Castello

Castello Lira Neto




Resenhas - Castello: a Marcha para a Ditadura


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Dalmo 11/02/2024

Em tempos de gorilas...eis o banana
Obra preciosa do Lira Neto, que precedeu a fantástica trilogia do Getúlio. Escrita sedutora deste que, ao lado de Fernando Morais e Hélio Silva são os destaques no Brasil em termos de biografia. Quanto a personagem, o título exprime bem do que se trata. Alguém que sem atitude para tirano ou democrata, legalista ou golpista, acabou engolido pela por sua própria pusilanimidade. Ou seja...na era de gorilas... eis o banana.
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Gui Mendes 08/12/2023

Canetada do Lira Neto
Publicado em 2004, Lira Neto com seu estilo facilmente identificável consegue levar o leitor a passear por toda a vida de um dos brasileiros mais emblemáticos do século XX. Castello Branco era uma pessoa rabugenta e tímida, mas também extremamente calculista, como foi provado pelo sucesso na intervenção de 1964.

O autor nos apresenta detalhes importantes não apenas da história, mas do caráter e da personalidade do ditador que nos ajudam a compreender o golpe de estado.
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Tharlley 09/06/2022

Muito interessante acompanhar como desenrolou a participação do Castello na formação da ditadura no Brasil.
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Lucas 27/02/2022

Militarismo e política: O início do abrigo encontrado pela caserna no Poder Executivo brasileiro
O golpe militar ocorrido no Brasil entre março e abril de 1964 foi um movimento único não só dentre os vários momentos de "fraturas" históricas nacionais ocorridas ao longo do século XX como também de outros processos revolucionários globais importantes. Mas o que tornou a tomada do poder pelos quartéis, derrubando o presidente civil João Goulart (1919-1976) tão destacável, foi um caráter curioso: o movimento não elevou um nome de destaque, alguém que teve os holofotes revolucionários todos para si durante o processo de derrubada do regime anterior. Foi um processo coletivo, protagonizado pelos comandos militares como uma resposta aos "ameaçadores" movimentos esquerdistas do presidente João Goulart.

Entretanto, um nome emergiu desse movimento como aglutinador do militarismo, da política e dos ditos civis: o marechal cearense Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967), um dos articuladores do golpe militar de 1964 e primeiro presidente do regime, que durou mais de duas décadas. E para trazer mais luz à trajetória deste brasileiro tão importante para a história nacional (a qual é inegavelmente relegado a um papel secundário nos livros de história geral), o também cearense Lira Neto (1963-) escreveu a biografia do seu conterrâneo, lançada pela editora Companhia das Letras em 2004.

Castello – A Marcha para a Ditadura foi a primeira obra a seguir o padrão Lira Neto" de qualidade biográfica, a qual se consolidou posteriormente com as biografias da cantora Maysa (2007), de Padre Cícero (2009) e a espetacular biografia em três partes de Getúlio Vargas (2012 a 2014). O estilo de escrita do autor notabiliza-se por uma forte vertente literária: seus livros são biografias, mas Lira Neto consegue com maestria biografar com pontuais toques literários, que exprimem ação e emoção nos lances decisivos da vida do biografado. E ele faz isso com uma sutileza que precisa ser estudada, a qual não carrega o texto com qualquer viés pessoal que o autor pode desenvolver. Lira Neto sabe como poucos respeitar a distância entre biógrafo e biografado, mas quando ele transpõe esta linha o faz com o intuito de tornar o texto mais literário e menos jornalístico, correspondendo a um movimento genial que prende a atenção do leitor.

E falando em movimentos decisivos, a vida de Castello Branco foi cheia deles. Filho de um militar, Castello e o restante da sua família passaram boa parte da sua vida seguindo os passos do pai, frequentemente transferido de quartel para quartel. Mas foi no Rio de Janeiro que o biografado fixou residência, especialmente quando assumiu o cargo de diretor da Escola de Comando Estado-Maior do Exército (ECEME) após ter se tornado um herói de guerra da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial no norte da Itália. Extremamente inteligente, Castello Branco, inicialmente um militar puro, que não admitia interferências militares na administração do país, foi seduzindo-se pelos desmandos civis ocorridos no pós-guerra, especialmente com a inacreditável renúncia de Jânio Quadros (1917-1992), a qual durou sete meses na presidência e as posteriores ebulições causadas por João Goulart e seu discurso radicalmente reformista.

Lira Neto, entretanto, sabe dosar bem estes movimentos decisivos. Aproximadamente metade da obra ocupa-se em debater a participação (aparentemente discreta, mas politicamente robusta) de Castello Branco no golpe militar de 1964 e seu posterior mandato presidencial. Parte significativa das páginas retrata um sujeito conservador, que prezava pelos valores familiares, presença assídua na Igreja (ele e a família eram católicos fervorosos), normalmente de bom-humor, mas sem ser irreverente e uma admiração digna de nota para com a esposa, a mineira Argentina Vianna (1899-1963), a qual não chegou a ver o marido na presidência. No geral, Lira Neto pinta um biografado com momentos simpáticos mas que, como presidente, frustrou grande parte do apelo civil em torno do seu nome (políticos como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitscheck e Ulysses Guimarães foram a favor de sua indicação à presidência).

Tal frustração não atingiu apenas Castello Branco, mas sim praticamente toda a sociedade civil brasileira, que via nos militares um escudo necessário contra o "fantasma" do comunismo, simbolizado por João Goulart. Se Castello Branco atraiu boa parte da opinião pública para a necessidade do golpe em 1964, foi ele também, com suas ações e omissões quem afastou boa parte deste respaldo público e midiático. Quando ele deixa a presidência, em março de 1967, é triste seu estado de solidão, política e literalmente falando. Importante destacar que Castello, e Lira Neto descreve isso formidavelmente, não foi um mero inocente neste processo de subserviência à chamada linha dura: os quatro primeiros Atos Institucionais, instrumentos legais que regulavam as atrocidades militares, foram assinados por Castello Branco; a Constituição Federal de 1967, a qual perdurou até 1988, feita às pressas e com enormes falhas, também deu-se durante o seu mandato. Várias cassações importantes foram assinadas pelo primeiro presidente do regime militar: o esfacelamento do Congresso Nacional deu-se a partir de suas canetadas.

Apesar disso, o grande equívoco de Castello Branco foi ter cedido a chamada linha dura, simbolizada aqui pelo general gaúcho Arthur da Costa e Silva (1899-1969), a qual, sucedendo a Castello na presidência, instalou um regime ditatorial puro, simbolizado pelo brutal Ato Institucional nº 5 (AI-5), baixado em 1968. Mas este movimento passivo também precisa ser compartimentalizado: os militares, financiados e incentivados por norte-americanos, diga-se, era quem davam as cartas e a vitória da linha dura, por meios pacíficos ou não, seria inevitável.

De todo modo, Castello conviveu e protagonizou inúmeros dilemas típicos da mistura entre caserna e palácios presidenciais: a relação conflituosa com a imprensa, as táticas de desinformação e distorção, o apego a métodos de ensino que desfavoreciam as ciências humanas, a disseminação do ódio a discursos reformistas, o patrocínio ao combate à uma organização comunista global que está a espreita para dominar o planeta e distorcer os valores familiares, sociais e cristãos, entre outros sintomas típicos de quem acha que o exercício do poder é uma ferramenta que deve ser exercida unilateralmente, sem diálogo com partes discordantes. Tais elementos conferem à biografia escrita por Lira Neto um desagradável verniz de atualidade.

Castello – A Marcha para a Ditadura é um livro excelente naquilo que se propõe: narrar a vida de um dos brasileiros que melhor simbolizaram a mistura entre quartéis militares e poder executivo e das consequências, positivas e negativas, que advém desta junção. Apesar das visíveis falhas de caráter do biografado, a narrativa de Lira Neto faz de Castello Branco (especialmente com o misteriosíssimo acidente aéreo que o vitimou quatro meses após deixar a presidência) uma figura que precisa ser mais estudada e valorizada, seja pela sua coragem e inteligência militares (comprovadas na Segunda Guerra Mundial), seja nas perfídias e acertos em sua curta vida política.
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Igor13 30/09/2021

Fácil de ler e informativo
Achei esse livro útil para aqueles que já tem uma certa intimidade com o assunto. Tive uma certa dificuldade com o livro do Elio Gaspari, "A Ditadura Envergonhada". Inclusive retornarei este último após esse livro do Castello e outro: "Depoimento" de Carlos Lacerda (livrão).

Enfim, vale para quem já tem uma base e quer um pouco mais a fundo e 'aparar arestas' mal explicadas em outras obras.
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Wagner 23/03/2021

A melhor maneira de evitar uma ditadura é instituí-la
O livro parece gritar isso. Desde a primeira república a democracia brasileira e extremamente tumultuada e frágil. A morte de Getúlio adiou o golpe militar por dez anos, que finalmente aconteceu em abril de 64. E a primeira grande biografia do autor Lira Neto, mais conhecido por sua tri
logia Getúlio. A maior parte do livro e sobre a vida e formação de Castello Branco, o primeiro presidente militar pos golpe. O período extremamente conturbado da presidência e narrado apenas no final. De acordo com o livro, a melhor maneira de evitar uma ditadura é instituí-la e a melhor maneira de proteger a democracia é destruí-la. Apropriado para os dias atuais.
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Jeff.Rodrigues 29/03/2020

Resenha publicada no Leitor Compulsivo
A ditadura militar iniciada no Brasil em 1964 retornou às discussões em tempos recentes, sofrendo distorções ou sendo enquadrada naquilo que podemos chamar de pós-verdade em uma busca incessante ora para atenuar ou ignorar seus crimes, ora para colocá-la como um período próspero na história nacional. Evidencia-se aí o quanto nosso ensino é frágil no tocante aos próprios fatos que construíram nosso país. Em um país mais preocupado com a qualidade de sua educação, discutir se a ditadura foi ou não uma ditadura só entraria em pauta nos mais esquizofrênicos delírios. Infelizmente, ela está em pauta e vem sendo incensada cada vez mais pelo ocupante da presidência da República neste 2020 e pessoas de seu entorno.

Em um cenário como esse, nem é preciso dizer que informação e estudos de qualidade, de fontes confiáveis, são as melhores armas para se manter são e pronto para debater ou simplesmente interpretar tudo que anda acontecendo por aí, incluindo nosso passado. E entender a ditadura passa pela leitura de muito do que se publicou sobre o período por autores sérios que se basearam em depoimentos e extensa pesquisa. Basta pensarmos na série de Elio Gaspari que abrange todo o período ditatorial. Ou na fundamental biografia que Lira Neto produziu sobre um presidente bem obscuro e pouco lembrando por nós, mas que foi o primeiro ditador e cujos atos determinaram muito do que veio a seguir.

Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente militar, o primeiro ditador, e um sujeitinho ambíguo. Sua biografia nos leva a um passeio pelos principais acontecimentos da história brasileira no século XX, culminando com a ditadura em 1964. Apesar de pouco chamar a atenção devido à sua feiura, baixa estatura e poucos atrativos dentro de uma carreira marcada pelo heroísmo e bravura, Castello tinha o intelecto a seu favor e um dom de estrategista que marcaria toda sua vida. Foi assim que aos poucos galgou os degraus da carreira militar e foi se destacando a ponto de ser escolhido por um grupo de governadores como a pessoa ideal para o mandato-tampão pós deposição de Jango. Inocentes governadores. Ao mesmo tempo que era estrategista e forte, Castello também era fraco. Dotado do senso da cautela tanto sabia esperar para acertar quanto soube esperar demais para errar.

A biografia do primeiro presidente da ditadura militar nos revela um homem de formação democrática, extremamente preocupado com a garantia e cumprimento do que determinava a lei e a Constituição. Estranha-se notar como alguém que sempre se colocou a favor da legalidade tenha trilhado caminhos opostos e jogado o país numa escuridão sem fim de autoritarismo. Castello era ambíguo e como presidente, na reta final de seu mandato, tomou as decisões mais equivocadas e contribuiu para o endurecimento de um regime que, esperava-se, terminaria com ele. O democrata dos tempos de juventude e da carreira militar cedeu lugar a um calculista frio que, apesar de ser fraco em diversos posicionamentos, manobrou como ninguém para aprofundar os mecanismos que mais tarde se tornariam a máquina de tortura, prisões e mortes da ditadura.

Lira Neto mergulha fundo em registros pessoais que vão mostrando a formação do jovem idealista, seus embates dentro dos círculos militares e o ápice como presidente da República. Um Castello amoroso e enlutado pela perda da mulher que foi um combustível em sua vida e um Castello enxadrista a mover peças em um tabuleiro de políticos e militares. Lacerda, JK, Magalhães Pinto, Costa e Silva, Geisel… Desfilam pelas páginas de sua biografia personagens que foram tanto ludibriados quanto manobrados. No fim, terminou seu mandato tão pequeno quanto sua estatura. Mas lançou as bases da loucura que Costa e Silva desencadearia a seguir. E, acidentalmente ou não, encontrou o fim em um desastre aéreo que se não foi punição suficiente, pelo menos pode ter gerado boas reflexões nos minutos que antecederam a queda.

Conhecer a trajetória de Castello, mesmo sendo ele um dos presidentes menores em nossa história, é fundamental para entendermos não só esse homem, mas todo o momento que ele protagonizou e que foi primordial na construção do Brasil sem liberdades que veio a seguir. Nada na história se entende de forma isolada e sua trajetória faz parte do quebra-cabeças que moldou um país. Tanto na cabeça dos políticos quanto em uma sociedade que apoiava a tomada do poder pelos militares com medo da dominação do comunismo no Brasil. Assim aprendemos para não errar mais ou errar menos, porque a história, às vezes, se repete.

site: http://leitorcompulsivo.com.br/2020/03/10/resenha-castello-a-marcha-para-a-ditadura-lira-neto/
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Cristiano.Goes 22/03/2020

Castelo Branco
Comecei a ler Castello - A marcha para a ditadura no voo de volta de Madrid para Fortaleza. O prólogo é emocionante. Me apeguei à leitura sem parar um instante. Li mais de 300 páginas ininterruptamente na viagem, quase termino o livro. Conheci o Castello menino, o estudioso, o apaixonado, o herói de guerra, o estrategista, o piadista, o ditador, o implacável. Enfim, Lira Neto mais uma vez exagera na qualidade da narração. Um primor.
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Cheiro de Livro 24/01/2020

Castello
Lira Neto me conquistou com a trilogia sobre Getúlio Vargas. Quando vi nas livrarias no final do ano a biografia “Castello – Marcha para a Ditadura” fui logo comprando e ela acabou sendo a minha leitura de virada do ano. Conhecer mais e mais sobre o nosso passado como país e as figuras que tomaram decisões que nos trouxeram até aqui é sempre importante independente da sua visão sobre elas. Tenho que dizer que passar a virada do ano lendo sobre ditadura não foi das melhores escolhas em um período em que, essencialmente, falamos de esperança e desejamos boas coisas para o ano vindouro.

Humberto de Alencar Castello Branco foi o primeiro presidente da ditadura militar que aprisionou o país com 25 anos. Essa era, basicamente, a única informação que tinha sobre ele antes de começar a ler a biografia. O livro me deu uma outra perspectiva sobre Castello e ao mesmo tempo trouxe um desconforto enorme. Ler o livro e o jornal diário traz paralelos demais e me deu a sensação de estar vendo uma história sendo reeditada com todas as diferenças que a distancia no tempo impõe.

Ler sobre a vida de quem quer que seja transforma a pessoa em algo mais do que simplesmente pelo o que ela é famosa. Passa a ter todas as contradições de qualquer pessoa. Não fazia ideia de que ele tinha participado em campo da campanha brasileira na Segunda Guerra Mundial e que voltou com os pracinhas como um herói. Chega a ser engraçado como as escolhas que fez contradizem o que ele foi lutar contra na Itália.

Ler os textos de Castello durante as diversas crises institucionais que viveu é quase inacreditável. Ele escrevia contra a ditadura Vargas, contra a interferência militar no executivo. Em defesa dele quando se tornou presidente ele abandonou a farda, mas essa é a única defesa que consigo fazer.
O que mais me chamou atenção ao longo da leitura tem pouco a ver com Castello em si. Foi ver como alguém tão contrário a movimento ditatoriais se transformou em um conspirador que derrubou um governo e instalou uma ditadura. Como alguém que defendia a não intervenção acreditou que a solução para o país era expurgar as pessoas que ele acreditava ser a essência de todos os problemas da nação? A atitude “eu sei o que é bom para o país” e ir lá e eliminar quem quer que discordasse dele. Não é isso que estamos, com as devidas proporções, vivendo? A incapacidade de ouvir ou debater com o diferente? A ideia, cada vez mais difundida, de que pessoas com certas crenças tem que ser eliminadas? Só com essa eliminação o país é capaz de seguir o bom caminho, o que quer que seja esse bom caminho.

Castello chegou ao poder e uma vez lá abriu caminho para o pior de todos os caminhos. Perdeu as batalhas para a ala mais radical entre os golpistas. Na disputa com Costa e Silva perdeu todas e ao mesmo tempo limpou o terreno para os horrores que os anos subsequentes foram implementados. O medo e o horror de ver o país governado por um civil que ele não aprovava, no caso Carlos Lacerda ou Juscelino Kubitschek, fez com que fizesse tudo o que condenava quando mais jovem e estruturasse uma ditadura sanguinária que atrasou o país em décadas, deixou cicatrizes que até hoje não foram curadas e que, inacreditavelmente, volta a ser enaltecida.

Castello Branco não é assim um personagem tão interessante, mas sua vida levanta questões importantes e, mais, conhecer os personagens que construíram e ditaram os caminhos do país é sempre importante, na verdade, essencial para que não repitamos os mesmo erros.

site: https://cheirodelivro.com/castello/
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Paulo Sousa 07/12/2019

biografia de castello branco
Título lido: Castello - a marcha para a ditadura
Autor: Lira Neto
Lançamento: 2004
Esta edição: 2019
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 464
Classificação: 3.5/5

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"Quando a crise se instala, é hora de recorrer ao passado. Para pensarmos sobre o que estamos fazendo. E procurar pelas respostas apropriadas? (Posição no Kindle 177).
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lira neto tem construído bom renome como escritor biográfico. dono de um texto claro, límpido e esclarecedor, seu talento transforma em boa literatura assuntos de história costumeiramente ensinados ainda nos frios bancos escolares, mas que, sob sua pena, ganham uma robustez que faz o leitor querer se embrenhar sobre o biografado e as circunstâncias que o circundam.
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me lembro que foi exatamente com essa sanha por saber mais, atiçada após a leitura de ?Padre Cícero - poder, fé e guerra no sertão? e a excelente trilogia sobre Getúlio, que dele li também, que me prometi buscar mais que páginas sobre aqueles biografados, mas só consegui, até o momento, ir ao Catete, numa estada no Rio de Janeiro no já distante 2013, onde pude fotografar o quarto em que Getúlio se dera o tiro fatal (o início das gravações da série homônima impediu a entrada dos visitantes ao quarto). O que é até dicotômico, já que a terra de Padre Cícero é bem mais perto de onde vivo e tecnicamente mais acessível...
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nesta biografia, na verdade uma reedição do livro lançado em 2004, lira neto destrincha todos os fatos da vida do marechal humberto de alencar castello branco, o primeiro presidente militar do brasil, ascendido ao posto após um golpe que destituiu o então presidente joão goulart e instaurou o período ditatorial no país.
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com a prosa dinâmica tão típica em lira neto, acompanhamos o biografado desde sua infância em messejana, estado do ceará, até os difíceis anos de estudo em escolas militares pelo país, a passagem de castello por realengo, a então escola de formação de oficiais do exército (atualmente a aman, que fica em resende), a campanha da feb na segunda grande guerra, bem como toda a sua carreira militar e os anos de governo militar pós golpe de 64.
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a biografia de castello esquadrinha todos os âmbitos e meandros com que se concebeu os caminhos que levariam à deposição de um presidente eleito, o recrudescimento do regime diante a propalada iminência de uma alavancada do comunismo no país bem como a instituição dos atos que cerceariam as liberdades civis e institucionais no brasil, criando o ambiente para o continuísmo dos militares no poder, sob o falso auspício de garantir a manutenção da ordem. o livro avança até o início do governo do general arthur da costa e silva, fazendo rápida alusão aos seus sucessores militares que se mantiveram no poder até a redemocratização, em 1985. aborda, inclusive, o trágico (e cheio de inconsistências) acidente aéreo que ceifaria a vida do marechal.
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ler lira neto nunca decepciona. seus livros, muito mais que o retrato de um país repleto de incoerências e discrepâncias, são uma magna aula de como contar uma história de um país cheio de histórias para contar.
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Letícia 20/05/2019

Importante conhecer nossa história!
Lira Neto com seu estilo peculiar de contar histórias, traz nesse livro a vida de Castello Branco e todos os bastidores e também o início do período da Ditadura Militar. Através de ampla pesquisa em arquivos, documentos pessoais e fontes da época, Lira Neto reconstrói a trajetória dessa personagem tão ambígua e complexa desde a sua infância até a sua ascensão ao poder. Cobrindo desde 1897 até seus dias finais em 1967.


Nos mostra todos os bastidores e articulações do Golpe Civil Militar de 1964 e de como a instauração desse regime de exceção trouxe malefícios à tão jovem República Brasileira.

No período que antecede o golpe, uma passagem do livro me chamou a atenção:

"O avião sumiu-se nos céus e eu regressei, triste e preocupado, para casa. Será que tudo se acabou?" - esta seria a última anotação do diário de Anísio como ajudante-de-ordens de Castello. Nos quartéis, o que se comentava era que, de fato, para o velho e adoentado general, tudo havia mesmo acabado. Sem saúde, sem forças, sem comando e sem tropa, sua carreira teria chegado melancolicamente ao fim. Era um homem condenado a uma velhice obscura e solitária. Um soldado sem quartel e sem futuro. Poucos apostariam, naquele momento, que a história de Castello, na verdade, estivesse apenas começando." página 214

É fato que não podemos falar em repetição da história, mas a partir da leitura desse livro é inegável trazer à tona algumas preocupações com a democracia atualmente.

Vejamos esse outro trecho que ilustra bem:

"Enquanto tentava equilibrar os pratos naquele malabarismo diplomático, Castello enfrentava a fúria dos protestos estudantis, a maioria decorrente justamente do polêmico acordo entre o Ministério da Educação e a USAID, sigla da United States Agency of International Development. O acordo MEC-USAID, de junho de 1965, previa uma completa reforma universitária brasileira, com base no sistema educacional norte-americano, que previa o fim gradativo do ensino gratuito e, além disso, a ênfase em cursos tecnológicos em detrimento da área de humanidades. O governo argumentava que o país em desenvolvimento necessitava mais de engenheiros que de filósofos e sociólogos. Os estudantes reagiam e diziam que estavam sendo boicotados justamente os cursos que formavam os cidadãos mais conscientes e críticos." páginas 370 e 371

Recomendo muitíssimo a leitura para quem quer conhecer mais um pouco da história de seu próprio país.

site: http://www.minhastempestades.com.br/2019/05/castello-marcha-para-ditadura-lira-neto.html
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