Jota Silvestre 22/08/2013
O que aconteceu aos quadrinhos?
O lançamento do encadernado de luxo Superman: O que aconteceu ao Homem de Aço é ao mesmo tempo oportunista e oportuno.
Deixando de lado o primeiro aspecto, comercial (não há nada de errado na Panini aproveitar o hype em cima do novo filme do herói), não deixa de ser interessante reler, em tempos de Novos 52, a HQ que marcou o fim de outra era dos quadrinhos.
As duas histórias que compõem O que aconteceu… foram publicadas originalmente em 1986, nas revistas Superman 423 e Action Comics 583, e representam oficialmente o encerramento da cronologia do Superman antes da reformulação que se seguiu à saga Crise nas Infinitas Terras.
Representam também o desligamento de dois importantes nomes da indústria dos quadrinhos: Julius Schwartz, o homem que reinventou o gênero de super-heróis com a Era de Prata, e Curt Swan, artista que trabalhou com o Superman por mais de três décadas.
O roteiro de Alan Moore para a “última história” do primeiro super-herói não é menos que genial. Estranhos acontecimentos – Bizarro torna-se um monstro assassino, a identidade secreta de Clark Kent é exposta publicamente, e antigos inimigos ameaçam as pessoas próximas a ele – são o prenúncio de que a carreira e a vida do Superman estão próximas do fim.
Tudo isso é contado em flashback por Lois Lane, agora uma jornalista aposentada, levando uma vida pacata ao lado do marido e do filho. Vários personagens e elementos da Era de Prata são resgatados e a arte de Swan encarrega-se de recriar o clima das antigas histórias.
Entrincheirado na Fortaleza da Solidão e depois de ver muitos amigos perecerem, o Homem de Aço finalmente descobre a mente por trás de tudo: Mxyzptlk, o duende da Quinta Dimensão – não mais um fanfarrão de chapéu coco, mas sim uma maligna e vingativa entidade.
Ao final, Superman vê-se obrigado a quebrar seu antigo juramento de jamais tirar uma vida, qualquer vida. Isso é suficiente para que ele se banhe de radiação de kryptonita dourada – que remove permanentemente todos seus superpoderes – e desaparecer para sempre.
O que aconteceu… é, na forma e na essência, o fim do mito recriado nos anos 1950 e a transição da Era de Bronze dos quadrinhos para a chamada Era Moderna (ou Era das Trevas) iniciada nos 80. É o Canto do Cisne do primeiro e maior super-herói dos quadrinhos e também de seu mais longevo artista. É um final digno para um personagem que marcou mais de uma geração de leitores.
O que surgiu após a Crise nas Infinitas Terras pelas mãos do escritor e artista John Byrne foi um Superman remodelado, mais humano, menos poderoso e mais adaptado àquela época. As mudanças – e não foram poucas – agradaram os novos e antigos leitores porque, no fundo, a essência do personagem permaneceu intacta.
Por sua importância para o gênero, Superman merecia ter ganhado um novo “o que aconteceu” na transição para o universo Novos 52. Muito mais do que na fase Byrne, o herói que emergiu da sofrível saga Ponto de Ignição pode, sim, ser considerado algo totalmente novo – no uniforme, na origem, na personalidade, no elenco de apoio.
Mas a DC teve que fazer tudo tão às pressas que sequer teve tempo de homenageá-lo dignamente. Todos perdemos com isto.
O encadernado da Panini traz ainda duas ótimas histórias do Superman escritas por Alan Moore: A linha da Selva e Para o Homem que Tem Tudo – de menor importância se comparadas a O que aconteceu…, mas ainda assim relevantes na trajetória do personagem.
Superman – O que aconteceu ao Homem de Aço tem 132 páginas, capa dura e preço convidativo de R$ 19,90. Essencial para os fãs compreenderem como os heróis dos quadrinhos eram tratados não tão antigamente assim e se perguntarem: O que aconteceu aos quadrinhos?
site: http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/papodequadrinho/2013/07/13/resenha-o-que-aconteceu-ao-homem-de-aco-e-aos-quadrinhos/