Melissa Padilha 20/02/2014
Alice Munro é uma escritora canadense, hoje com 82 anos, mais conhecida como a última vencedora (2013) do prêmio Nobel de Literatura. Alice é uma escritora de contos, e essa foi a grande surpresa no prêmio Nobel de 2013, que uma escritora estritamente de contos tenha vencido o prêmio. Obviamente ninguém tira o mérito de seu trabalho, há quase meio século se dedicando a literatura, seu primeiro livro foi editado em 1968, Dancing of the happy shades, uma compilação de contos , o último lançado foi em 2012, Dear Life (Vida Querida, Companhia das Letras, 2013).
Os contos escritos por Alice Munro, são contos mais longos, em comparação a outros autores cujos contos, correspondem a 10 menos páginas, os contos de Alice normalmente tem por volta de 50 páginas.
O livro O amor de uma boa mulher (The Love of a Good Woman), lançado pela Companhia das Letras (2013), tem em sua composição 8 contos, sendo o primeiro deles aquele que dá nome ao livro, os outros são Jacarta; A Ilha de Cortes; Salve o ceifador; As crianças ficam; Podre de rica, Antes da mudança; O sonho de mamãe. O livro foi escrito originalmente em 1998. Todos os contos estão centrados em contar histórias de mulheres e suas famílias, passados todos no Canadá, esse é o mote comum das obras de Alice.
É da vida comum que flui toda a história de seus contos, do nascimento de um filho, do casamento ou da falta dele, da traição, sexo, a relação com os pais, todo o contexto da vida feminina é abordada em suas histórias. Histórias essas, que não tratam de enredos fantásticos ou histórias complexas, tratam da vida comum, do dia a dia, quase daquele cotidiano que todos temos, mas aí está a grande qualidade da autora que através do cotidiano retira ótimas histórias. Quase todos os contos se passam entre as décadas de 40 e 50, com uma exceção, cuja história começa em 1974.
Não sou autora, mas acredito que retirar crônicas bem escritas de acontecimentos corriqueiros não seja uma tarefa muito simples. Alice conta suas histórias, de uma forma em que tempo e espaço modificam-se a todo momento. No meio dos contos, a autora altera completamente o foco de suas histórias, transportando seu leitor ao passado ou futuro da personagem, e segue fazendo isso, até que em determinado momento, todos os pontos são interligados, como que a cada novo fato apresentando, a cada nova informação que a autora apresenta, seja capaz de mudar o curso da vida e da história contada.
Munro cria personagens um tanto marginalizados para a época, que vivem revoluções em questões diárias, um casamento que termina porque a esposa escolhe ir embora com o diretor da peça de teatro, a mãe que não tem empatia pela filha, sexo, aborto, traição, ou um assassinato escondido por questões menores, enfim são grandes acontecimentos na vida de uma pessoa porém, contextualizado-os em eventos cotidianos, parecem menores. Tudo isso construído sob a construção e desconstrução da história, através da mudanças repentinas de espaço e tempo, característica forte da escritora.
É um livro intenso, denso e ao mesmo tempo muito simples.
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