Andrizy 17/11/2020
Confesso que não sou muito de reler livros. Foram poucos os títulos que reli em todos esses anos de leitora compulsiva. Mas um livro bateu o recorde: quatro releituras. E se me perguntarem qual é a história de amor mais bela que já li, sem pestanejar, responderei Harold & Maude. Uma história de amor atípica, capaz de fazer muita gente torcer o nariz ao descobrir de que se trata.
Harold, quase 20 anos, aficionado pela morte, possui gostos peculiares. Peculiares de verdade. Ocupa boa parte de seu tempo forjando complexos e mirabolantes suicídios para impressionar e chamar a atenção da mãe. Seus outros hobbies incluem ir a funerais de desconhecidos, dirigir um carro funerário e assistir demolições. Ele é um entusiasta da destruição. Maude, quase 80 anos, é totalmente o oposto; apaixonada pela vida. Ao contrário de Harold, ela gosta de apreciar as plantas crescendo e florescendo, tem um passado como militante e revolucionária, sempre lutando por direitos e justiça. Muito à frente de seu tempo desde sempre, Maude questiona regras, imposições e convenções sociais. Desapegada de bens materiais, falante e vivaz, ela transforma a vida de Harold, o ensinando sobre quanto a viva vale a pena ser vivida e a encontrar prazer na criação e não na destruição.
O romance ainda quebra tabus relativos ao sexo, religião, casamento e relacionamentos entre pessoas de faixas etárias distintas. Ao mesmo tempo que é um romance tocante, é uma comédia de situações. É trágico e divertido. O grande charme e a sacada do livro, está nesses contrastes. A mensagem é evidente: viva, ame, arrisque-se, sofra, machuque-se até. Mas não deixe que os erros e as falhas o impeçam de viver o máximo que puder. Sobretudo, esta é uma história que te faz enxergar a vida por outras perspectivas e questionar as razões de termos nosso dia a dia tão pautado por regras sociais.
Pessoalmente, o livro marcou minha vida de várias maneiras diferentes. Assim como o filme. Publicado pela primeira vez em 1971, o romance atípico de Collin Higgins ganhou uma adaptação para o cinema no mesmo ano, dirigido por Hal Ashby e estrelado brilhantemente pela saudosa Ruth Gordon e Bud Cort, uma dupla que personifica com excelência os protagonistas do livro e mostra uma impressionante química na tela. Distribuído pela Paramount Pictures, o longa conta com uma trilha sonora maravilhosa a cargo de Cat Stevens. A história ganhou diversas outras adaptações ao longo das últimas décadas, especialmente para o teatro e virou até espetáculo da Broadway. Vale a pena revisitar esse clássico que ganhou status de cult.
Dezesseis anos depois da primeira leitura e já tendo lido o livros exatas cinco vezes (ele é curto; leva mais ou menos duas horas para concluir a leitura), eu continuo sendo um Harold tentando ser Maude.
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