Ricardo Silas 09/06/2018
História na sala de aula
História na sala de aula, livro organizado por Leandro Karnal, reúne diversos artigos focados em auxiliar, de forma breve e básica, estudantes e professores de História na longa, difícil e às vezes frustante jornada que é a discência e a docência. A contribuição de destacados historiadores brasileiros que deu origem a esse livro oferece ao leitor a chance de conhecer algumas ferramentas críticas capazes de transformar o papel do professor na sistematização do conhecimento a ser trabalhado com seus alunos. Ao conquistarem a graduação, muitos desses profissionais encontram cenários desalentadores em escolas públicas e privadas em diferentes regiões do Brasil. Não é raro encontrar professores que exercem sua função em espaços ruinosos, com salários apertados e má remuneração, constrangidos por jornadas estressantes de aulas e de correções de provas e trabalhos, bem como outros obstáculos que, para aprofundar ainda mais o estado de desânimo do espírito da docência, os levam a lidar com crianças, adolescentes e jovens que perderam - ou ainda não tiveram a oportunidade de encontrar - o prazer pelo conhecimento e pela aprendizagem. Tudo isso, é claro, se aplica não somente à área de História, mas a tantas outras igualmente imprescindíveis à formação básica de milhões de brasileiros. Existem também entraves de ordem historiográfica presentes nos livros didáticos e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), responsáveis pela atualização dos conteúdos a serem abordados pelo professor ao longo do ano letivo, que dificultam a atuação do professor. É importante que os livros sejam periodicamente revisados e atualizados, mas, embora muitos não estejam, isso não serve de subterfúgio para o professor diminuir seu potencial de dar boas aulas. Por piores que sejam alguns livros didáticos, é possível desmistificá-los para suscitar temáticas estimulantes e criativas para os alunos. As principais críticas, contudo, demonstram que centenas de livros permanecem atrelados a concepções positivistas ou rankeanas da História, que alimentam a idealização de heróis nacionais, de seus grandes feitos e de acontecimentos. Os principais impactos disso é que os alunos, diante desse passado encarado de forma completamente alheia ao presente, se sentirão pequenos, deixando até de se enxergarem como sujeitos históricos com valor individual e coletivo. Para tentar responder a essas e tantas outras questões, nenhum dos autores apela para a ingênua e traiçoeira ilusão de que existe uma fórmula mágica com o poder solucionar os problemas que há décadas prejudicam o avanço da educação no Brasil. Os argumentos que se apresentam como soluções possíveis não são expressos sem o alerta de que, em parte, eles podem funcionar aqui mas não acolá; podem funcionar hoje mas não amanhã; podem funcionar ou ser trabalhados com esta turma mas não com aquela. A complexidade do processo educativo é imensa. Com esse livro, e com as propostas e ideias de abordagem de planejamento didático que ele apresenta, os professores e estudantes de História poderão refletir sobre a importância não só de seu trabalho, mas da própria legitimidade que o conhecimento histórico possui no intenso desafio de fazer do mundo um lugar melhor.