Carol Cristina | @blogacdh 28/03/2015Resenha Premiada publicada no @blogacdh, até 20/04!"Àquela hora, eu já deveria estar a caminho da faculdade, mas não tivera ânimo de enfrentar o ônibus cheio e o trânsito pesado. Também não tivera coragem de ir para casa, e isso me amargurava. Se não tinha vontade voltar para a minha própria casa, então para que lugar eu poderia ir? De verdade, o que eu queria mesmo era apagar às vistas do mundo."
Mais uma resenha nacional pra vocês! ♥ Quem acompanha o blog provavelmente já conhece, pelo menos de vista, o livro em questão. A Camila Silvestre é nossa autora parceira e não cheguei a comentar com vocês, mas essa é a primeira obra dela, publicada através de um concurso que ganhou: "ProAC - Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo". Achei isso muito legal, primeiro porque eles fizeram uma ótima escolha, trabalharam muito bem no livro e incentivaram a nossa literatura ;)
Acredito que esse também seja um livro que vocês estão curiosos para saber a minha opinião, então vamos lá! (tem #surpresa no final do post)
Em Alma Menina conhecemos a Maripaz, uma garota que mora com os pais no interior e está prestes a prestar vestibular. Seu pai sempre quis que cursasse engenharia ou medicina, mas Mari sentia que não queria nada disso, e no último momento, decidiu preencher o curso que queria: História. Seus pais não aceitaram muito bem a novidade, mas Mari foi estudar em São Paulo e morar na casa dos tios e primas (Júlia e Lili).
A partir daí várias mudanças começam a acontecer em sua vida, e uma delas foi conhecer Caio, um menino rico e encantador, e se tornar sua namorada. Mas erros cometidos, inseguranças e problemas a sua volta e também dentro de si mesma a fazem perder sonhos, esperanças e alegrias. Nessa história também conhecemos o Sérgio, que aparece nesse momento complicado na vida de Mari e a conquista, trazendo sua alma menina de volta.
"Eu não sabia lidar com números. Pensar em sangue me deixava enjoada. Não me via engenheira, nem médica. Nem qualquer das coisas que meu pai previa para mim. Queria estudar História, literatura, filosofia. Aprender a pensar o mundo, entendê-lo pelas idéias e pelas palavras!"
Eu gostei absurdamente desse livro, e vou tentar explicar o porquê nessa resenha, rs. Pra começar, a história é muito bonita e nos deixa uma ótima mensagem. O livro é poético e sensível na medida certa, acompanhado de uma narrativa limpa e cativante que, inevitavelmente, vai de encontro ao coração e sentimentos do leitor.
Algo que admirei muito foi o planejamento da autora pro livro, a ideia que ela conseguiu passar através da ficção e dos personagens a cada capítulo. A leitura foi diferente pra mim, considerando grande parte do que já li, e me prendeu.
À primeira vista, o livro tem cara de ser fofinho, até de ser uma história mais infantil. No entanto, vocês verão que não é bem assim... Parafraseando: "quem vê capa, não vê história" kk. Sério mesmo, eu não tinha a menor ideia do que me aguardava em Alma Menina!
"Acabou que eu desenvolvi uma certa cisma, um receio que tinha origem, mas não causa de ser. Uma esquisitice de achar que ninguém fazia cálculo do meu valor. Não só assim, do rosto de criança, mas das idéias, das palavras e da minha compreensão das coisas do mundo. A vida transformou-se em um eterno teste. Teste de filha, de aluna, de amiga. A todo momento, eu sentia ter que ser aprovada por alguém e fazer exatamente o que esperavam de mim. Assim, quem sabe através do mérito eu poderia descobrir o tamanho da minha importância."
O que acontece: além da nossa protagonista Mari narrar a história dela, em algumas passagens nós vemos contos escritos pela própria personagem, que têm a ver com os momentos pelos quais ela está passando ali. E a Mari tem uma relação muito legal com a escrita, é interessante ver como ela se refugia nas palavras ao longo da história.
Alma menina é um livro que retrata o mundo jovem, que tem seus momentos tristes, porém sem deixar a esperança de lado. É muito fácil você se identificar com os sentimentos da Mari, torcer pelo bem dela, e depois comemorar seu amadurecimento.
A grande sacada do livro é que ele entra num tema pouco comum na literatura: a depressão. E apesar da protagonista apresentar alguns sintomas, não poderia dizer que o livro é depressivo: o tema é tratado de uma forma verdadeira, mas singela e especial.
Sobre os outros personagens, não gostei muito de algumas atitudes dos pais da Mari, ela foi pra São Paulo estudar praticamente sem nenhum apoio da parte deles. Talvez muitos filhos passem por isso hoje em dia, e acho que contribuem um pouco pra isso o pré-conceito e falta de informação (claro que existem outros fatores). No meu caso, meus pais sempre me apoiaram em tudo, até quando quis fazer Biblioteconomia, rs. Não é uma profissão conhecida, e é muito mais do que eu poderia pesquisar na internet XD E o salário não é ruim, a média é mais alta do que muitos cursos conhecidos por aí, pagam bem os bibliotecários (graças a Deus kkk).
Mas enfim, agora o namorado da Mari, Caio, tinha tudo pra ser o queridinho do livro, eu amei quando eles se conheceram e tal, e ele parecia ser legal. Só parecia.
Já o Sérgio, é um homem muito bom, que muda a vida da Mari. Não sei explicar, mas ele traz um sentido, uma paz para a vida dela. E também é um mistério, por motivos de "leiam o livro" ;) Mas ele foi demais, difícil acreditar que exista alguém assim hoje em dia (eu falo muito isso, né? Mas é gente, rsrs).
"Eu trabalhava muito, estudava muito, namorava bastante, mas me divertia menos do que eu queria e escrevia menos ainda, tão pouco que fui esquecendo como isso me dava prazer. O tempo tornava-se escasso para mim mesma, e aos poucos fui me deixando de lado."
A capa do livro é uma fofura (acho que todos concordamos nisso *-*); a diagramação é bem feita, mas simples, e as folhas são brancas; contudo, acho que poderiam ter caprichado um pouco mais nessa parte interna. Os capítulos são curtos e encontrei poucos erros de revisão.
Sabem aquele final de livro que não é elucidante e "bem o que você queria", mas acaba sendo um bom final? Você não sente que a história realmente acabou: o leitor decide o significado do livro até ali, e o que vai acontecer depois. Fui clara? Acho que não, mas foi assim que me senti com Alma Menina, rs.
Assim sendo, um livro original, bem escrito, tocante, visualmente bonito... Que nota eu poderia dar além de 5 estrelas? E é a primeira avaliação máxima que dou para um nacional aqui no blog \o/
Não sei se consegui expressar bem tudo o que senti lendo-o, mas é uma história que fica marcada, um livro que você termina e precisa refletir por um tempo. Eu recomendo fortemente a todos, de coração :)
Obrigada por esse privilégio Camila, seu talento é único! Ansiosa por muitas mais histórias suas *-*
"A menina suspirou alto, um suspiro de profunda tristeza: o preço de um futuro era toda a coragem que ela não tinha."
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