Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite

Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite Fal Azevedo




Resenhas - Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite


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Ladyce 24/06/2010

Fal Azevedo assombra!
Tenho um fraco por esculturas. Num seminário em história da arte, há muitos anos, escrevi um artigo sobre o uso do espaço vazio, do vão, digamos assim, como parte vibrante das esculturas de Henry Moore e Giacometti: no trabalho de ambos e de maneiras diferentes, o que não está presente, o buraco (em Henry Moore) ou o espaço à volta (em Giacometti) tem uma função tão grande, tão intensa que faz parte da escultura que vemos, que analisamos, com o mesmo peso que as formas do bronze nos fascinam. Este é o vazio positivo, sentido mas não visto, que conta com o ausente, tanto quanto o que está exposto. Pensei nesse artigo, enquanto lia o romance de Fal Azevedo, MINÚSCULOS ASSASSINATOS E ALGUNS COPOS DE LEITE, Rocco: 2008. Nele, o que não é dito, conta. Fala. Nos move e comove. A eloquência desses pequenos silêncios pode ser vista no minúsculo parágrafo, que cito aqui por inteiro:

”O gato amarelo veio fumar comigo. Ele morde meu dedão, charmosa tentativa de me convencer de ir até a cozinha. A coisa mais fofa nesse gato é que, quando eu choro, ele apoia a pata no meu rosto. Como agora.”

O texto segue, com outro assunto, com outro momento.

Quantas vezes ela precisou chorar para perceber esse comportamento do gato? Por que chorava? O conforto de um gato seria o único conforto dado à autora dessas frases? Não sabemos, não nos é explicado. Passamos rapidamente para o assunto seguinte. A vida é curta. Há muito acontecendo. O peso do passado também assombra. No entanto, o sofrimento implicado pelo texto fala alto. E nos cala. Fal Azevedo trabalha com a elipse, a omissão do sentimento retratado, assim como Henry Moore trabalhava com um buraco no meio do corpo de uma mulher reclinada. Tanto em um como no outro, cabe ao leitor/observador fazer a conexão, participando ativamente do encontro. Envolvendo-se. O resultado sedutor, mostra um texto, que carregado de tristeza, consegue ser leve, irônico e muito, muito agradável.

Presenciamos nesse romance a chegada de Alma, personagem principal, à segunda metade de sua vida. Aos 44 anos, já viveu muitas vidas e mortes. Homeopaticamente conhecemos um pouco destes eventos através de lembranças doloridas, de cicatrizes mal curadas. Tudo é passado a limpo: as dezenas de passados, as dúzias de vidas. Alma escrupulosamente exorciza seus fantasmas e nos lembra dos nossos. É impossível não ter empatia. É impossível ignorarmos a nós mesmos. O que lhe vem à mente, chega em pequenos parágrafos, camafeus de potencialidades perdidas, nódoas de sofrimento físico e emocional do passado que ajudam a caracterizar o dia a dia de um tempo mais atual, que também presenciamos. Estes são quase entradas em um diário, que têm como pano de fundo, o passado. O estilo é sucinto. Twitter sucinto. A cada parágrafo um tempo, uma realidade. E sempre, sempre a angústia das vidas vividas. O medo. A dor. A consciência da solidão.

De grande auxílio é o formato do texto: intercala o tempo mais contemporâneo com as lembranças do passado, em diferentes parágrafos. Cada qual tem sua própria aparência gráfica, o que facilita o entendimento da trama. Este artifício simplifica e esclarece também um quase fluxo de consciência que nos permite conhecer Alma intimamente. Conhecemos os eventos. Imaginamos as emoções.

Apesar da tristeza latente, das dores auto-geradas e das auto-impostas, das frustrações e sofrimentos dessa mulher, uma artista plástica em busca de uma identidade profissional, esse romance é repleto de otimismo, de gosto pela vida e de humor. Oferece então, ao leitor, uma válvula de escape e um ponto de apoio nas lutas diárias pela sobrevivência física e emocional. Sem ser piegas, sem ser auto-ajuda essa história nos força a refletir sobre a nossa própria existência e nas ramificações dos nossos atos.

Eu poderia continuar nesse tópico por muito tempo. De especial ironia são as cenas e os pensamentos na galeria de arte. Tão real… Mas quem não gostaria de ter os amigos de Alma como amigos? E de receber emails tão precisamente relevantes quanto ela? Tão irônicos e concisos? E quem não gostaria de ter como vizinho um Seu Lurdiano, que como um anjo da guarda, alimenta sua amiga com comida do corpo e da alma? Quem não gostaria de um amigo com quem se pode ficar calado por algumas horas na mais perfeita intimidade?

Mas nenhum desses amigos, nenhum desses emails, se os tivéssemos, nada, conseguiria dar ao leitor o prazer desse texto e os parâmetros para a auto-reflexão que esse livro consegue gerar. Aqui fica a sincera recomendação para a leitura desse pequeno mundo mágico de Alma. Um dos melhores livros que li em 2010 e certamente um dos mais interessantes livros que li de autor brasileiro há muito, muito tempo. Não percam.
Rosa Santana 25/06/2010minha estante
Ganhei de amigo secreto esse livro. Ele está na minha fila. Só que, quando é da gente, fica mais tempo agüentando o peso dos outros...
Gostei muito da sua resenha. Vou ver se o leio por agora...


Katia Rejany 29/09/2010minha estante
Sensacional...




GilbertoOrtegaJr 20/12/2015

Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite – Fal Azevedo
Eu acredito que cada livro é um livro, prefiro pensar assim do que seguir o método de se não gostei de um livro de um autor não gostarei de nenhum, e é assim que eu acabo dando novas chances a autores que li um livro e achei chato. É este o caso da escritora Fal Azevedo, quando li seu primeiro livro Sonhei que a neve fervia (uma obra onde ela mostra como viveu o primeiro ano após a morte do seu marido), no caso não gostei tanto deste primeiro contato, mas notei que tinha um estilo muito interessante ali que adoraria ver na ficção, o que acabou me fazendo procurar o seu livro anterior Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite.

Livro em mãos comecei a ler, e fui sugado pelo livro, que de forma fragmentada conta a história de Alma, uma pintora de meia idade que vai relembrando fatos de sua vida, que é em grande parta composta por muitas dores e perdas. Mas o livro não é do tipo coitadinha de mim, pelo contrário a personagem sabe rir de si mesma, e sabe ser consciente a ponto de entender quando foi que ela errou, e quando foi que ela acertou.

De forma não linear e fragmentada será mostrado a infância com os pais em uma espécie de comunidade hippie até o momento atual onde al vive em uma casa cheia de cachorros e ao lado do seu vizinho inseparável, passando é claro pelo divórcio dos pais, a morte da irmã, relacionamentos abusivos e vícios, muitos vícios desde comida até mesmo remédios, ou relacionamentos abusivos.

Isso não quer dizer que a vida de Alma seja um mar de tristeza a ponto de após o livro o leitor ficar na fossa, ela é uma vida normal, com momentos tristes e momentos alegres, mas é claro que a alegria é muito mais fugaz que algumas marcas que a pessoa carrega ao longo da vida.

Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite pode ser delicioso como as várias comidas que dão nome aos capítulos, mas a comparação mais apropriada é uma granada de mão que é atirada contra o leitor e explode, ferindo-o com os seus vários fragmentos deixando não somente marcas, mas também em estado de profunda reflexão ao término da leitura.

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2015/12/20/minusculos-assassinatos-e-alguns-copos-de-leite-fal-azevedo/
Renata CCS 21/12/2015minha estante
Eu tb adorei este livro!


Rosa Santana 10/01/2021minha estante
Estou lendo
Estou lendo. Tinha me
Prometido que, se fosse estilo neve fervendo abandonaria logo. Ainda não deixei, então...
Agora é seguir para ver qual é a da Alma.
Fal Azevedo foi muito comentada no grupo de leitura que tínhamos no Orkut. Algumas pessoas de li choraram litros lendo a neve...




Ju Furtado 25/04/2010

Um livro inadiável (plagiado da orelha)
Vou escrever o que postei no meu blog, porque não consigo me expressar melhor sobre esta grande obra prima.

Texto da contracapa: "Eu choro, sabe? Eu choro poque a dor não me deixa respirar e mesmo assim eu respiro fundo e solto o ar em oito tempos, como nos exercícios da aula de canto. Enquanto bato claras em neve e meço a quantidade de leite para o suflê, enquanto ralo o queijo e penduro a roupa no varal, enquanto misturo as tintas, enquanto lavo os pincéis. Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto. Todas as vezes. Todos os dias."

Esta é uma prévia do que este livro oferece. Nada o descreve melhor que um sonoro e libertador P.Q.P.
Escrito. Por extenso. E gritado a toda a força dos pulmões.
Ps.: Neste caso, "nada" não é uma palavra forte demais. Equivale a uma síntese da expressão "porra de língua de portuguesa que foge quando a emoção pede voz."
Tenderam? LEIAM.

Ps.: Adorei as resenhas da Ana Rodrigues e da Dani.
Ps2: Sandrinha Cacau, se eu puder sugerir algo, sugiro a releitura. Na minha modesta (mas ousada) opinião, vc não entendeu o livro... e isso é quase imperdoável!:-)))))
Renata CCS 23/10/2013minha estante
Depois de ler sua resenha e a da Ladyce, fiquei instigada a ler este livro. Vai para a lista de futuras aquisições.




Tito 29/06/2010

Um inventário em dois tempos das derrotas, auto-sabotagens e perdas diárias, tanto grandes quanto pequenas, de Alma, uma artista plástica de 44 anos refugiada da própria vida. Um relato feminino, sofrido e, sobretudo, melancólico, com alguns achados de forma e algumas preciosidades de conteúdo.
Katia Rejany 04/07/2010minha estante
O proximo da lista...




Viviane 15/03/2011

Freud teria adorado
É um relato biográfico com discursos paralelos, capítulos com nome de comida e inserções de receitas, e-mails e trechos de correspondências. Os personagens têm desajustes um tantinho além da média, as relações são problemáticas e os vícios fogem do controle, o que para um leitor um pouco mais certinho dificulta a empatia e inibe qualquer admiração. Não gostei do livro durante a maior parte do tempo.
Então descubro que mesmo (supostamente) não gostando, minha leitura não foi interrompida nenhum momento entre a primeira palavra e o ponto final. Fiz tantas marcações de frases (às vezes páginas inteiras) e sinalizações que meu livro ficou parecendo exemplar de estudo. E ainda que minha realidade não se pareça em nada com a da obra, compreendi cada um dos personagens e seus problemas.
Ainda não tenho certeza se gostei do livro, mas concordo com a Alma na suposição de que Freud a teria adorado.
DIRCE 20/03/2011minha estante
Gostei da resenha, mas vou dar um tempinho: tenho outras prioridades.




Rodrigues 27/07/2009

Belo livro!
Cheguei ao livro por indicação da Cora Rónai que recomendou muitíssimo a obra e o blog da autora, o Drops da Fal. Fui primeiro ao blog e fui conquistada de cara. Fal tem profundidade e humor em doses perfeitamente administradas. É carinhosa sem ser boazinha. É confessional sem ser constrangedora. É inteligente e, costurando tudo isso, escreve bem pra caramba!

Do blog para o livro foi um passo e, de novo, não me decepcionei. Não tenho lá a melhor das relações com essa estrutura fragmentada e de tendência depressivo-agressiva que caracteriza boa parte dos autores nacionais da última geração. Mas, lendo “Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite”, lembrei que o que importa não é tanto a forma da obra literária e sim o quanto ela é realmente bem escrita. E esta é.

Todas as características que listei para o blog, são encontradas no livro e, com a mesma mistura de riso e choro, acompanhamos um recorte da vida de Alma, artista plástica, professora bissexta, que coleciona perdas e amigos com a mesma intensidade. Alma não tem uma vida bonita – e preciso dizer que isso incomoda – mas quando terminamos a leitura estamos tão conquistadas por ela, quanto ficamos depois de uma visita ao blog da Fal.
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sandrinha cacau 17/04/2010minha estante
Gostei em parte...achei meio confuso... mistura presente, passado e receitas de bolo, de bebida, textos de e-mail sem sentido... sei lá... acho que o conteudo é bom, mas está embaralhado.


Ju Furtado 25/04/2010minha estante
Adorei sua resenha. Bem completa e transcreveu em palavras o que não consegui! ;)




Carol Angeli 19/11/2009

Para rir e chorar junto. É emocionante, dolorido...
Bom demais!
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Nana 14/02/2010

Um livro triste sobre perdas e dor!
Uma história cheia de sentimentos, perdas, questionamentos e muita dor.
Com grande sensibilidade e um senso de humor inteligente , a autora divide com o leitor as emoções da personagem Alma, uma mulher atormentada com suas emoções, seus medos, angústias e frustrações.
A narração oscila entre acontecimentos atuais e lembranças do passado.
É um livro emocionante, bem escrito, de leitura rápida e fácil, mas bem profundo!
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DANI 04/04/2010

Como "enterramos" as nossas próprias dores ao longo da vida?!
Estou simplesmente encantada com este livro. É de uma sutileza comovente... que quando vc menos espera se vê dentro do livro se indagando como se fosse a personagem principal."minusculos assassinatos e alguns copos de leite" fala sobre a forma com que lidamos no dia-a-dia com os nossos minúsculos assassinatos, ou seja, com as perdas, desilusões, tristezas, que correspondem aos minúsculos assassinatos ao longo de nossas vidas, e quantos copos de leite nos despedimos daquilo que perdemos.
A Fal Azevedo nos abre o caminho para que possamos questionar a nós mesmos, aonde e como chegamos aos dias de hoje, quem é essa pessoa que nos tornamos e quais as concepções que se mantiveram vivas ao longo desse caminho.
É simplesmente apaixonante!
Leiam!
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Ju Furtado 25/04/2010minha estante
Dani, que livro é esse??? Meu Deus, uma das obras mais lindas e profundas que já li na vida! E adorei sua resenha!




sandrinha cacau 17/04/2010

Gostei em parte...a narrativa mistura passado, presente, receitas de bolo, receitas de bebidas, e-mails confusos...o tema é bom, mas acho que poderia ter sido mais objetivo, sem muitos labirintos.
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Bete Lima 18/12/2010

Um verdadeiro soco no estômago - assim pode ser definido 'Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite', primeiro romance da paulistana Fal Azevedo, que, invariavelmente, leva o leitor a reavaliar suas relações familiares. O livro conta a história da pintora quarentona Alma, que mesclando os papéis de biógrafa e biografada, paciente e analista, passa a limpo sua sofrida trajetória, constituindo uma delicada colcha de retalhos da vida e virando do avesso quem se propõe a acompanhá-la nesta jornada marcada por perdas, feridas e cicatrizes. Afinal, a indesejada morte sempre nos pega de surpresa e rouba um pedaço da gente.
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Sodalita 16/10/2012

Grata surpresa.
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Marcia Saito 14/02/2014

Literatura poética de vidas fracionada
Uma tragédia anunciada traz à tona problemas familiares que leva a personagem Alma recapitular fatos que fez sua família desintegrar. Lembranças dos que foram, sentimentos sufocados, a incompreensão do cumprimento de obrigações sociais e papéis familiares. A confusão e a exaltação dos sentimentos que insistem dominar uma vida que só quer a normalidade, a paz e o amor compreensivo.
Duas linhas de narrativa, que correm em paralelo, se harmonizam com cada momento que pontua a vida da personagem, que convive com sua tentativa de viver com certa normalidade. Os vícios, os gatos, os cachorros, um vizinho prestimoso e que cuida-a da maneira dele. Os quadros, a casa longe da praia, lembranças de outras mortes próximas e dolorosas demais, os parceiros que foram. A Mãe. O Pai. A irmã morta. A filha.
Uma leitura diferente, que não segue a estruturação usual dos romances que existe por aí. Descompromissada e cheia de detalhes que poderiam ser espelho da vida de qualquer um, flui tranquila e pulverizada em frases que pontuam o que é de importância para a personagem. Leitura suave e sem sobressaltos, apenas como a vida poderia ser encarada com sensibilidade e reflexões de quem a quer viver em paz em sua felicidade pessoal.

Obs.:Foi a indicação de Luana Lott (muito fofa!), filha de Mauricio Alves, um ex-amigo FB que o vitimei com minha imaturidade, em um momento de estupidez. Mesmo à distância, ele me beneficia com coisas boas, como esse livro. Não há perdão para a hostil e imatura, como eu. Sinto falta de sua perspicácia e sensibilidade silenciosa.

site: http://torrenteliteraria.wordpress.com
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Librarian L 01/09/2017

A leitura surpreende.
A autora, já conhecida no meio digital e também pelo seu trabalho como tradutora, surpreende quem folheia o livro em busca de uma boa leitura.Com uma narrativa fragmentada, ora no presente, ora no passado, ela nos apresenta o interior da personagem principal e seus dramas, seu cotidiano e aqueles pensamentos que se "pensa alto" de vez em quando. A escrita é madura, de uma autora que já sabe manipular as palavras para compor uma personagem... Vale a pena, é daqueles livros que se lê rapidamente, por querer saber mais e mais.
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