Pâmela Cuti 27/07/2019
Encontrei este livro em um sebo durante uma viagem de férias. Já tinha assistido o filme há um bom tempo e, pelo pouco que eu lembrava, me parecia o tipo de leitura "bobinha" que combina com o clima de férias: que distrai e ajuda a não pensar em nada. Mas, apesar de ser gostoso de ler, este livro me fez refletir - e muito - sobre um tema que me encanta: a morte e o luto.
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Charlie vive em uma vila de pescadores e trabalha como zelador do cemitério onde seu irmão mais jovem, Sam, está enterrado. Após sobreviver ao acidente que matou seu irmão, ele recebeu o dom de conversar com espíritos. Os dois se encontram todos os dias durante o pôr do sol - promessa que mantêm ao longo de 13 anos. Por conta disso, Charlie não tem vida social e nem se afasta do cemitério. Ele teme que, se não aparecer, seu irmão vá embora para sempre. É em meio a esta rotina que surge Tess Carroll, uma velejadora que está se preparando para navegar sozinha ao redor do mundo e chega ao vilarejo depois de ser pega de surpresa por uma tempestade em alto mar. Uma ligação incomum entre eles faz com que Charlie precise escolher entre a vida e a morte, entre apegar-se ou deixar o passado para trás.
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Eu gosto muito de narrativas sobre luto, então me sensibilizei com a trajetória do Charlie desde o início. Não vou entrar aqui na questão espiritual e sim na forma como interpretei a história além da trama superficial. Gostei da forma com que o autor fala sobre a dificuldade de seguir em frente quando perdemos alguém. A promessa de Charlie é alimentada pelo seu medo de esquecer o irmão e de se permitir ser feliz outra vez. E assim ele segue preso entre dois mundos e alheio a sua própria vida. O fato é que uma pessoa nunca morre sozinha: uma parte de quem fica também vai embora junto com ela.
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Apesar do tema delicado, achei a escrita simples e leve. Os capítulos são curtos e a alternância de narradores deixou a narrativa mais dinâmica. Mesmo já sabendo o desfecho da história, os pontos de virada me prenderam. É um livro que raramente ouço falar mas que recomendo para quem gosta da temática.