado ainda por outros textos de contos de fada, que seriam escritos por Mari, e mostram sua paixão pela escrita e a essência de sua alma. Eram criativos, envolventes e às vezes até me perdia na leitura deles em vez de lembrar da protagonista.

"A menina coçou a cabeça. Não era bem aquilo que ela estava
procurando a princípio, mas até que poderia servir.
- E quanto é que custa um futuro?
O homem abriu uma gaveta e retirou uma pasta enorme e empoeirada de dentro dela. Revirou alguns papéis velhos, sem pressa, enquanto a garota o observava com certa ansiedade.
Por fim, entregou a ela um papel amarelado com alguma coisa escrita. A menina suspirou alto, um suspiro de profunda tristeza: o preço de um futuro era toda a coragem que ela não tinha."

O final contribuiu para fechar todo o contexto com certo toque de magia, de leveza poética que, de certa forma, já estava presente em todo o livro. Foi o final, junto à escrita encantadora de Camila, que me ganhou de verdade.

Alma Menina é, em resumo, um livro de sonhos e obstáculos, que trata de um assunto sério com leveza e esperança e que pode ser lido rapidamente, mas com chances de ficar na memória por algum tempo.


site: http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/01/alma-menina-camila-silvestre.html
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Bruna 17/02/2015

Logo no epílogo, somos apresentados a Mari, uma jovem de quase 21 anos que está literalmente na beira do abismo emocional, e dominada por ideias suicidas. Quando está prestes a desistir de tudo, um estranho entra em seu caminho, e consegue despertá-la um pouco de seu pesadelo interior, mas seria esse estranho um perigo a mais em sua vida? Logo após, voltamos três anos no tempo, mostrando como a vida da jovem chegou a esse ponto.

Maripaz, ou apenas Mari, era uma jovem tímida, quieta, e com zero de auto-estima. Ela cresceu em uma cidade do interior de São Paulo, onde tinha uma vida modesta ao lado dos pais. O pai, comodista, nunca quis mudar de vida, e acabou jogando todos os seus planos e expectativas em cima da filha. Ela tinha que ser alguém grande, bem sucedida, e portanto, deveria que estudar Engenharia ou Medicina. Quando Mari, em seu primeiro e único ato de rebeldia, escolhe estudar história, o pai praticamente vira a cara para ela, e se recusa a ajuda-la financeiramente, já que a faculdade ficava na cidade de São Paulo.

As únicas aspirações do meu pai eram para mim, e ele trabalhava bastante para me dar condições de realizar todas elas. Todas as aspirações dele, não as minhas.
pág. 33


Assim, ela embarca sozinha e praticamente sem dinheiro para a capital, onde é recebida de braços abertos pelos tios, que tem duas filhas, Julia e Lili. E mal chega à cidade, já consegue um emprego, para bancar suas despesas, e também arruma um namorado.

Porém, ao longo desses quase três anos, acompanhamos Mari afundando cada vez mais. Ela se culpa por não ser a filha “perfeita” que os pais desejavam, seu namorado é egoísta e super grosso, seu emprego lhe faz mal, suas primas se metem em sérios problemas, e a vida aparentemente perfeita dos tios não era bem assim. E ninguém parece perceber que ela também está desmoronando. Tudo isso, somado ao espírito frágil e a falta de autoconfiança de Mari, a jogam no fundo do poço.

Minha primeira vontade era gritar, gritar alto e incessantemente, até que alguém notasse que eu precisava de ajuda. Depois essa vontade passou, e só sobrou o desejo latente de me trancar no meu antigo quarto e lá ficar, para sempre.
pág. 105



Então, ela conhece Sérgio, um homem mais velho, misterioso, que faz com que sua vida literalmente mude ao avesso. Ele é aparentemente o homem perfeito, mas então vemos Mari sucumbir a uma dependência extrema, que aparentemente, não é o que ele deseja, ou seria? Bom, para descobrir isso, e o que acontece com Mari a partir daí, só lendo o livro :).

Com narração em primeira pessoa, foi fácil mergulhar na mente turbulenta de Mari, e entende-la bem. Nossa protagonista também é uma escritora, embora não mostre seus textos a ninguém, e por meio destes entendemos melhor seus pensamentos e sua alma. Quando Mari estava bem, ou bem na medida do possível, seus textos eram mais leves, com um toque de magia e fantasia. Quando ela estava mal, seus textos eram mais curtos e refletiam sua confusão e desespero. Adorei essa ideia de inserir pequenos textos e contos da personagem no livro. Foi genial.

O livro aborda temas atuais e fortes. Quem nunca se culpou excessivamente por coisa que não eram minimamente sua culpa? Quem não conhece alguém que escolheu a carreira A ou B por influência (e muitas vezes pressão mesmo) dos pais? Quem nunca viu um amigo ou conhecido afundar de cabeça em algo muito errado e perigoso, e não conseguiu fazer nada para ajudar?

Camila Silvestre realmente me conquistou com sua sensibilidade de escrita. E o final foi incrível, realmente deu pra refletir bem em cima dele. A diagramação é simples, mas muito bem feita, e vi poucos erros de revisão. A capa é super fofa, e combina bem com a história.

Recomendo muito a leitura.


site: http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/2015/01/resenha-alma-menina-camila-silvestre.html
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Pedro Nunes 14/01/2015

Alma Menina, primeiro livro da Camila Silvestre (primeiro porque outros virão, pretendo encher o saco dela até que isso aconteça), trata sobre uma menina que, desafiando o desejo do pai, muda-se para São Paulo a fim de cursar faculdade de história. Em determinado momento, ela vê que sua vida se tornou uma prisão de clichês tediosos: namorado, trabalho, faculdade, os desafios de morar fora de casa. Ao mesmo tempo, encontra-se envolvida por problemas relacionados a essas situações e angustiada diante da sensação de incapacidade de resolvê-los. Sua forma de escape da realidade é por meio de histórias curtinhas que ela rabisca em um caderno. Pequenos contos de teor fantástico, que são alegorias de sua vida e das situações que vivencia.

Posto assim, o livro se apresenta, aos mais críticos, como uma pilha de clichês. Uma espécie de roteiro de malhação ou coisa parecida. E foi minha primeira impressão, também, ao ler a sinopse, antes de conhecer a Camila. Quando começamos a conversar e pude ler alguns de seus contos (dela mesmo, não os da personagem do livro), percebi que havia ali capacidade técnica e equilíbrio narrativo. Assim, o livro ganhou novo potencial: o de abordar situações que parecem "clichês", mas fazendo o que se pede de um bom livro, ou seja, dando a elas novo foco, uma visão repaginada. Os elementos podem ser familiares, afinal, o que importa é que, como disse Pascal, "la disposition des matières est nouvelle".

Camila é uma escritora com boa bagagem de leitura e bom conhecimento das estruturas de texto. Esse conjunto de capacidades se reflete no texto e na construção da narrativa: a protagonista é desenvolvida, aos olhos do leitor, de forma coerente e realista (notam-se lampejos de autocrítica da própria autora, aqui e ali), assim como os outros personagens são estabelecidos com certa tridimensionalidade (salvo uma das primas, que parece bastante bidimensional, o que também é, curiosamente, coerente: algumas pessoas recusam-se a mostrar mais de uma camada de personalidade, como uma caricatura de si mesmas). Ninguém é endeusado ou relegado a qualquer espécie de opróbrio sentimental ou moral, todos mostram qualidades e defeitos, têm seus momentos de pequenez e grandiloquência. Essas coisas que acontecem nesse universo que se convencionou chamar de "mundo real".

Até mesmo a relação entre a protagonista e o homem que surge do éter para ajudá-la nessa transição da adolescência para a fase adulta é permeada de uma crítica sutil. Longe de ver as coisas sempre com bons olhos, como algo maravilhoso, mágico e perfeito, como se convencionou na literatura feminina, a personagem tem dúvidas a respeito da validade do relacionamento e há uma crítica subliminar ao processo de total entrega aos desmandos de outrem como forma de libertação (sendo que, grosso modo, isso nada mais é do que mudar sua coleira de mãos; a escravidão permanece.)

Por fim, a autora consegue amarrar a trama com bastante perspicácia. Desvia-se dos abismos do lugar-comum e por vezes ameaça cair em poços de marasmo, lugares difíceis de sair e capazes de fazer o leitor desistir do livro, mas esquiva-se a tempo, sem, no entanto, precisar lançar mão de recursos fáceis e reviravoltas gratuitas na trama (reviravoltas até existem, mas construídas gradualmente).

O livro peca apenas na revisão, aqui e ali, o que é compreensível: após a apresentação do primeiro capítulo e de alguns contos, o prazo para a finalização da história para a publicação foi apertado. Isso se perdoa, é algo a ser consertado em uma segunda edição, diferentemente de uma história ruim ou mal escrita: coisa que não teria conserto. Também considerei desnecessário o epílogo, que mata uma possibilidade que, deixada em aberto, talvez engrandecesse a obra. Mas isso é uma questão pessoal, gosto do "não dito".

Enfim. Um bom livro, leve, de fácil leitura (mas nunca pobre), e que me parece muito adequado especialmente a jovens que estejam nesse período de transição de cenário de vida. Indicaria muito às minhas sobrinhas. Indicarei, num futuro próximo.

Dou ao livro quatro estrelas, de cinco.
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Khrys Anjos 16/11/2014

Renascer para a Vida
Mari é uma jovem do interior que chega a São Paulo com o intuito de estudar e ter uma vida diferente da que os pais levavam.

Ela vai morar na casa dos tios com 2 primas e sua vida se modifica drasticamente.

Em um momento em que ela pensa estar na beirada de um precipício surge o Sérgio em sua vida.

Eles vivem um intenso relacionamento baseado no mistério e nos segredos, principalmente da parte do Sérgio.

Mari carrega desde criança o hábito de escrever contos num caderno e em cada um deles ela deixa um pouco da sua alma impressa. São suas dúvidas, seus medos e todos os sentimentos cuja intensidade lhe ferem a alma.

Sérgio aparece na vida da Mari para lhe dar uma nova perspectiva. Ela está se sentindo completamente vazia por dentro e ele chega para lhe renovar o espírito.

As lições que a Mari teve durante sua estadia no interior foram fundamentais para criar o seu caráter e torná-la uma pessoa forte apesar de sua pouco autoestima não permitir ver esta verdade.

Uma das mensagens mais lindas e profundas que ela teve veio do vô do algodão doce que lhe disse como uma pessoa deve vivenciar a paz. Me encantei com a descrição simples e verdadeira.

Mari está na fase mais crítica de uma das doenças mais sérias que a humanidade enfrenta mas que não é devidamente tratada: a depressão.

Como esta é uma doença silenciosa não paramos para prestar atenção em quem está sofrendo por causa dela.

Por mais que a pessoa esteja rodeada de parentes e amigos se sente sozinha no mundo. E a cada dia vai se afundando mais e mais nesta areia movediça onde o fim muitas vezes é a morte.

Mari já está na etapa da autoflagelação onde o indivíduo passa a sentir alívio na dor.

E o Sérgio surge exatamente neste momento para servir de âncora na areia movediça e para lhe fazer enxergar a luz no fim do túnel.

Outra realidade que poucos veem: quem sofre de depressão não se cura sozinho. Se não houver alguém para lhe estender a mão, mesmo que involuntariamente, o desfecho pode ser fatal (sei disso por experiência própria). Muitos acreditam que é frescura mas esta é uma doença gravíssima que mata mais que todas as demais doenças juntas.

Mas ao chegarmos ao final da leitura fica uma dúvida no ar: Quem é o Sérgio de verdade? Ele é real ou fruto da imaginação da Mari? Ou quem sabe um espírito que resolveu passar a eternidade ajudando quem está prestes a pular do precipício?

Quem ou o que ele é não importa. O que realmente importa é o fato dele fazer com que pessoas como a Mari permaneçam tendo uma Alma Menina para que desta forma sua vida valha à pena.

A Camila escreve de uma forma tão delicada que se torna comovente. Dá para sentir todas as sensações vividas pelos personagens.

Não é somente a Mari que precisa passar por este teste. Suas primas e seus tios também têm provas muito difíceis para resolver e crescerem como seres humanos.

Este é um romance que foge literalmente do habitual e se torna único. E nos faz pensar não apenas na nossa vida mas principalmente pararmos para prestar atenção nas pessoa a nossa volta.

Quando começamos a enxergar o outro, não somente vê-lo, podemos chegar até sua alma e conhecê-lo de verdade. Muitas vezes um simples sorriso é capaz de salvar uma vida.

Em qual das duas situações você se encontra: na pessoa que espera que alguém lhe estenda a mão ou na pessoa que é capaz de estender a mão ao outro?

A Mari precisava de um estímulo para olhar para dentro de si mesma e encontrar a sua força. E foi esta a missão que o Sérgio cumpriu.

Ela foi capaz de enfrentar o pai e o "decepcionar" ao escolher cursar uma faculdade totalmente diferente da que ele havia escolhido para ela. (Este é o pior erro cometido pelos pais. Idealizam uma vida para os filhos e depois se acham no direito de ficarem decepcionados quando os filhos cortam as cordas da marionete).

Depois se ser resgatada de si mesma Mari estava pronta para alçar voos mais altos e finalmente seguir seu caminho rumo a verdadeira felicidade. E Sérgio livre para salvar mais uma Alma Menina.


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