Bruna 29/03/2016 As relações perigosas (mais conhecido como Ligações Perigosas), é um clássico da literatura francesa, publicado em 1782, por Choderlos de Laclos. Após várias adaptações, para o teatro, cinema e TV, a história já bem conhecida do público em geral, pelo menos por nome. Eu já conheço a história há muitos anos, e simplesmente a adoro! E agora tive a oportunidade de ler a obra que deu origem a uma das histórias mais fortes e intensas que já vi. E por esse mesmo motivo, a resenha de hoje é possivelmente uma das mais difíceis que já fiz, uma vez que, de um lado tem-se uma trama que eu já conheço e adoro, e do outro, uma obra cuja escrita extremamente formal a torna de difícil leitura.
Vamos lá então?
Ambientado na França, em um ano não identificado do século XVIII, As relações perigosas narra uma série de fatos envolvendo a aristocracia francesa, tendo o Visconde de Valmont e da Marquesa de Merteuil como os pivôs de um perigoso jogo de sedução e manipulação. Narrado integralmente por meio de cartas, o livro conta como estes dois nobres brincam, jogam e manipulam todos a sua volta, por simples prazer, diversão ou forma imposição de poder, sem se importar com as reputações, e mesmo vidas, que podem ser destruídas no processo. Bom, na verdade eles buscam e almejam ter essas reputações esmigalhadas, o que consideram verdadeiros triunfos e vitórias.
Desejosa de se vingar de um ex-amante, Gercourt, que buscava uma esposa jovem e inocente, a Marquesa de Merteuil arquiteta um plano para desonrar e corromper a jovem Cecile Volanges, uma menina recém-saída do convento, e a quem Gercourt desejava como esposa. Para tanto, ela pede a ajuda de Valmont, que recusa por considerar que seduzir uma menina tão ingênua não representa nenhum desafio. O foco do Visconde é outro, sendo esse a devota, religiosa e casada Presidenta de Tourvel, uma mulher conhecida por suas virtudes e fidelidade. Assim nasce uma aposta: Caso Valmont consiga seduzir a virtuosa Presidenta, a marquesa se tornara novamente sua amante. E a situação fica ainda mais complexa quando Valmont descobre que a Sra. Volanges, mãe de Cecile, falou mal dele para a Sra. de Tourvel, o que o leva a decidir que seria ele a desonrar a menina, como vingança contra a mãe. Enquanto isso, outros casos e situações nos são apresentados, demonstrando a frieza destes dois personagens principais que de mocinhos não tem nada.
Não é mesmo engraçado consolar contra e a favor, ser o único agente de dois interesses diliteralmente opostos? Eis-me aqui, igual à divindade, acolhendo anseios opostos dos cegos mortais, sem em nada alterar meus imutáveis decretos.
Da Marquesa de Merteuil ao Valmont - pág. 166
Esse é o tipo de livro que é impossível ler impassível e sem demonstrar sentimentos. Os personagens são bem complexos, porém, Visconde de Valmont e da Marquesa de Merteuil são dois que realmente nos dão nojo, devido à capacidade de dissimular, manipular e destruir tudo e todos a sua volta. A marquesa, em especial, é a mais cínica de todos, uma vez que ela não perde oportunidade de manipular até mesmo o próprio visconde. Porém, é impossível não se prender aos acontecimentos narrados nas cartas trocadas entre os dois.
Como disse no início, esse foi um livro que realmente me dividiu. Eu adoro a história, e a leitura foi enriquecedora, ao relatar muitos outros casos de manipulação dos protagonistas/antagonista do que as adaptações, que sempre focavam em Cecile e Madame de Tourvel. Porém, estamos falando de uma obra clássica, o que por si só já significa uma escrita mais arcaica. Adicione a isso o fato de que o livro inteiro é narrado por meio de cartas, e que as cartas daquela época eram muito mais formais do que a comunicação oral, e vocês tem um livro realmente formal e de difícil leitura. Eu levei muito tempo para concluir a leitura, pois só conseguia ler algumas cartas por dia.
O livro é dividido em quatro partes, e não há capítulos, e sim as cartas numeradas. Ao todo são 175, trocadas entre vários personagens, que variam entre pequenos bilhetes a extensas correspondências. A diagramação é bem simples, adotando um estilo Edição econômica, sem orelhas e com a letra confortável, mas não muito grande. Porém, a capa foi algo que realmente me incomodou, afinal estamos falando de uma obra clássica, do século XVIII, e a capa escolhida retrata um casal moderno em instalações modernas. Realmente não combinou.
Uma curiosidade interessante, que está na sinopse postada acima e na Introdução do livro, é a possível influência dessa obra na Revolução Francesa. Alguns historiadores e também Estudiosos literários consideram que o livro influenciou a revolução, uma vez que corroborou com as ideias da burguesia a respeito da corrupção de valores e moral da nobreza. Ele é considerado uma das poucas obras literárias fictícia a ter tal poder e influência. Acharam pouco???
Quem deixaria de estremecer ao pensar na desgraça que uma única relação perigosa pode causar? E quanta dor não evitaríamos refletindo melhor a respeito? Que mulher não fugiria ante as primeiras palavras de um sedutor? Que mãe poderia, sem estremecer, ver qualquer pessoa, além dela mesma, falar com sua filha? Tais reflexões tardias, porém, só ocorrem depois dos fatos.
Da Sra. de Volanges à Sra. de Rosemonde - pág. 459
Essa é uma história que eu acho que vale a pena ser conhecida, porém, não recomendo a pessoas que não tem hábito de ler livros clássicos ou mais formais. Comecem por outros mais leves, antes de chegar a esse, para se habituar.
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