Lusia.Nicolino 10/04/2021
De uma sensibilidade ímpar
De uma sensibilidade ímpar, A luz difícil ilumina o que anda escondido em nós através de uma história simples de ser narrada, difícil de ser vivida.
Leitura para poucas horas, David, nosso personagem narrador, recapitula sua vida, suas conquistas e sua dolorosa perda, porque sim, Jacobo, seu filho mais velho, decidiu morrer.
Passados quase vinte anos desse episódio, entre telas que pintou, flores que cultivou, cidades em que viveu, passado e presente vão se alternando, entremeando sutilezas, rudezas, alegrias e tristezas.
É possível rir com David, chorar com Sara e vice-versa. É possível caminhar pelas ruas de Nova Iorque e cuidar para não despencar no precipício atrás do pomar em La Mesa de Juan Díaz, na Colômbia.
Entre o cobertor elétrico e a cerveja gelada do fim do dia, a música e a luz que se esvai, González explora, através de David, a proximidade dos opostos, o silêncio que grita e as palavras que calam. Talvez Cristóbal é quem mais resuma a distância entre os opostos. Você precisa se deixar envolver! Oh man!
Quote: "Quem me dera ser crente, pensei, para ir agora mesmo a alguma igreja, me confessar, embora nem saiba de quê, rezar. Como eu queria ter meus deuses tutelares, pensei, para lhes sacrificar algum coelho, dedicar-lhes incensos de espessa fumaça, dar-lhes frutas, oferecer-lhes flores. Mas não havia Virgem para mim, nem deuses tutelares. Para mim só havia aquelas nuvens, aqueles pombos que acabavam de passar, aquelas árvores, aquela gritante vacuidade, aquele lugar cujas bordas não podemos apontar, aquele roseiral florido, aquela abundância inenarrável remexida pelo tempo e harmoniosa sem interrupção, tanto quando era feliz como quando era horrenda."