bardo 30/03/2024
Pinóquio de Winshluss é provavelmente um dos quadrinhos mais bizarros e perturbadores que já li, como não li o texto original de Carlo Collodi não consigo pescar todas as referências ao original, mas sei que são muitas. Ao mesmo tempo Winshluss atualiza a história, acrescentando elementos muito reconhecíveis para nós.
Para os incautos que só conheceram a versão fofinha da Disney, tirem as crianças da sala, porque aqui temos um quadrinho para adultos: leitores infantilizados, pudicos e falso moralistas vão ter um ataque de pelanca já nas primeiras páginas. E não a coisa não suaviza, mas escala ainda mais.
O autor passeia por referências vindas das fábulas, da Bíblia e até da cultura pop, com um humor que na falta de termo melhor pode ser descrito como macabro. É um humor cru, pesado onde o leitor se vê rindo mas com um certo desconforto.
É bastante difícil cravar sobre qual tema Winshluss se debruça aqui, o humor sarcástico e debochado atira em várias direções, não poupando ninguém. Arte, política, religião, família, para cada uma das facetas sociais temos uma paródia aqui.
Chama a atenção de que o quadrinho é belíssimo, mesmo nos traços mais grosseiros é um traçado extremamente elaborado, que contrasta totalmente com o quê é narrado, que varia do bizarro ao francamente grotesco.
As diversas narrativas parecem desconectadas, mas aos poucos tudo vai fazendo sentido e novamente percebemos o humor peculiar do autor. O final do protagonista é um soco no estômago e talvez o leitor desatento deixe passar a sutil ironia final deixada ali. O final do nosso “Grilo Falante” por outro lado quebra um pouco esse mal estar. Aliás vale dizer que temos uma cena envolvendo esse personagem e Dostoiévski que é sensacional.
Pinóquio de Winshluss portanto, é uma graphic extremamente engenhosa, mas que dado ao seu teor adulto definitivamente não é para todos. Com certeza alguns leitores vão se sentir insultados ao se verem retratados impiedosamente pelo autor.