Ju 13/02/2014Codinome VerityCodinome Verity se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a maior parte do livro não tem seu foco no que está acontecendo no momento. Isso porque nossa personagem principal é uma garota que está sendo mantida como prisioneira alemã na França. O avião em que estava sendo transportada sofreu um acidente, ela sobreviveu e até tentou cumprir a missão que a levou da Inglaterra até lá. Mas cometeu um erro muito bobo: olhou para o lado errado antes de atravessar a rua. Foi o suficiente para que fosse presa. E não posso dizer que a tenham tratado de forma muito gentil.
Mas a garota acaba fazendo um acordo. Em troca de algumas informações e da promessa de contar muito mais, tem suas roupas de volta (pois é...) e papel e caneta para escrever tudo o que souber que possa ajudar a Alemanha durante a guerra.
Por que eu me refiro a ela como "a garota"? Porque nomes é o que ela mais tem. Para falar sobre o livro para vocês, não é importante que eu conte quem ela é, nem o que planejava fazer ou tudo o que viveu para chegar até esse momento. O que interessa é que ela tem uma tarefa imediata. Precisa escrever. Escrever o máximo que conseguir. Enquanto ela tiver uma história para contar, vai continuar viva. A escrita é sua única distração e seu maior sofrimento. Ela sofre todo o tempo por estar passando preciosas informações para o inimigo. Sofre também porque, junto com ela no avião, estava sua melhor amiga, Maddie, a piloto. E ela não tem a menor ideia do que aconteceu com ela.
A diagramação do livro é simples, mas bem-feita. E eu amo a capa. Adorei essa ideia das letras cursivas nos braços das duas garotas, e isso se repete nas primeiras páginas do livro, antes do primeiro capítulo começar. Achei a fonte um pouco menor que o tamanho ideal, mas nada que tenha dificultado a leitura. Só considero mais confortável uma fonte maior.
Uma coisa que a gente sente desde o início é que a autora precisou fazer uma pesquisa imensa para escrever Codinome Verity. No final do livro, ela confirma isso. Eu não sabia que Elizabeth Wein é piloto, mas não acho que isso tenha facilitado muito a vida dela... rs... A autora precisou voltar no tempo e investigar como as coisas eram durante a guerra, o que existia e o que ela poderia tornar plausível com sua escrita, mesmo que não correspondesse exatamente à realidade. Acredito que ela tenha se saído muito bem. Não duvidei em nenhum momento de nenhum tipo de avião, nenhum campo de pouso, nenhuma técnica de voo aparentemente maluca. Entrei completamente na história e consegui visualizar tudo.
É um livro denso, claro. Afinal, é sobre a guerra, sobre aquela coisa odiosa em que as pessoas lutam às vezes sem nem entender direito porque estão lutando e, quando entendem, sem pensar seriamente sobre o motivo, já que com certeza nada justifica a imensa perda de vidas. Nada justifica pessoas perdendo tudo o que têm, inclusive a família, os amigos e até os conhecidos, para uma disputa por território ou por poder. Nada justifica ter que manter uma postura falsa 24 horas por dia apenas pela oportunidade de sobreviver. Enfim, não preciso falar mais sobre o quanto a guerra é uma coisa sem sentido.
Conhecemos muitas personagens. Todas elas fortes, muito bem escritas. Pessoas cheias de conflitos e que têm que aprender a conviver com o medo. A autora nos mostra o quanto a vida muda no meio de um conflito assim, tem uma cena no livro em que algumas crianças assistem sem querer a uma pessoa ser decapitada. Assim, sem mais nem menos. Estavam passando, viram a multidão, e não tiveram nem a oportunidade de virar o rosto para evitar o momento em que a guilhotina caiu.
"Eu não entendia antes, não entendia mesmo. Ser criança e ter medo que uma bomba possa lhe matar é terrível. Mas ser criança e ter medo que a polícia possa decepar sua cabeça é algo completamente diferente. Não tenho palavras para isso. Cada novo terror despedaçado é algo que eu não compreendia até chegar aqui."
A narrativa flui bem, mas não dá para ler rápido, são muitas informações para absorver. Nem tudo é o que parece. Na verdade, quase nada é o que parece. Vontades e atitudes inicialmente ocultas vão sendo reveladas no decorrer da narrativa.
As pessoas são levadas aos seus limites. Têm muito tirado delas e precisam encontrar forças para seguir em frente e para fazer algo de valor, por elas mesmas e pelos outros. Muita gente se arrisca por um ideal, mesmo que para alcançá-lo tenham que aceitar jogar um jogo triste e doloroso.
"É incrível o que se faz, sabendo que tem que fazer."
Espero que eu tenha conseguido demonstrar para vocês o quanto o livro mexeu comigo. Ele nos coloca para pensar o tempo todo. Só chorei bem no final, não deu para evitar, era muita emoção acumulada. Mas não é uma leitura sofrida. A garota é um tanto quanto irônica e atrevida, e não fica se lamentando, enfrenta seu destino da melhor maneira possível. Consegui manter um certo distanciamento dos fatos que ela narrava, coisa que ela mesma tentava fazer, contando sua história em terceira pessoa. Gostei bastante da leitura e um dia vou querer reler, para prestar atenção em alguns detalhes que conheço agora.
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