Joao366 27/09/2020
Quando se é criança, não damos muita atenção pra histórias que envolvem questões mais complexas de ordem moral ou filosófica. São as cenas de luta que enchem nossos olhos de emoção a primeiro instante. Nessas histórias, bem e mal são duas polaridades. Sempre surge um novo vilão com nenhuma outra motivação além de conquistar mais poder, e por fim, o protagonista e seus amigos mais uma vez tem de superar seus limites pra combater o inimigo.
Nas histórias de Osamu Tesuka (criador de Astro Boy) não era diferente, também havia as cenas de luta que deixava a garotada empolgada. Mas a inovação do mestre dos mangás vai além. Os vilões apresentados tinham uma razão para agir de tal modo, existiam questões morais e psicológicas por trás das ações. O protagonista sempre tentava evitar a luta convencendo o inimigo do contrário, e por fim, você também passava a simpatizar com o antagonista do mal. Tesuka, como alguém que viveu as consequências da Segunda Guerra Mundial, fez mais do que criar histórias de entretenimento de forma leve e descontraída, ele ensinou moral e consciência às crianças e público do seu tempo.
Anos depois, Naoki Urawasa escreve Pluto, uma releitura de um dos arcos de Astro Boy intitulado originalmente "O Maior Robô da Terra", agora numa pegada de enredo e traços de desenho mais adultos. Se trata de uma linda homenagem a Osamu Tesuka. Urasawa nessa obra continua a transmitir o legado do mestre dos mangás de uma forma eletrizante, cheia de mistérios, ficção científica, investigação, e as famosas cenas de ação que todo mundo gosta. É uma nova roupagem feita com maestria mantendo com muito respeito a essência do criador original. Essa dupla de autores, mesmo vivendo e atuando em tempos diferentes, conversam entre si, e transmitem ainda hoje a mensagem essencial que o ser humano precisa lembrar a cada geração: a de que a guerra, o ódio, e a vingança não compensam, e que nada de bom pode nascer desses sentimentos.