Thaianne 24/05/2023Sobre a experiência da diferença"[...] o que seu título diz que é: um elogio ao amor, sugerido por um filósofo que, tal como Platão, pensa que: "Quem não começa pelo amor nunca saberá o que é filosofia"."
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"[...] no mundo de hoje, é amplamente difundida a convicção de que cada um segue apenas seu próprio interesse. O amor é então uma contraexperiência. Mesmo que não seja concebido como a única troca de benefícios recíprocos, mesmo que não seja planejado com muita antecedência como um investimento rentável, o amor é, com certeza, uma confiança depositada no acaso. Ele nos conduz ao campo de uma experiência fundamental daquilo que é a diferença e, no fundo, à ideia de que é possível experimentar o mundo a partir da diferença."
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"Sim, a felicidade amorosa é a prova de que o tempo pode acolher a eternidade."
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"Defender o amor naquilo que ele tem de transgressor e heterogêneo é mesmo, portanto, uma tarefa do momento. No amor, no mínimo confia-se na diferença, em vez de desconfiar dela. E, na reação, sempre se desconfia da diferença em nome da identidade: essa é sua máxima filosófica geral."
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"Amar é, para além de toda a solidão, estar às voltas com tudo o que no mundo é capaz de animar a existência".
"Elogio ao amor" é a transformação em obra literária de um diálogo ocorrido entre Alain Badiou e Nicolas Truong sobre o amor (romântico, diga-se de passagem). O livro para mim tem seu ponto alto nos capítulos iniciais, em que Alain Badiou desenvolve o conceito de sua visão do amor enquanto edificação de uma verdade - a verdade da construção de um mundo novo a partir da diferença - e como fixação do encontro, do acaso, desenvolvendo, em uma temporalidade própria, sua duração. É interessante notar que, por mais que os conceitos discorridos pareçam inicialmente se assemelhar com a visão de certas religiões do amor, Badiou rejeita essa similitude como princípio fundamental, por não considerar uma visão fusional do amor, que para ele é sempre uma experiência do Dois (não orientada para o Um, o Todo-Outro, e é justamente nisso que para ele reside sua beleza), e de perceber o mundo a partir desta diferença. Além desses conceitos, os diálogos abordam um pouco das possíveis relações entre amor e arte e amor e política. Como todo livro de filosofia, podemos tirar daqui coisas com as quais concordamos e coisas das quais discordamos kk, mas no geral achei uma leitura muito bonita. Como se trata de uma adaptação de um colóquio, também é, talvez, uma leitura mais direta, principalmente quando comparada a outros livros de filosofia. Nem por isso, no entanto, desprovida de profundidade ou menos interessante/gostosa.